Com recurso a imagens reais, a investigadora Teresa Summavielle mostra como os neurónios se degradam (e morrem) com o consumo destas substâncias. (Foto: i3S)

Poderia tratar-se de mais uma palestra com muitas lições de moral, mas não é nada disso. O objetivo é, sim, apresentar os neurónios e mostrar como têm uma má relação com a cannabis, o ecstasy e o álcool. O projeto, que integra o Programa Educativo do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), chama-se «Põe-te a milhas das pastilhas», nasceu em 2007, e já alertou mais de 20 mil alunos do Grande Porto, principalmente do 9.º ano de escolaridade.

Apesar do projeto só ter tido financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian para três anos, Teresa Summavielle decidiu continuar a visitar as escolas “pela diferença que podemos conseguir fazer junto dos adolescentes”. Destinado essencialmente a alunos do 9.º ano, porque os estudos indicam que a iniciação no mundo das pastilhas costuma ocorrer no 10.º ano, a prevenção incidia inicialmente apenas sobre o ecstasy, mas o projeto «tem vindo a adaptar-se à realidade dos adolescentes portugueses» e já abrange o consumo de cannabis e de álcool.

Aliás, sublinha a investigadora do i3S, “normalmente os alunos têm uma maior perceção de risco em relação às anfetaminas e ao ecstasy, mas ficam muito surpreendidos com os efeitos do álcool no cérebro”.

O projeto «Põe-te a Milhas das Pastilhas» está integrado no Programa Educativo do i3S e os professores podem solicitar uma visita da investigadora às escolas, bastando para isso escreverem-se no site. Na cidade da Maia, mediante um protocolo assinado entre o i3S e a autarquia local e recentemente renovado, a investigadora visita as escolas indicadas pela autarquia.

“A Câmara da Maia tem uma preocupação muito relevante com o ensino de boas práticas na saúde das crianças e adolescentes do concelho. São quase duas dezenas de projetos centrados nos hábitos alimentares, desporto, cuidados diários… No caso dos adolescentes a ideia é focar os comportamentos de risco e, neste contexto, a experimentação e o uso mais ou menos regular de substâncias psicoativas é obviamente uma preocupação major”, sustenta a investigadora.

As sessões começam normalmente com explicações básicas sobre a comunicação entre os neurónios, as chamadas sinapses, passando depois para os efeitos mais graves nos neurónios dos mais jovens, uma vez que o cérebro ainda não está maturo ou totalmente formado e, como tal, é mais vulnerável. Segundo a investigadora, «imagens de cérebros de símios obtidas por cientistas norte-americanos mostram como, após duas semanas a consumir oito doses de ecstasy, as ligações entre os neurónios ficam mais reduzidas e débeis. Mesmo depois de sete anos de abstinência, não há normalização dos circuitos neuronais».