O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) inicia, esta segunda-feira, a realização de testes de diagnóstico do SARS-COV-2. A decisão surge na sequência de um pedido feito pelo Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ) e, numa fase inicial, prevê a realização de entre 100 a 150 testes diários. Um número que deverá aumentar à medida que os procedimentos forem agilizados e os reagentes estiverem disponíveis no mercado.

«Desde o início da epidemia que o i3S se colocou à disposição dos nossos parceiros, em particular dos Hospitais nossos associados, para dar o apoio possível a quem está na linha da frente, servindo de força de retaguarda com as competências que possuímos. No final da semana passada, esse apoio foi-nos solicitado e agilizámos de imediato a retoma de atividade no i3S para respondermos às necessidades reais dos Hospitais, e apenas para esse apoio aos serviços de saúde», explica Claudio Sunkel, diretor do i3S.

Para já , mais de 150 investigadores voluntariaram-se para integrar as equipas que vão participar nas diferentes fases do processo.

Segundo Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto com o pelouro da Investigação, e responsável por coordenar a ajuda da Universidade do Porto na luta contra a pandemia, “este é mais um exemplo da forma admirável como a comunidade do ecossistema científico da U.Porto tem respondido aos apelos de apoio do Serviço Nacional de Saúde no combate à Covid-19, seja através da doação em massa de equipamento para as unidades de saúde, através do desenvolvimento de novas soluções para a proteção individual dos profissionais na linha da frente ou, agora, da disponibilização de meios para a realização de mais testes de diagnóstico à população portuguesa”.

Numa primeira fase, o i3S deverá realizar entre 100 a 150 testes por dia. (Foto: i3S)

As diferentes fases dos testes

O i3S constituiu uma equipa de investigadores – composta por Didier Cabanes, Luísa Pereira, Margarida Saraiva, Alexandra Moreira, Mafalda Rocha e José Bessa – para coordenar a implementação das diferentes fases dos testes. A esta equipa coube identificar e estabelecer os protocolos necessários, em estreita colaboração com o centro de diagnóstico do Hospital São João. O Ipatimup Diagnósticos e o Centro de Genética Preditiva e Preventiva (CGPP) juntaram-se também à iniciativa para supervisionarem o controlo e a qualidade dos testes.

A linha de testes está a ser montada no piso zero do i3S e em duas salas técnicas que ficam no mesmo piso. Didier Cabanes, investigador do i3S que coordena a ação em conjunto com Luísa Pereira, afirma que “há diferentes fases dos testes que obrigam ao recrutamento de voluntários com competências diferentes e que têm de estar muito bem articulados”.

A primeira etapa foi estabelecer todos os procedimentos, garantindo não só a qualidade dos testes, mas também a máxima segurança dos voluntários para a execução dos mesmos. Foi ainda necessária a adaptação das instalações, que inclui armários, arcas de frios, entre outros, bem como a recolha de reagentes e equipamentos. Todos os grupos do i3S cederam o que tinham disponível, mas outros institutos, como o CIBIO-InBIO e o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), disponibilizaram reagentes e equipamento.

Luísa Pereira, investigadora do i3S que está a coordenar voluntários e recursos, adianta que “a Universidade Católica forneceu as viseiras que os investigadores terão de usar na fase de inativação do vírus. A cooperação tem sido extraordinária”.  Precisamente à frente desta etapa de inativação do vírus está a investigadora Margarida Saraiva, que escalonou para esta fase três equipas “em rotação semanal que nunca se cruzam, de forma a manter o distanciamento social necessário”.

Para Alexandra Moreira, responsável pela fase de extração de RNA do vírus,”«o maior problema em todo este processo estão a ser os Kits de extração de RNA com os quais temos de trabalhar, pois são kits de extração manual e que, neste momento escasseiam nos fornecedores. Temos uma máquina de extração de RNA automatizada, que permitiria escalar rapidamente o número de testes feitos, mas os kits para estas máquinas também estão esgotados, daí o recurso a sistemas manuais mais morosos”.

Em relação à fase final dos testes, que está a ser coordenada por Mafalda Rocha, «não existe qualquer tipo de constrangimento. embora ainda estejamos à espera de alguns reagentes essenciais que devem chegar ainda esta sexta-feira».

O trabalho é monitorizado por observadores permanentes que garantem o controlo de qualidade do processo e registam a informação numa base de dados mantida por uma equipa designada para o efeito e coordenada por José Bessa.

Iniciativa conta com mais de 150 investigadores voluntários. (Foto: i3S)

Produção de tubos de transporte das amostras biológicas

A primeira frente de apoio do i3S aos serviços de saúde foi implementada a 31 de março. Em resposta a solicitações do Centro Hospitalar Universitário de São João e do Centro Hospitalar Universitário do Porto (que inclui o Hospital de Santo António), uma equipa de voluntários do i3S, coordenada pela investigadora Marta Vaz Mendes, está a dar apoio à preparação de meios de transporte para as amostras que são recolhidas diariamente.

Inicialmente, uma equipa da U.Porto recolheu cerca de 10 mil kits de transporte de zaragatoas no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) e no CIBIO-InBIO.

Dada a recente indisponibilidade no mercado, a FFUP (sob coordenação da docente da FFUP e investigadora do i3S Anabela Cordeiro da Silva), a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o i3S e a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica (ESB-UCP) estão conjuntamente a produzir o líquido.