Uma equipa internacional, liderada pelo investigador João Faria, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro) e do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), usou o espectrógrafo ESPRESSO, instalado no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), para detetar um novo planeta à volta de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol.

Proxima d demora apenas cinco dias a completar uma órbita e está a uma distância da sua estrela de cerca de um décimo da distância entre Mercúrio e o Sol. Com apenas um quarto da massa da Terra, o efeito gravítico do planeta na estrela é tão pequeno que provoca um movimento em Proxima Centauri de apenas 40 centímetros por segundo (ou 1,44 quilómetros por hora). Este torna-se o exoplaneta menos massivo detetado até agora com o método das velocidades radiais.

“Esta descoberta mostra que a estrela mais próxima parece albergar vários planetas parecidos com a Terra, que poderão vir a ser estudados em detalhe ou, quem sabe até visitados no futuro”, revela João Faria, o primeiro autor do artigo agora publicado na revista Astonomy & Astrophysics.

Já no verão passado, um exoplaneta com metade da massa de Vénus em órbita da estrela L98-59, tinha sido descoberto por uma equipa liderada pelo investigador do IAstro Olivier Demangeon, demonstrando que o ESPRESSO é sensível a planetas de muito pequena massa. Mas a deteção de Proxima d só foi possível graças a um novo método de análise de dados, que tem vindo a ser desenvolvido pelo estudante de doutoramento do IAstro, André Silva. Este método permite extrair ainda mais informação dos espectros observados com o ESPRESSO, o que resulta numa maior precisão na medição da velocidade radial

“Esta façanha é extremamente importante, porque mostra que o método das velocidades radiais tem potencial para revelar uma população de exoplanetas ‘leves’ como o nosso, que se pensa serem os mais abundantes na nossa galáxia e que, potencialmente, podem albergar vida como nós a conhecemos”, acrescenta Pedro Figueira (IAstro), cientista do instrumento ESPRESSO no ESO.

À volta de Proxima Centauri já eram conhecidos outros dois planetas: o primeiro, Proxima b, com uma massa semelhante à da Terra, orbita na zona de habitabilidade da estrela e o segundo, o candidato a planeta Proxima c, com uma longa órbita de cinco anos.

Este mapa mostra a constelação austral do Centauro. A localização da estrela mais próxima do Sistema Solar, Proxima Centauri, está marcada com um círculo vermelho. (Crédito: ESO/IAU e Sky & Telescope)

Proxima b foi detetado em 2016 com o espectrógrafo HARPS, instalado no telescópio de 3,6 metros do ESO e confirmado em 2020, com o ESPRESSO. Os dados usados em 2020 mostravam já alguns indícios de um sinal consistente com um planeta, com um período de cinco dias, mas este era demasiado fraco para descartar atividade da própria estrela. Depois de uma nova campanha de observação em 2021, tornou-se claro que a melhor explicação seria a presença de um terceiro exoplaneta.

Portugal em modo ESPRESSO

Para Alexandre Cabral, o investigador responsável pela equipa de Instrumentação e Sistemas para Astronomia do IAstro, este resultado demonstra não só a qualidade da investigação realizada no instituto, mas também a” importância da participação na construção do ESPRESSO, permitindo-nos ter acesso privilegiado aquele que é neste momento o espectrógrafo mais avançado no estudo de exoplanetas”.

“Até a última década do século passado, conhecíamos apenas os planetas do nosso próprio sistema solar. É fascinante ver que a participação de Portugal no ESO permite aos cientistas, engenheiros e engenheiras de instituições portuguesas participar em projetos internacionais de impacto como o ESPRESSO que contribuem para a descoberta de outros mundos e para a compreensão das nossas origens cósmicas”, comenta por sua vez Cláudio Melo, da Portugal Space.

A estratégia do IAstro nesta área, atualmente em plena implementação com o espectrógrafo ESPRESSO, irá continuar durante os próximos anos, com o lançamento do telescópio espacial PLATO (ESA) em 2026, da missão ARIEL (ESA) em 2029, e da instalação do espectrógrafo HIRES no maior telescópio da próxima geração, o ELT (ESO), previsto para entrar em funcionamento em 2030.