O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) acaba de ver aprovado, no âmbito dos apoios às infraestruturas científicas e projetos de Investigação recentemente aprovados pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), um financiamento superior a 15 milhões de euros, a aplicar dois projetos na área do cancro que permitirão dar uma resposta mais rápida e personalizada ao doente oncológico e identificar os mecanismos moleculares que causam resistência à terapia.

Da verba a atribuir ao abrigo do programa Norte 2020, a maior parte – cerca de 15 milhões de euros – será canalizada para o projeto de investigação “TeamUp4Cancer”, a implementar, ao longo dos próximos dois anos, pelo Porto Comprehensive Cancer Center (P.CCC), um consórcio que junta o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) e o i3S.

Este projeto pioneiro em Portugal pretende encurtar o ciclo de descoberta científica em cancro, aproximando a investigação básica e a prática clínica, através da aplicação de tecnologia de ponta e exploração de ensaios clínicos de fase precoce. O objetivo passa por obter benefícios concretos para o doente oncológico e o desenvolvimento mais célere de novas armas terapêuticas contra o cancro.

Mais concretamente, os investigadores envolvidos no “TeamUp4Cancer” vão procurar desenvolver modelos experimentais in vitro para auxiliar no tratamento do doente, validar e explorar novos biomarcadores em tecidos tumorais, sangue e outras amostras de tecidos e acelerar estudos pré-clínicos, facilitando a transição para os estudos clínicos de fase inicial.

“No âmbito da implementação do projeto, é expectável que sejam anualmente elegíveis para pré-screening molecular um total de 200 a 300 doentes oncológicos, com diversos tipos de cancro. De acordo com a literatura e a experiência por nós acumulada, esperamos que 10-20% deles possam beneficiar de inclusão em ensaios clínicos de fase precoce”, antecipa Rui Henrique, coordenador do consórcio e Presidente do IPO Porto, adiantando que a mesma caraterização será útil para um ainda maior número de doentes potencialmente elegíveis para ensaios clínicos de fases mais avançadas.

“Uma oportunidade única para fazer ciência com impacto nos doentes com cancro”

O principal investimento do projeto incidirá na aquisição de equipamentos de ponta, na contratação de recursos humanos altamente qualificados e na adequação de infraestruturas clínicas e laboratoriais para apoio à realização de ensaios clínicos de fase precoce. O programa prevê, ainda, incrementar o número de startups e spin-offs, contribuindo para a disseminação de tecnologia e retorno deste investimento, em especial na Região Norte.

“A implementação de novos equipamentos e infraestruturas no âmbito do P.CCC vai criar novas oportunidades de fazer investigação de ponta em cancro com a preocupação de conhecer melhor as bases biológicas desta doença, transferir esse conhecimento para novas ferramentas de rastreio e diagnóstico precoce de cancro e desenvolver novas terapias, assim como novas estratégias de acompanhamento e tratamento dos doentes”, sublinha Claudio Sunkel, diretor do i3S.

Raquel Seruca, coordenadora da candidatura aos fundos do Norte2020 por parte do i3S, sublinha que esta “é a primeira vez em Portugal que vamos poder cumprir todo o ciclo que vai desde a identificação dos mecanismos alterados nas células tumorais até aos ensaios clínicos baseados no conhecimento profundo dos processos moleculares e celulares subjacentes à doença”.

Para o efeito, alguns dos equipamentos que serão adquiridos “ficarão no IPO Porto, nomeadamente para ensaios clínicos de Fase 1, e outros no i3S, principalmente os que permitirão o isolamento e a caracterização de células tumorais dos doentes e ainda o estudo do comportamento destas células em modelos animais”, explica a investigadora

“Trata-se de uma oportunidade única para fazer ciência com impacto clínico nos doentes com cancro. Temos agora todas as condições científicas, clínicas e tecnológicas para avançar e fazer melhor medicina de precisão e contribuir para o grande objetivo europeu da Missão Cancro para a próxima década: Até 2030 mais de três milhões de vidas salvas, vivendo mais e melhor”, projeta  Claudio Sunkel.

Perceber a resistência às terapias

Também o projeto «Cancer Therapy», financiado pelo Norte 2020 com 500 mil euros, será implementado no âmbito do P.CCC, desta vez com o objetivo de perceber a resistência à terapia em cancro e encontrar novas soluções de tratamento.

Liderado pelo investigador do i3S, Celso Reis, o projeto assenta em três linhas de investigação, e em temas que “nunca foram estudados de uma forma sistemática e integrados” para perceber a resistência à terapia no cancro: o papel da regulação do RNA na resistência à terapia de cancro (RNA_CARE); a caracterização e função de proteínas como alvos terapêuticos (PROTEIN_TARGET); e a instabilidade cromossómica na heterogenidade tumoral e na resposta terapêutica (CIN_TARGET).

Para dar resposta a esta ambição, o «Cancer Therapy» vai juntar os saberes de grupos de investigação especializados em áreas que vão desde a biologia molecular e celular, à patologia molecular, glicobiologia, farmacologia, bioinformática e nanomedicina. Algo que, para Celso Reis, representa “uma oportunidade para concentrar conhecimentos, experiência e recursos humanos únicos”

“Vamos partir de dados relevantes das três linhas de investigação que compõem o projeto para melhor caracterizar o papel de cada uma delas na resistência à terapia do cancro, estudando-as nos tipos tumorais onde são mais relevantes e procurando identificar novos alvos terapêuticos e novas estratégias de tratamento e monitorização dos doentes com cancro”, conclui o investigador.

Sobre o Porto.Comprehensive Cancer Center

Constituído em 2016 com o objetivo de encontrar os melhores tratamentos para os doentes oncológicos, o P.CCC resulta de um consórcio entre o Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) e o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), sendo, na atualidade o único centro compreensivo de cancro em Portugal.

“From Bed to Bench and Back” (B3) é o conceito associado ao P.CCC e ilustra o funcionamento do consórcio: “Bed” simboliza o contacto diário com as necessidades reais dos doentes oncológicos. Essas necessidades motivam o desenvolvimento de investigação (Bench=bancada) com o objetivo de melhorar os cuidados prestados e descobrir tratamentos inovadores, permitindo voltar (Back) ao doente e proporrcionar a integração em os ensaios clínicos desenvolvidos no P.CCC.

Desde a sua criação, o P.CCC tem vindo a reunir condições para integrar o “Cancer Core Europe”, a maior rede colaborativa europeia que agrega as instituições de «Excelência» na investigação e prestação de cuidados em Oncologia.