Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e do Centro Médico Universitário de Utrecht (Países Baixos), liderada pela cientista Sandra Tavares, descobriu que existe uma proteína neuronal, a SKOR1, que é «manipulada» pelas células cancerígenas para conseguirem manter o comportamento muito agressivo do cancro da mama triplo negativo. Estes resultados, publicados no Journal of Cell Science e selecionados para foto de capa da revista, abrem portas ao desenvolvimento de novas terapias para travar a metastização.

Durante o desenvolvimento de cancro metastático, algumas células tumorais adquirem a capacidade de migrar do tumor primário para a circulação sanguínea e deslocam-se para outros órgãos, alguns muito distantes, onde iniciam o desenvolvimento metastático.

A disseminação metastática é, aliás, a principal causa de morte provocada por cancro. Apesar dos especialistas conhecerem bem esta migração das células cancerígenas, desconhecem-se ainda os processos que desencadeiam e sustentam o potencial invasivo e metastático característicos dos tumores de cancro da mama triplo negativo.

O estudo merece honras de capa na edição de fevereiro de 2023 do “Journal of Cell Science”. (clicar para amplicar)

“No decurso da nossa investigação com células de cancro da mama triplo negativo humano descobrimos algo surpreendente e inesperado: encontrámos uma proteína que até hoje só tinha sido vista num contexto de desenvolvimento neuronal, a proteína SKOR1. Assim que fizemos estas primeiras observações, empenhamo-nos em perceber como é que esta proteína contribui para cada uma das características mais marcantes deste tipo de cancro: crescimento tumoral e formação de metástases”, revela Sandra Tavares.

Recorrendo a uma combinação de tecnologias de ponta como edição genética por CRISPR-Cas9, com modelos de laboratório – desde cultura de células 2D e 3D – e com um modelo animal, a equipa de investigadores decidiu então estudar o papel desta proteína e percebeu que “as células cancerígenas de cancro da mama triplo negativo ativam um mecanismo apenas observado num grupo de células durante o desenvolvimento neuronal”.

Em resumo, sustenta Sandra Tavares, “descobrimos que as células do cancro da mama triplo negativo usam este mecanismo para «alimentar» o seu comportamento agressivo, pois esta proteína promove a proliferação e a migração de células, exatamente os processos necessários para a formação de metástases”.

A equipa de investigadores está agora a trabalhar no estudo de potenciais estratégias terapêuticas que tirem partido desta descoberta.

“Queremos compreender melhor como funciona esta proteína para identificar formas de a bloquear e, assim, contribuir com novos alvos terapêuticos para combater esta doença”, acrescenta Lilian Sluimer, a primeira autora do estudo.

Sobre Sandra Tavares

Licenciada em Bioquímica pela U.Porto (2008), Sem Biomedicina Molecular na Universidade de Aveiro (2011) e o doutoramento no 

Junior Researcher.

Em 2022, foi uma das vencedoras das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, com um projeto que visa desenvolver terapias mais eficazes e menos tóxicas para o cancro da mama triplo-negativo. O mesmo que lhe valeu a conquista da segunda edição do Prémio Maria de Sousa, no valor de 30 mil euros.