Uma proposta de investigação que visa criar uma terapia genética inovadora para lesões da medula espinal humana, liderada pela investigadora Diana Machado, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi um dos três projetos de investigação e inovação biomédica portugueses distinguidos na edição deste ano do programa CaixaImpulse, da Fundação «la Caixa».

Premiado na categoria CaixaImpulse Validate, que visa apoiar projetos no seu processo de transferência de tecnologia, este trabalho receberá um apoio que pode ir até aos 100 mil euros e que permitirá à equipa avançar para etapas que antecedem os ensaios clínicos.

Todos os anos, entre 250 e 500 mil pessoas de todo o mundo sofrem uma lesão na medula espinal. Como consequência, os doentes podem apresentar uma grande variedade de sintomas incapacitantes, como a perda da função motora, a perda de controlo dos esfíncteres e a incapacidade de regular a pressão sanguínea.

Até à data, explica Diana Machado, “não existem tratamentos eficazes, porque os nervos espinhais não se conseguem regenerar. Porém, o nosso grupo identificou uma proteína que potencia a regeneração neuronal após uma lesão no nervo ciático e na medula espinal. O nosso objetivo é precisamente aproveitar este conhecimento e desenvolvê-lo para criar uma terapia genética que possa ser utilizada em situações de lesões da medula espinal humana”, projeta a também estudante do mestrado em Bioquímica da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Esperança numa proteína

Concretamente, acrescenta a investigadora do grupo «Nerve Regeneration» do i3S, este trabalho “centra-se no uso de uma versão modificada da proteína profilina-1, que verificamos ser um potente indutor de crescimento axonal, para induzir a regeneração após lesões medulares. A profilina-1 encontra-se presente nas células e regula processos de dinâmica do citoesqueleto, tendo despertado grande interesse quando se verificou que era capaz de promover o crescimento axonal em modelos animais”.

Neste momento, a equipa do i3S está a analisar os efeitos da administração da forma mutada da proteína em animais com lesões medulares num período agudo e crónico pós-lesão.

Mónica Sousa, que lidera o grupo de investigação, adianta que «a administração da forma mutante da proteína é feita ao introduzir a sequência que a codifica num vector viral (um vírus adeno-associado), que após injeçãointravenosa, permite que os neurónios passem a expressar uma maior quantidade da profilina-1 ativa».

“Caso se verifique que, após uma lesão medular, a profilina-1 induz um aumento da regeneração nervosa e, dependendo do grau de recuperação, esta terapia tem um grande potencial clínico”, sublinha Mónica Sousa.

A importância do prémio

“Esta verba que recebemos do programa CaixaImpulse”, acrescenta Diana Machado, “vai permitir-nos dar continuidade ao nosso trabalho, testando vários períodos de administração da terapia, duração da efetividade da mesma e toxicidade da profilina-1 com o objetivo de entrar em ensaios clínicos e licenciar a terapia”.

No total, a edição deste ano do programa CaixaImpulse selecionou 23 projetos de investigação e inovação biomédica liderados equipas de investigação centradas “em resolver grandes desafios da saúde”.

Para além do apoio financeiro (que pode ir de 50 mil euros a 300 mil euros), todos os projetos selecionados vão integrar um programa de acompanhamento, mentoring e aconselhamento e imersão na realidade do mercado.