A 3.ª edição do Prémio de Inovação em Saúde – i3S Health Innovation Prize, este ano interiramente dedicado a encontrar soluções no combate ao SARS-CoV-2, distinguiu quatro projetos inovadores nas áreas da prevenção, monotorização da doença, tratamento e proteção contra o novo coronavírus causador da Covid-19.

Entre os projetos premiados inclui-se um revestimento nanotecnológico para tornar as superfícies antivirais, ou um dispositivo médico para a monitorização da tosse de doentes. A lista de vencedores inclui ainda uma terapia contra a sépsis (uma inflamação descontrolada amplamente presente em pessoas que faleceram com Covid-19) à base de uma proteína natural humana; e uma plataforma de desenvolvimento de anticorpos neutralizantes contra SARS-CoV-2 para serem utilizados, por exemplo, num BioSpray Anti-Coronavírus.

Nanotecnologia “anti-vírus”

Dos quatro projetos destacados, destaca-se o «Nanotecnología antiviral para superficies e filtros de ar cerâmicos», apresentado pela startup Smart Separations e vencedor do i3S Health Innovation Prize, atribuído pelo i3S, Vallis Capital, Câmara Municipal do Porto e TECNIMEDE, no valor de 20 mil euros, mais um valor idêntico em serviços de apoio à inovação, patrocinados pelo programa de aceleração Resolve-Health, também do i3S. Este mesmo projeto conquistou também o prémio da empresa de patentes Patentree e três inscrições no programa de formação para executivos “Future Leaders” atribuídos pela Porto Business School.

Como explica Hugo Macedo, CEO da Smart Separations, o projeto premiado consiste num “revestimento nanotecnológico com propriedades antimicrobianas que consegue destruir não só vírus do tipo betacoronavírus, como o SARS-CoV-2, mas também outros vírus, bactérias e fungos em segundos”. Este revestimento pode igualmente “ser incorporado numa gama alargada de materiais, incluindo madeira, metal, tecido e filtros de ar cerâmicos”, podendo ainda ser “facilmente aplicado a várias superfícies de contacto frequente”.

O empresário lembra ainda que a solução desenvolvida “é particularmente útil em locais frequentados por um elevado número de pessoas onde o risco de transmissão por superfícies contaminadas e ar é alto, como é o caso de escolas, hospitais, lares, transportes públicos, escritórios e fábricas”.

Sobre a conquista do i3S Health Innovation Prize e dos restantes galardões, Hugo Macedo considera estes prémios vão “contribuir para desenvolver superfícies antivirais que permitirão, de forma mais sustentável, reduzir significativamente a transmissão de microorganismos patogénicos, como o coronavirus. Com os parceiros deste prémio, a Smart Separations irá efetuar estudos de eficácia e segurança da sua tecnologia e estabelecer parcerias que permitirão acelerar a chegada ao mercado desta tecnologia inovadora”.

Além disso, sublinha o CEO da empresa, é “uma honra receber este prémio e ver reconhecido o trabalho que a equipa da Smart Separations tem vindo a fazer, especialmente num período tão desafiante como o que vivemos atualmente. Ficamos ainda mais motivados para continuarmos focados na visão da nossa empresa – «Melhorar a Qualidade de Vida Através da Inovação»”.

O que nos “diz” a tosse

Com o projeto «C-mo, um dispositivo médico para a avaliação da tosse de doentes no dia-a-dia», a startup «C-mo Medical Solutions», também o  Porto Business School Award (duas inscrições no no programa de formação para executivos “Future Leaders”, que se realiza em dezembro).

Sara Lobo, co-fundadora da startup, explica que “o C-mo é um dispositivo médico wearable que faz a monitorização automática das características distintivas da tosse no dia-a-dia do doente, tal como a sua frequência, o tipo (seca ou produtiva, com ou sem pieira) e padrões de tosse associados”. Essa “capacidade de relacionar a tosse com parâmetros fisiológicos relevantes, tais como a temperatura corporal, permite aos médicos obter informações extremamente valiosas, que são particularmente importantes durante esta pandemia dada a premência de se expandir o conhecimento sobre a COVID-19”.

