Uma equipa internacional, na qual participam investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade de Porto (i3S), demonstrou que um lípido específico, a esfingomielina, controla a resposta imunitária mediada por um grupo de células do sistema imunitário, as iNKT. O trabalho, publicado na revista Nature Immunology, traz nova luz sobre o funcionamento do sistema imunitário e abre caminho a novas terapias, através da modulação da atividade das células iNKT, para o tratamento de doenças infeciosas, auto-imunes e mesmo de cancro.

O sistema imunitário é responsável pelas nossas reações de defesa contra os agentes estranhos ao nosso organismo e mesmo contra agentes internos alterados dos quais o nosso organismo deve defender-se, como as células cancerígenas. As células iNKT são um grupo de células do sistema imunitário reativas a lípidos, tendo uma rápida e elevada capacidade de resposta.

A maioria dos estudos com células iNKT centram-se na identificação de moléculas capazes de as ativar. Contudo, devido à potente capacidade de resposta das iNKT, é fundamental também conhecer os mecanismos que refreiam a sua atividade, de forma a impedir uma reação exacerbada que pode causar doença. No artigo agora publicado, os investigadores desvendam um desses mecanismos. Fátima Macedo, coordenadora da equipa do i3S, explica que «este controlo resulta da capacidade que a esfingomielina tem de se ligar à molécula CD1d e, deste modo, impedir que lípidos estimulatórios se liguem e ativem as células iNKT«. Ou seja, a esfingomielina ao competir pelo local que ativa as iNKT (o CD1d), acaba por funcionar como um silenciador do sinal que estimula estas células de defesa.

O caminho para esta descoberta foi inicialmente traçado pelo estudo de uma doença rara denominada Niemann Pick tipo A e B. A equipa de investigadores observou que quer doentes quer o modelo animal com Niemann Pick tipo A e B apresentam números reduzidos de células iNKT. Esta doença é caracterizada pela deficiente atividade de uma enzima, a esfingomielinase, o que resulta na acumulação de esfingomielina. A relação entre esfingomielina e o desenvolvimento das iNKT ficou claro, pois «tratando o modelo animal desta doença com esfingomielase humana o defeito das células iNKT é prevenido», explica Fátima Macedo.

«Este resultado transmite esperança que o tratamento dos doentes com esta enzima possa reverter os defeitos nas células iNKT, atrasando ou prevenindo as infeções respiratórias características desta patologia», acrescenta a investigadora.

Para alem de uma nova esperança para a doença de Niemann Pick tipo A e B, a descoberta desta nova via regulatória irá, certamente, «ter grande impacto no desenvolvimento de terapias para travar processos inflamatórios, como é o caso das doenças auto-imunes, ou mesmo em terapias em que se queira aumentar a resposta contra agentes que escapam ao sistema imunitário, como as células cancerígenas», prevê Fátima Macedo.