Estudos apontam que cerca de 3 milhões de pessoas em Portugal sofrem de ansiedade. Será possível preveni-la? E qual o papel da tecnologia nesse âmbito? O projeto luso-espanhol PrevANS propõe-se a dar resposta a estas questões e está a recrutar pessoas voluntárias que queiram participar num estudo. O objetivo é recrutar 1.000 participantes até setembro de 2025.
Desenvolvido originalmente pelo Instituto de Investigação Biomédica de Málaga, Espanha, ao qual se juntou uma equipa coordenada pelas professoras Margarida Rangel Henriques e Inês Rothes do grupo Webs on Meaning do Centro de Psicologia da Universidade do Porto – CPUP, PrevANS está acessível gratuitamente através de telemóvel, computador ou tablet, disponibilizando informação e ferramentas baseadas em evidência científica para prevenir problemas de ansiedade na população adulta. A participação é gratuita.
As pessoas interessadas podem inscrever-se no site https://prevans.org/pt/ e preencher um questionário que avalia se reúnem as condições necessárias à participação. Se elegíveis, deverão responder a algumas perguntas on-line (na app) e por telefone.
Uma app preventiva
Filipa Salomé, Doutoranda e colaboradora do grupo Webs on Meaning, explica alguns dos contornos do projeto: “Por vezes, somos mal interpretadas quando dizemos que o PrevANS é um projeto de intervenção. Tende a pensar-se imediatamente em tratamento, mas, neste caso, trata-se de uma intervenção preventiva. Não pretendemos tratar problemas de ansiedade, mas prevenir problemas de ansiedade. Por outro lado, o PrevANS tem também uma componente de investigação, já que estamos a avaliar se conseguiremos ser efetivamente capazes de prevenir problemas de ansiedade”.
A aplicação PrevANS tem uma dimensão personalizada da intervenção em função das necessidades de cada pessoa, sendo a primeira app a proporcionar essa experiência. PrevANS inclui também a possibilidade de rastreio de risco de perturbação ansiosa no ano a seguir.
O recurso à Tecnologia tem gerado um debate crescente entre os profissionais da saúde mental. Nas redes sociais, proliferam anúncios de aplicações focadas neste e noutros transtornos. As reações da classe e de potenciais utilizadores variam entre a apreensão e a adesão crítica.
“Queiramos ou não, há aplicações no mercado que estão a fazer este tipo de intervenção”, continua Filipa Salomé. “Mas muitas delas não são validadas ou sequer desenvolvidas para a população portuguesa. É muito diferente estarmos a usar uma app que foi desenvolvida, por exemplo, nos E.U.A. Para além disso, sabemos que algumas delas são desenvolvidas por engenheiros e por outros profissionais que não têm a sabedoria da Psicologia. No entanto, se as pessoas sentem que estas ferramentas ajudam de alguma forma, devemos dar resposta. Mas as apps não substituem, de forma alguma, a intervenção cara à cara numa situação já clínica, com sintomas mais significativos”.
PrevANS é um projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), do Ministério da Educação e Ciência de Portugal, pela Agência Estatal de Investigação (AEI) e Instituto de Saúde Carlos III (ISCIII) do Ministério da Ciência e Inovação de Espanha, estando avaliado pelas Comissões de Ética competentes.