A onda de pressão anómala que se gerou após a erupção do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, na Polinésia, foi registada em países um pouco por todo o mundo e Portugal não foi exceção. Na Serra do Pilar, em Gaia, os barómetros do Instituto Geofísico da Universidade do Porto (IGUP) registaram esta onda cerca das 18h00 de sábado, dia 16 de janeiro, aproximadamente 14 horas depois da erupção. 

Quais os efeitos deste tipo de eventos? “Este evento em Tonga provocou certamente propagação ondulatória no ar, nas águas dos oceanos e na estrutura da Terra sólida”, revela Rui Moura, subdiretor do IGUP e professor do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). Mas há mais efeitos: “As grandes erupções vulcânicas têm o potencial de, a curto prazo, afetarem a dinâmica da atmosfera terrestre, podendo até provocar ligeiras diminuições da temperatura média”, acrescenta o docente e investigador.

Apesar de este evento ter sido um dos mais impactantes dos últimos 30 anos, Rui Moura explica que não foi tão violento como as erupções vulcânicas de Pinatubo na Indonésia, em 1991, Krakatoa (na Indonésia entre Sumatra e Java) em 1883 e especialmente Tambora (a Leste de Java), 1815, “a maior erupção de que há registo histórico.

É com base nos estudos sobre estes fenómenos que o docente da FCUP  justifica as alterações de clima: “Investigadores atribuem a este tipo de evento alterações do clima que se chegaram a notar durante alguns anos, ao ponto de, por exemplo, 1816 ter ficado conhecido como o ano sem verão no hemisfério Norte”

Da erupção vulcânica ao tsunami 

O vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai entrou em erupção na sexta-feira e provocou um tsunami que afetou o Pacífico, do Japão ao Peru e chegou até aos Estados Unidos. “Tsunamis são ondas de superfície com períodos muito longos gerados por tremores submarinos. A atividade tectónica no fundo oceânico pode criar um movimento vertical acentuado e rápido (em ordem de segundos ou menos) que origina por sua vez um movimento vertical da água do mar notável à superfície”, descreve, por sua vez, José da Silva, docente da FCUP, especialista em Ciências Oceânicas.

E como se explica que rapidamente os efeitos desta erupção vulcânica se façam registar e tenham impacto a centenas de quilómetros de distância?  “Essa perturbação propaga-se muito rapidamente em fase por vastas regiões e não sofre praticamente atenuação, chegando à costa continental em questão de minutos a horas. As velocidades em oceano profundo são de 800 km/h! (da mesma ordem de um jato comercial de passageiros em velocidade de cruzeiro)”, conta o docente.

Quanto aos impactos na superfície do oceano, José da Silva descreve que tanto “a variação de pressão no oceano, como a deslocação de água a alta velocidade provoca alterações na rugosidade (ondas de escala cm-milímetro) na superfície do oceano, que também podem ser observadas por satélite (por exemplo por radares altímetro)”. 

O que aconteceu em Portugal

Esta erupção no Oceano Pacífico provocou em Portugal alterações no nível do mar que foram medidas nos Açores, na Madeira e na zona de Peniche, de acordo com informação divulgada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

“Este tsunami, gerado no oceano Pacífico, propagou-se pelos vários oceanos, incluindo o Atlântico, tendo-se observado variações do nível do mar em praticamente todas as estações maregráficas em operação na costa portuguesa, variações essas com amplitudes inferiores a meio metro”, divulgou o IPMA

O trabalho do IGUP

Note-se que o Instituto Geofísico da U.Porto integra, desde 1946, a Rede Nacional de Estações Meteorológicas do IPMA, tendo uma estação meteorológica automática e uma estação sísmica. 

No IGUP estão atualmente a tentar perceber se, para além da onda de pressão atmosférica, também teria sido registado algum sinal sísmico. “Numa primeira análise, dada a combinação de profundidade na crusta, distância do evento e magnitude relativamente baixa (5,8) não me parece possível para as características dos sismómetros que temos”, adianta Rui Moura.