O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto acaba de ver aprovadas pelas Comissão Europeia quatro candidaturas ao programa Widening do Horizonte 2020, mais concretamente três ERA Chairs e um projeto Twinning, num financiamento global que ascende aos 8,5 milhões de euros.

As três ERA Chairs aprovadas, no valor de quase 2,5 milhões de euros cada uma, pressupõem a constituição de três novas equipas de excelência nas áreas da imunologia, neurobiologia e bioengenharia molecular. Quanto ao projeto Twinning, no valor de 900 mil euros (para três anos), irá reforçar as competências do i3S na área de separação de fases de biomoléculas, aplicada ao estudo de doenças associadas ao envelhecimento.

Para o diretor do i3S, Claudio Sunkel, a aprovação inédita de tantas candidaturas europeias “mostra que somos competitivos a nível internacional”. Por outro lado, permitirá “alavancar a qualidade científica do i3S, atraindo e mantendo recursos humanos altamente qualificados, e reforçar a nossa posição na vanguarda da investigação biomédica básica e de translação realizada a nível mundial”.

Plataforma de excelência na área da Imunologia

A ERA Chair na área da imunologia, denominada ImmunoHUB, permitirá recrutar um(a) prestigiado(a) cientista de valor internacional, assim como a sua equipa de investigação, para trabalhar em áreas emergentes, mas não consolidadas no i3S, como por exemplo o desenvolvimento imunológico, imunologia tumoral, inflamação ou patogénese.

A relevância do sistema imunitário está plasmada no facto de que uma ineficaz ou desregulada resposta imune estar frequentemente associada ao aparecimento de doenças infeciosas, autoimunidade, cancro e doenças degenerativas. Estas patologias, como sublinham Nuno Alves e Margarida Saraiva, que lideraram a equipa que escreveu a candidatura, “são estudadas ao nível celular e molecular nos três programas científicos do i3S, o que torna a Imunologia um pilar de interesse transversal no nosso instituto”.

Para além de permitir “criar uma plataforma de excelência na área da Imunologia no i3S», os dois investigadores acreditam ainda que “esta ação irá promover colaborações com os grupos de investigação do instituto, aumentado o nosso sucesso global”.

Ao nível da formação, acrescentam, o ImmunoHUB “traz a possibilidade de organizar uma série de seminários, workshops e cursos, que não só beneficiarão os membros da comunidade i3S, mas também todo o ecossistema da Universidade do Porto”.

Uma referência europeia em Bioengenharia Molecular

O projeto MOBILIsE, outra das ERA Chairs conquistadas, permitirá a contratação de uma equipa de investigação de excelência em Bioengenharia Molecular “focada na medicina de precisão, nomeadamente em terapias específicas e no diagnóstico molecular, e criará um ambiente de investigação sinérgico e coeso entre as principais partes interessadas (academia, institutos de investigação, clínicos e indústria) na região do Porto”.

Segundo Fernando Jorge Monteiro, o MOBILIsE «vai impulsionar a translação do desenho de novos alvos moleculares para a criação de ferramentas e terapias de diagnóstico direcionadas para os grandes desafios da saúde, com especial enfoque no cancro, infeção, doenças neurodegenerativas e reparação/regeneração de tecidos, que são as áreas-chave do i3S».

O projeto MOBILIsE é, por isso, segundo o investigador, “crucial para aumentar o nosso potencial de investigação e inovação na área da medicina de precisão, permitindo a acumulação de massa crítica no campo da Bioengenharia Molecular, impulsionando a instituição para uma excelência de investigação sustentada e integrativa”. Fernando Jorge Monteiro não tem, por isso, grandes dúvidas: «Julgo que tornará o i3S numa referência europeia em Bioengenharia Molecular».

Novo grupo na área da Neurobiologia

Denominada NCBIO, a ERA Chair na área Neurobiologia, que foi coordenada pela investigadora Mónica Sousa, vai permitir ao i3S «atrair um novo líder de grupo na área da biologia das células neurais, dando-lhe condições para financiar os salários da sua equipa de investigação. Esperamos que a existência de um excelente grupo de investigação nesta área básica das neurociências, traga benefícios a todos os grupos de investigação em neurociências e não só».

Este projeto, adianta a investigadora, tem ainda como objetivo “criar uma nova interface no i3S na área das neurociências que envolva diferentes stakeholders, desde investigadores, clínicos, doentes até à industria farmacêutica”.

Mónica Sousa faz ainda questão de sublinhar que “só foi possível ver esta candidatura aprovada com a ajuda de vários membros do i3S”.

Reforçar o conhecimento sobre com envelhecemos

Quanto à recém-aprovada candidatura a um projeto Twinning, denominada PhasAGE: Excellence Hub on Phase Transitions in Aging and Age-Related Disorders, liderada pela investigadora Sandra Macedo Ribeiro, envolve quatro instituições europeias: i3S (que coordena), Universidade de Pádua, Universidade Autónoma de Barcelona e o Instituto de Biotecnologia da Flandres (VIB).

No âmbito deste projeto, esclarece a investigadora do i3S, “estão planeados cursos práticos para reforçar o conhecimento do i3S nesta área [do envelhecimento], desenvolvimento de protocolos para o estudo de mecanismos de separação de fases de biomoléculas transversais a várias áreas de investigação, formação técnica e científica de jovens investigadores e organização de congressos internacionais”.

Na liderança nacional

Com as três ERA Chairs agora aprovadas pela Comissão Europeia, o i3S garante também o lugar cimeiro lugar entre as instituições nacionais que mais financiamento garantiram no âmbito do programa europeu Spreading Excellence and Widening Participation.

Das 69 propostas apresentadas por investigadores nacionais, apenas 22 foram aprovadas (com um financiamento total de cerca de 34 milhões de euros), a maioria das quais provenientes da Região Norte e centradas nas áreas da saúde e engenharia. Portugal regista ainda uma taxa de sucesso – 32% – superior à média da União Europeia, que se ficou nos 18%.