A tosse, como sublinha a investigadora, “é um sintoma altamente rico em informação fisiopatológica relevante, mas até agora essa informação estava fora do alcance dos médicos dada a considerável imprecisão que advêm das descrições subjetivas dos pacientes. Deste modo, em termos práticos, o C-mo permite diagnósticos mais precisos e a prescrição de tratamentos mais customizados e em função do quadro clínico do doente”.

Neste contexto da COVID-19, acrescenta Sara Lobo, o C-mo permite «acompanhar a recuperação dos doentes e consequentemente detetar deteriorações com grande antecedência. Além disso, acrescenta “é também uma ferramenta valiosa para avaliar a eficácia de tratamentos para a COVID-19 e muitas outras doenças respiratórias, tanto na prática clínica como em ensaios clínicos”.

Prémio BfK Awards ficou em “casa”

Já o prémio Born from Knowledge (BfK) Awards, atribuído pela Agência Nacional de Inovação (ANI), foi atribuído ao projeto «O recetor biológico Spα como agente terapêutico contra a infeção e sépsis na COVID-19», liderado pelo investigador do i3S, Alexandre Carmo. E

mbora passe despercebido do público em geral, a sépsis é diretamente responsável por quase 20 % dos óbitos em todo o mundo, sendo a principal causa de morte em unidades de cuidados intensivos e a terceira em hospitais. Em vários tipos de infeções, e sobretudo em pessoas com a imunidade debilitada ou comprometida, o sistema imune pode reagir desproporcionadamente, de tal forma que a resposta inflamatória desencadeada torna-se incontrolável e provoca mais danos do que o agente infecioso propriamente dito.

A sépsis é precisamente o termo mais generalizado para estas inflamações sistémicas severas e que se pode tornar particularmente mortal depois de se passar o estadio em que as terapias antimicrobianas (antibióticos, antivirais, etc.) pudessem surtir algum efeito. No caso da COVID-19,  e como explica Alexandre Carmos, “é talvez a sépsis, mais do que a insuficiência respiratória, a manifestação mais frequente em pacientes hospitalizados com infeção por SARS-CoV-2, sendo por exemplo a única complicação que afetou 100% de todos os não sobreviventes em Wuhan. Isto é, a totalidade das pessoas que faleceram tinham desenvolvido sépsis”.

Uma vez que ainda não existe nenhuma terapia totalmente eficaz contra a sépsis, o grupo liderado pelo investigador do i3S “tem-se centrado no desenvolvimento de uma tal “terapia utilizando uma proteína natural humana, designada Spα, que combina duas características medicinais muito relevantes: um grande espectro antimicrobiano e propriedades anti-inflamatórias muito significativas”.

Segundo Alexandre Carmo, “a terapia agora proposta pretende atacar não a causa, mas sim a consequência da infeção por SARS-CoV-2. Tem a grande vantagem de, sendo eficaz, poder vir a ser utilizada como terapia para quaisquer surtos futuros provocados por novos vírus ou outros patogénios ainda por ora desconhecidos”.

Ovos de galinha com anticorpos

Por fim, o projeto «Anticorpos IgY neutralizantes contra SARS-CoV-2 produzidos de ovos de galinha» (ASY-NAbs) proposto por investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC) – Ricardo S. Vieira-Pires, Luís Pereira de Almeida, Rui Nobre e Tiago Ochôa-Pires – conquistou o «Esfera Cúbica Award».

“O nosso objetivo”, explica Ricardo Vieira-Pires, “é o desenvolvimento de baixo custo e escalonável de anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2, produzidos em ovos de galinha”.

Estes anticorpos Anti-SARS-CoV-2 purificados de ovo, adianta o investigador, “serão a base para diversos bioprodutos de controlo e prevenção da COVID-19. Entre estes, está um BioSpray Anti-Coronavírus capaz de neutralizar a carga viral em superfícies, podendo ser aplicado, por exemplo, em equipamentos de proteção individual, como máscaras e batas”.

Alternativamente, acrescenta ainda Ricardo Vieira-Pires, “estes anticorpos neutralizantes poderão estar na base de novos (princípios ativos farmacêuticos para desenvolvimentos de) biofármacos de passivação viral a nível do trato respiratório”.