Observatório de Desafios Sociais (ODESS) – dinamizado pelo Grupo de Investigação Cultura, Normatividade e Diversidade (CND) do Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP) – está a elaborar um estudo sobre hábitos de consumo e de poupança na população residente em Portugal; aplicando teorias da Psicologia à análise do comportamento do consumidor. Os resultados serão apresentados pelo docente e investigador Samuel Lins até ao final do ano.

Dia Mundial dos Direitos do Consumidor

Em 1962, o presidente dos E.U.A. John F. Kennedy defendeu, perante o Congresso, a criação de direitos essenciais para os consumidores. Argumentou que todos deveriam ter acesso a produtos e serviços de qualidade, a preços justos; e todos deveriam ser protegidos contra produtos prejudiciais e informações enganosas. Com base nessa intervenção, surgiu o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, assinalado anualmente a 15 de março, com o objetivo de promover a proteção do consumidor e o consumo responsável. Porém, a data é muitas vezes erroneamente associada ao consumismo. Ainda que numa abordagem mais recatada do que na Black Friday; muitas lojas físicas e online encaram a data como mais uma oportunidade para incentivar o consumo.

Psicologia do Consumidor

Em Portugal, tendo como pano de fundo a Nova Agenda do Consumidor lançada pela Comissão Europeia em 2020, os consumidores beneficiam de um conjunto de direitos que promovem segurança, transparência e justiça nas relações de consumo. Como pode a Psicologia ajudar na compreensão dos fenómenos de compra? De que forma os consumidores são manipuláveis, tornando os seus direitos mais vulneráveis?

American Psychological Association (APA) define a Psicologia do consumidor como o estudo do “comportamento dos indivíduos enquanto consumidores e as técnicas de marketing e comunicação utilizadas para influenciar as suas decisões de compra”.

Entre os vários tipos de comportamento de compra, o docente e investigador de origem brasileira Samuel Lins especializou-se na compra por impulso, isto é, quando se compra sem avaliar as consequências desse comportamento. Esse tipo de compra difere, segundo o investigador, “da compra por compulsão, que é cíclica e está geralmente associada a outras patologias, como a ansiedade e depressão”.

No Observatório de Desafios Sociais (ODESS), Samuel Lins tem desenvolvido investigação na área dos hábitos de consumo e da poupança. Depois de dois inquéritos, aplicados em 2022 e em 2024, o investigador trabalha agora num terceiro inquérito que facultará conclusões longitudinais sobre o tema, a apresentar até ao final de 2025. Os dados, recolhidos através de uma combinação de inquéritos telefónicos e online, com quotas para idade, género e região, garantem uma amostra representativa da população residente em território nacional.

Com base nos dados recolhidos em 2024, Samuel Lins aponta que 35% dos portugueses realizaram alguma compra por impulso em 2023 (compraram sem pensar nas consequências); cerca de 30% foi às compras para aliviar algum sentimento negativo (tédio, tristeza, raiva, etc.). Para cerca de 58%, poupar dinheiro é algo extremamente difícil ou difícil. Por outro lado, cerca de 78% pretende melhorar a sua literacia financeira, ou seja, os seus conhecimentos e habilidades relacionados à gestão do dinheiro, investimentos e finanças pessoais. Para 58%, a preocupação com questões ambientais influenciou as suas decisões de compra, e 80% costumam fazer listas de compras.

“Compreender as motivações e as variáveis relacionadas com o comportamento de compra não é apenas do interesse de empresas e marcas, mas também do nosso interesse individual. Quando conhecemos os gatilhos de compra, as estratégias de marketing e estamos mais atentos às tentativas de manipulação, ganhamos um maior autoconhecimento e tornamo-nos mais conscientes do nosso próprio comportamento. Entender como o consumidor compra é compreender como nós próprios compramos”, conclui Samuel Lins.

Uma Aula Aberta no dia 2 de abril, organizada pelo Laboratório de Psicologia Social, contará com a participação de André Regueiro, coordenador da DECO Regiões, e abordará vários tópicos relacionados com o comportamento e os direitos dos consumidores.