Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) demonstrou que o RDW, um parâmetro hematológico que mede a diferença entre as células maiores e menores dos glóbulos vermelhos, pode ajudar a prever o risco de mortalidade e da ocorrência de enfarte agudo do miocárdio após a realização de uma cirurgia vascular às artérias.

Num estudo publicado no World Journal of Surgery, os investigadores portugueses relatam que por cada aumento de uma unidade na amplitude de distribuição dos glóbulos vermelhos, o já designado RDW, aumenta em 8% o risco de o doente sofrer um enfarte e em 10% o risco de mortalidade no período pós-operatório.

Marina Dias Neto, professora da FMUP e uma das autoras do estudo, explica que “a utilização de parâmetros hematológicos, como é o caso do RDW, tem vido a ser investigado ao longo dos anos por se tratarem de parâmetros baratos, medidos por rotina na prática clínica e, por isso, facilmente acessíveis em todos os hospitais”.

Idade, estado funcional e diabetes podem ser problema

Outra das conclusões a que chegaram os investigadores está relacionada com a descoberta de três fatores que interferem no prognóstico após uma cirurgia arterial eletiva, nomeadamente, a idade do paciente, o seu estado funcional e o ser ou não portador de diabetes tratada com insulina.

Segundo os autores da investigação, “o risco de morte aumenta 8% por cada ano de idade com que o paciente é submetido à cirurgia”. Por outro lado, o risco de enfarte “aumenta cerca de cinco vezes em pacientes que são dependentes de terceiros para as suas atividades de vida diária”, e no caso de doentes diabéticos que necessitam de tratamento com insulina, esse risco “aumenta cerca de quatro vezes”.

Face a estes novos dados, os médicos podem definir com maior exatidão quais são os doentes submetidos a cirurgia vascular arterial que têm pior prognóstico, incorporando essa estratificação na “decisão cirúrgica, na deteção precoce e na prevenção de efeitos adversos, sempre que possível”.

Apesar destas descobertas, o mecanismo fisiopatológico responsável pela associação encontrada ainda não é totalmente conhecido. “Especula-se que o RDW possa refletir o estado inflamatório que é responsável pela progressão da doença aterosclerótica”, revela Marina Dias Neto.

“Sabe-se que valores elevados neste parâmetro hematológico se associam a menor deformabilidade dos glóbulos vermelhos, o que por sua vez leva a uma maior propensão para o desenvolvimento de eventos trombóticos, bem como um compromisso do fluxo sanguíneo para os tecidos”, conclui a cirurgiã vascular e professora da Faculdade de Medicina da U.Porto.

Além de Marina Dias Neto, colaboraram neste estudo os médicos e investigadores Francisca Caldeira de Albuquerque, João Rocha Neves e Pedro Videira Reis.