No âmbito do Concurso CaixaResearch Validate, a Fundação «La Caixa», em colaboração com o BPI, financiou quatro projetos portugueses inovadores – dois dos quais do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) – com uma verba de até 100 mil euros e formação especializada em áreas-chave, como a transferência de tecnologia e a comercialização. O objetivo é apoiar a criação de novos produtos e empresas para que cheguem mais rapidamente ao mercado e aos doentes.

O projeto apresentado por Paula Parreira, do grupo «BioEngineered Surfaces», pretende controlar a Helicobacter pylori sem utilizar antibióticos. Trata-se de uma bactéria em forma de espiral que cresce na camada mucosa que reveste o interior do estômago e que é diretamente responsável por 90% dos cancros gástricos no mundo, com cerca de um milhão de novos casos por ano.

As orientações na área da saúde aconselham a erradicação da H. pylori em todas as pessoas infetadas, mas isso implica o uso maciço de antibióticos, uma estratégia que não funciona em quatro em cada dez doentes, principalmente porque a bactéria desenvolve resistência aos antibióticos. Para além disso, o uso repetido e maciço de antibióticos, e a má utilização dos mesmos, também altera a microbiota intestinal normal, o que pode causar outros problemas de saúde.

Para responder a esta situação, a equipa que Paula Perreira integra desenvolveu o NanoPyl®, que consiste numa fórmula de nanopartículas lipídicas concebida para controlar a carga de H. pylori por administração oral. De acordo com a investigadora, “o NanoPyl® reduz de forma segura e eficaz a carga de H. pylori na microbiota gástrica, permitindo, ao mesmo tempo, manter saudável a mucosa intestinal do paciente”.

Para além disso, acrescenta Paula Parreira, “ao contrário dos antibióticos, o NanoPyl® não induz resistência bacteriana e não altera a microbiota intestinal do hóspede. Num ensaio de 14 dias de duração em modelos animais, o NanoPyl® reduziu 90% da carga gástrica de H. pylori”.

O primeiro enxerto vascular sintético para bypass das artérias coronárias

O segundo projeto do i3S apoiado pela Fundação «La Caixa» foi apresentado por Andreia Pereira, do grupo «Advanced Graphene Biomaterials», chama-se «GO-Graft» e tem como objetivo desenvolver o primeiro enxerto vascular sintético antiaderente de pequeno diâmetro para o bypass das artérias coronárias. Uma solução que permitirá reduzir as complicações pós-operatórias dos pacientes.

Dentro das doenças cardiovasculares, a doença arterial coronária ou cardiopatia isquémica, que provoca os enfartes, ocorre quando os vasos sanguíneos que irrigam o coração estão danificados ou bloqueados, normalmente por placas de colesterol nas artérias, e afeta 335 milhões de pessoas em todo o mundo.

Os tratamentos disponíveis consistem em medicação ou na reabertura, mediante stents, dos vasos bloqueados para restabelecer o fluxo sanguíneo. Nos casos mais graves, que representam aproximadamente 1% dos doentes, é necessária uma cirurgia para substituir os vasos danificados, sendo normalmente utilizados vasos sanguíneos de outras partes do corpo do próprio doente. No entanto, esta opção que está associada a vários riscos.

Os enxertos sintéticos, também muito utilizados, têm bons resultados na substituição de vasos de diâmetro médio e grande, mas no caso dos vasos pequenos, como as artérias coronárias, costumam favorecer a formação de tromboses.

Este primeiro enxerto vascular sintético, explica Andreia Pereira, responde às necessidades e dificuldades sentidas pelos clínicos e pacientes, pois “é fabricado a partir de um hidrogel reforçado mecanicamente com óxido de grafeno, previne a trombose e evita a adesão de bactérias”.

15 projetos biomédicos inovadores financiados em 2022

No total, esta edição do Concurso CaixaResearch Validate vai apoiar 15 projetos de investigação biomédica de ponta, selecionados entre 110 apresentados candidatos.

Os dois outros projetos portugueses financiados foram apresentados pelos investigadores Diogo Magalhães e Silva, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, e Jorge Fernando Jordão Coelho, do Instituto Pedro Nunes – Associação para a Inovação e Desenvolvimento em Ciência e Tecnologia, em parceria com a Universidade de Coimbra.

Estes financiamentos da Fundação «la Caixa» são concedidos em colaboração com a Caixa Capital Risc e em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que financia um dos projetos portugueses selecionados.