Paula Tamagnini, Paula Melo e Ruth Pereira integram a equipa do projeto GreenRehab. (Foto: i3S)

O primeiro concurso de investigação em fogos florestais lançado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) aprovou um único projeto na área de «Restauro pós-fogo e gestão florestal». Denominado GreenRehab, o projeto é liderado por Paula Tamagnini, investigadora do Instituto de Investigação e inovação em Saúde (i3S) e docente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e propõe o desenvolvimento de um sistema a baixo custo, ecológico e de fácil implementação para a reabilitação de solos queimados.

Em 2017, vários municípios foram afetados por incêndios que, para além dos enormes danos humanos e materiais, causaram um impacto profundo no património florestal, mas também ambiental, já que os solos ficaram degradados e vulneráveis à erosão sobretudo por escorrências superficiais. É neste contexto que o i3S, em colaboração com a Câmara Municipal de Mortágua e de dois outros centros de investigação da Universidade do Porto – GreenUPorto/FCUP e CIBIO-InBIO – ,”visa desenvolver um sistema para a reabilitação rápida e controlada de solos queimados, através da aplicação de cianobactérias e microalgas, que irão funcionar como espécies pioneiras e iniciar/acelerar a formação de crostas biológicas do solo, criando as condições para o estabelecimento das comunidades de plantas vasculares, entre outras”, explica Paula Tamagnini.

A investigadora Paula Melo, do GreenUPorto/FCUP, esclarece ainda que «o consórcio de microrganismos selecionado pelas propriedades promotoras do crescimento das plantas e de melhoria da estrutura do solo irá travar a erosão e atuar como biofertilizante, promovendo a produtividade dos solos e acelerando a sua recolonização após o fogo».

Os investigadores vão fazer o primeiro levantamento sistemático de cianobactérias e microalgas presentes nos solos portugueses. (Foto. DR)

O projeto, que terá uma duração de três anos e contará com um financiamento de 180 mil euros da FCT, vai arrancar ainda este mês de março, em Mortágua, um dos concelhos mais afetados pelos fogos que atingiram Portugal nos últimos anos. Numa primeira fase será feita a recolha de crostas de solos de regiões próximas das áreas queimadas para isolamento das cianobactérias e microalgas. Estes microrganismos serão depois testados de modo a selecionar os que possuem características adequadas para o melhoramento de solos e para favorecer o crescimento de plantas e, só em 2020, os microrganismos selecionados serão cultivados em larga escala (em colaboração com um parceiro industrial – A4F) para obter a biomassa necessária para testar em áreas queimadas restritas do concelho de Mortágua, que irão servir como piloto.

Após a inoculação dos solos serão avaliadas as suas propriedades, o restabelecimento da comunidade microbiana, e a recuperação da fauna e da vegetação. A investigadora Ruth Pereira, do GreenUPorto/FCUP, irá liderar a equipa responsável pelo acompanhamento da evolução das propriedades dos solos inoculados em termos da sua funcionalidade e biodiversidade da comunidade edáfica. Já João Honrado, do CIBIO-InBIO, será responsável pela avaliação da densidade da cobertura vegetal e diversidade da estrutura das comunidades de plantas. O restabelecimento pós-fogo do ecossistema será avaliado a partir de dados in situ combinados com processamento de imagens de observação da Terra (obtidas por satélite e drone).

A Câmara Municipal de Mortágua, por seu lado, irá facilitar o acesso a áreas queimadas e áreas circundantes para a recolha de amostras de solo, disponibilizar terrenos para a inoculação e fornecerá igualmente as condições necessárias para a monitorização, bem como tanques onde possam ser armazenadas/cultivados os microorganismos.

O GreenRehab reúne uma equipa multidisciplinar constituída por especialistas em microbiologia molecular, qualidade de solos, fisiologia vegetal e ecologia de diferentes unidades de investigação, que, em sinergia, vão fazer «o primeiro levantamento sistemático de cianobactérias e microalgas presentes nos solos portugueses». Esta abordagem, acreditam as investigadoras principais, Paula Tamagnini e Paula Melo, «pode, no futuro, ser aplicada a outras áreas de Portugal e/ou a outras regiões do globo». Com o «GreenRehab, a equipa pretende também «contribuir para implementar uma colaboração entre a academia, a indústria e as autoridades locais, uma estratégia que nos parece fundamental para o setor florestal português».