Uma equipa de cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), liderada pela investigadora Margarida Saraiva, avaliou de forma detalhada o curso da infeção provocada por três variantes do vírus SARS-CoV2 – causador da Covid-19 – em modelos de ratinho.

Os resultados, agora publicados na revista iScience, comprovam que a variante Alfa é associada com a doença mais severa, seguindo-se depois a Delta, e finalmente a Ómicron. O mesmo trabalho mostra que, para além dos pulmões, estas variantes afetaram outros órgãos fundamentais do sistema imunitário, nomeadamente a medula óssea e o timo.

Este trabalho, que incluiu também as equipas do i3S lideradas por Nuno Alves («Thymus Development and Function») e por Sofia Lamas («Animal Facility»), bem como o investigador  Pedro Madureira, da Immunethep, reforça estudos anteriores que mostraram que as variantes do SARS-CoV-2 têm um papel importante na severidade da doença e que a severidade tem vindo a diminuir com a evolução natural do vírus.

Para além de uma descrição detalhada dos parâmetros clínicos a usar neste modelo animal ao avaliar a severidade da infeção, este trabalho estabelece uma relação entre estes parâmetros e o sistema imune.

O pulmão, explica Margarida Saraiva, “foi inicialmente o órgão alvo do nosso estudo e verificámos que os danos no tecido provocados pelas variantes Alfa e Delta são substanciais e acompanhados por uma resposta imune mais agressiva. No entanto, com a variante Ómicron, existe um alívio da resposta imunitária pulmonar”.

Para além disso, continua, “decidimos estudar também outros órgãos e, neste processo, percebemos que nas infeções mais severas, nomeadamente nas infeções causadas pela variante Alfa, o timo é muito afetado, sofrendo uma atrofia”. Isto significa que a sua função, ligada às células do sistema imune chamadas linfócitos T, que combatem as infeções, poderá ficar condicionada na fase pós-Covid19.

A equipa liderada por Margarida Saraiva (a quarta na foto a contar da esq.) sublinha que os resultados são importantes para definir terapias para infeções graves causadas pelo SARS-CoV-2. (Foto: i3S)

A equipa de investigadores analisou também a medula óssea, que é muito importante para o sistema imunitário, e concluiu que nos casos das infeções com as variantes Alfa e Delta há uma produção excessiva de células mieloides (células com potencial patológico).

“A medula óssea é tão mais afetada quanto maior for a severidade da infeção, provavelmente amplificando essa severidade”, acrescenta Margarida Saraiva.

De acordo com a investigadora, este trabalho, que foi financiado pela BSAC- British Society for Antimicrobial Chemotherapy, «”sugere que o impacto da infeção causadora de COVID-19 realmente ultrapassa o pulmão, e isto deve ser tido em conta ao definir terapias para responder a infeções graves causadas pelo SARS-CoV-2, nomeadamente para tentar acelerar a recuperação do paciente”, conclui Margarida Saraiva.