O Programa Gilead Génese Portugal distinguiu este ano seis trabalhos de investigação nas áreas da oncologia e virologia e outros seis projetos de intervenção comunitária. Sandra Tavares e Ana Isabel Pinto, ambas cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) foram duas das premiadas, com um projeto sobre metástases em cancro da mama triplo-negativo e com um trabalho em infeção VIH/SIDA, respetivamente.

Na categoria de investigação, o projeto liderado por Sandra Tavares, denominado PRESSING, vai receber um financiamento de 26 mil euros da biofarmacêutica Gilead Sciencespara estudar um tumor que representa 10 a 15 por cento dos cancros da mama, sendo mais comum em mulheres jovens. Mais concretamente, a investigadora quer “identificar moléculas que estão envolvidas no desenvolvimento de metástases em cancro da mama triplo-negativo com o objetivo de definir estratégias de tratamento que permitam controlar estas moléculas”.

Este trabalho, garante Sandra Tavares, “contribuirá diretamente para estimular um melhor tratamento para o cancro da mama triplo-negativo. Com os nossos resultados pretendemos contribuir para o desenvolvimento de terapias que irão melhorar o tratamento deste tipo de cancro, sempre pensando em tornar os tratamentos menos tóxicos e debilitantes para o paciente, melhorando dessa forma a qualidade de vida dos pacientes recuperados”.

Para a jovem investigadora do i3S, este prémio assume “uma enorme importância, pois vem consolidar a minha própria linha de investigação e os meus primeiros passos como investigadora independente. Vai dar-me acesso a tecnologia de ponta e quase proibitiva por ser muito dispendiosa”. Com este prémio e este projeto, acrescenta, “vamos finalmente responder a uma série de perguntas que até agora permaneciam em aberto”.

Licenciada em Bioquímica pela U.Porto (2008), Sem Biomedicina Molecular na Universidade de Aveiro (2011) e o doutoramento no 

Junior Researcher. Já este ano, foi uma das vencedoras das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, com um projeto que visa desenvolver terapias mais eficazes e menos tóxicas para o cancro da mama triplo-negativo.

Licenciada em Bioquímica pela U.Porto, Sandra Tavares regressou à Universidade em 2021 para integrar o grupo de investigação «Cytoskeletal Regulation & Cancer» do i3S. (Foto: i3S)

Travar a Leishmaniose em doentes VIH+

A investigadora Ana Isabel Pinto, por seu lado, foi distinguida com um prémio Gilead Génese na categoria de Projetos de Intervenção Comunitária, no valor de 20 mil euros. Intitulado «Primeira Caracterizacão Serológica Molecular e Sociodemográfica da exposição a Leishmania spp na população infetada pelo VIH na região Norte de Portugal», este trabalho tem como principal objetivo fazer uma triagem da infeção parasitária leishmaniose em seropositivos.

A Leishmaniose “é uma doença parasitária grave que emergiu como uma importante condição oportunista em doentes VIH+. Como normalmente a infeção é detetada tardiamente e os métodos de diagnóstico são limitados, é difícil controlar esta co-infeção”.

Como tal, sublinha Ana Isabel Pinto, “é imperativo promover estratégias ativas de triagem e monitorização, que permitam a identificar precocemente a infeção por Leishmania nos doentes VIH+”.

“No âmbito da construção de um biobanco pretendemos determinar o nível de exposição à Leishmania em doentes VIH+ na região Norte de Portugal», concretiza a investigadora do i3S.

Sobre o Programa Gilead Génese

À edição de 2022 do Programa Gilead Génese, destinado a incentivar em Portugal a investigação científica na área da saúde e as boas práticas de acompanhamento de doentes na comunidade, concorreram 61 projetos – 39 de investigação e 22 de intervenção comunitária. O valor total do financiamento atribuído é de 280 mil euros.

Para além de Sandra Tavares, foram também distinguidos na área da investigação em oncologia os projetos liderados pelos investigadores Pedro Bule (Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa), Maria do Carmo-Fonseca e Cláudia Faria (Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes da Universidade de Lisboa).Inês Bártolo (Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa) e José Maria Marcelino (Egas Moniz – Cooperativa de Ensino Superior) coordenam, respetivamente, os trabalhos que se propõem desenvolver antivirais contra vírus respiratórios como os da gripe e covid-19 e vacinas contra o VIH/sida.

Já no domínio da intervenção na comunidade, para além do trabalho de Ana Isabel Pinto, vão ser apoiados projetos de rastreio da sida, hepatites e outras doenças sexualmente transmissíveis, de sensibilização dos jovens para a prevenção de comportamentos de risco associados ao VIH/sida, de renovação de um portal de informação sobre cancro pediátrico e de criação de um programa de exercício físico para doentes com covid-19 longa.

Os prémios foram entregues esta terça-feira, 8 de novembro, na Fundação Champalimaud, em Lisboa.