A Fundação ”la Caixa”, no âmbito do Concurso CaixaResearch Validate 2021, selecionou três projetos portugueses, dois dos quais são liderados por investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S). Considerados “inovadores” e com «grande impacto social», estes projetos, liderados pelos cientistas Inês Gonçalves e Ricardo Monteiro vão receber até 100 mil euros cada um. O objetivo é apoiar o processo de transferência de tecnologia para a sociedade e para o mercado.

A investigadora Inês Gonçalves pretende desenvolver uma «Tampa inteligente para a esterilização de cateteres» (SmartCap) com o objetivo de diminuir a principal causa de infeções associadas aos cuidados de saúde, que, só na Europa, causam 25 mil mortes por ano. Estas infeções, normalmente causadas por contaminação com bactérias de dispositivos médicos (sobretudo cateteres), dão origem a complicações com uma elevada taxa de morbilidade e mortalidade dos doentes e custos médicos muito elevados.

“Os tratamentos atuais não são eficazes para prevenir a infeção e, além disso, contribuem para o desenvolvimento da resistência bacteriana, que é uma grande ameaça para a saúde pública. Daí a urgência em encontrarmos soluções”, sublinha a líder do grupo de investigação em «Advanced Graphene Biomaterials» do i3S.

Como explica Inês Gonçalves, o SmartCap é “uma tampa para cateteres com um sistema integrado e reutilizável de esterilização baseado na fotoativação de grafeno, que atua no interior do cateter e evita infeções sem causar resistência bacteriana”. Este financiamento, adianta a investigadora, permitirá “otimizar a tecnologia SmartCap e introduzi-la no mercado”.

Para além da equipa de Inês Gonçalves, o projeto conta ainda com as colaborações de Orlando Frazão, especialista em óptica do INESC-TEC, e de Manuel Pestana, diretor do Serviço de Nefrologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) e é líder do grupo de investigação do i3S em «Nephrology & Infectious Diseases R&D».

Margarida Ferreira, Inês Gonçalves e Patrícia Henriques vão desenvolver uma “tampa inteligente” para combater as infeções provocadas pela má esterilização de cateteres e outros de dispositivos médicos. (Foto: i3S)

“Desarmar” as bactérias

Já o projeto liderado pelo investigador Ricardo Monteiro – e denominado «Desarmar bactérias, uma alternativa inovadora aos antibióticos» – visa combater a resistência bacteriana aos fármacos, causada pela utilização excessiva de antibióticos. A Organização Mundial de Saúde definiu este problema como uma das grandes ameaças enfrentadas pela humanidade no futuro próximo: além de fazer aumentar o número de mortes e de incapacidades, as resistências antimicrobianas estão associadas a internamentos hospitalares mais prolongados, maiores custos com cuidados de saúde e perda da qualidade de vida dos doentes.

Nos últimos anos, explica o investigador, “tem sido explorada uma alternativa inovadora para prevenir as resistências, cuja estratégia consiste em «desarmar» a bactéria em vez da eliminação bacteriana por parte dos fármacos tradicionais”. Nesse sentido, o projeto agora financiado “centra-se num composto candidato que atua sobre os açúcares da parede celular bacteriana da Listeria monocytogenes”. Trata-se de uma bactéria de origem alimentar responsável pela maior proporção de casos hospitalares e a maior taxa de mortalidade na Europa e, se tudo correr como Ricardo Monteiro prevê, este composto “irá torna-la menos infeciosa e mais sensível aos antibióticos sem, porém, a matar”.

Com este financiamento,  o investigador do grupo «Molecular Microbiology» do i3S espera “conseguir a validação clínica deste composto e explorar o seu potencial como estratégia complementar para combater as infeções bacterianas, em combinação com antibióticos”.

Rita Pombinho, Ricardo Monteiro, Didier Cabanes e Sandra Sousa pretendem validar um composto para combater as infeções bacterianas (Foto: DR)

O terceiro projeto distinguido neste Programa da Fundação ”la Caixa” chama-se «NanoSpin: libertação de medicamentos mediada por nanopartículas para as lesões na espinal medula» e é liderado pelo investigador Diogo Trigo, da Universidade de Aveiro.

Sobre o Programa CaixaResearch Inovação

A Fundação ”la Caixa” implementou o Programa CaixaResearch Inovação em Portugal no ano de 2019, em conjunto com a Caixa Capital Risc e com o apoio do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT Health). Desde então, foram atribuídos 1,8 milhões de euros a 13 projetos portugueses.

Para além do apoio financeiro, os investigadores recebem formação especializada em áreas-chave (tais como transferência de tecnologia, ferramentas de financiamento e técnicas de negociação) e mentoring.

Especialistas do setor, consultores e empreendedores vão também ajudar os cientistas os a definir os melhores planos de valorização dos seus projetos.