Disrupção do sistema imunitário, reativação de vírus latentes (como o da varicela) e surgimento de doenças autoimunes (como a dermatite atópica) são alguns dos problemas detetados em astronautas da NASA – National Aeronautics and Space Administration que integraram missões no espaço. Quem o diz é Brian Crucian, cientista da NASA que liderou, no passado dia 9 de novembro, uma aula inédita sobre Imunologia Espacial, destinada exclusivamente a estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Esta aula, dada perante uma sala cheia de futuros médicos, teve como título “Changes and countermeasures to an astronaut’s immune system during spaceflight”. Falando à distância, o responsável pelo programa de investigação em Imunologia da NASA explicou que, após recolha e análise de amostras de sangue e de saliva de astronautas, provou-se que as viagens ao espaço têm efetivamente efeitos no sistema imunitário. Os cientistas usaram tecnologia avançada e altamente sensível para determinar também alterações no proteoma.

Os desvios são evidentes em biomarcadores conhecidos, por exemplo, no que respeita à distribuição de citocinas e de leucócitos e à redução das células T ou linfócitos T. Estas células sanguíneas são de extrema importância, desempenhando um papel central na defesa do organismo contra ameaças à saúde, incluindo contra vírus, bactérias e células cancerígenas.

Os cientistas da NASA observaram também reativações de vírus que estavam em estado latente, designadamente de vírus responsáveis pela varicela, e o aparecimento de doenças autoimunes, como a dermatite atópica, pela primeira vez.

De acordo com Brian Crucian, estas alterações no sistema imunitário dos astronautas ocorrem em resposta a fatores “stressores” próprios da ida ao espaço, como a radiação, o stress, alterações na alimentação e no sono.

A NASA está, por isso, a implementar e a estudar o papel de contramedidas, de modo a reduzir o risco de doença. Essas medidas incluem, por exemplo, protocolos de exercício no espaço, alimentos funcionais, suplementos e medicamentos.

Minimizar os riscos das viagens ao espaço

O cientista norte-americano lidera, desde 2011, a investigação em imunologia do Human Research Program da agência espacial, focando-se na caracterização da desregulação do sistema imunológico durante voos espaciais de longa duração. O objetivo é determinar o risco clínico da tripulação e a necessidade de contramedidas para minimizar os riscos.

Entre a atividade desenvolvida pelo Laboratório de Brian Crucian está “a validação de uma nova estratégia de amostragem para devolver à Terra amostras de sangue de astronautas para testes imunológicos abrangentes”, bem como o desenvolvimento de “ensaios biomédicos para avaliar a imunidade em humanos”.

Brian Crucian (à dir.ª) lidera, desde 2011, a investigação em imunologia do Human Research Program da NASA. (Foto: DR)

O seu Laboratório participou também nas “investigações terrestres para determinar as razões mecanicistas pelas quais certos tipos de células imunes não funcionam bem durante condições de microgravidade”. Do mesmo modo, apoiou os estudos de voo do vaivém espacial e da Estação Espacial Internacional e investigou, nas regiões polares do Ártico e da Antártida, as alterações de imunologia terrestre em ambientes extremos.

Participou ainda em mais de 30 voos de gravidade zero a bordo das aeronaves KC-135 e DC-9 da NASA, consistindo em mais de 1200 manobras parabólicas.