A Direção da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) vem, em nome de toda a comunidade académica, manifestar publicamente o mais profundo pesar pelo falecimento do Professor Agostinho Ribeiro, professor jubilado da FPCEUP, endereçando à família e amigos as mais sinceras e sentidas condolências.

O velório será a partir de amanhã, dia 16 de junho, pelas 14:00, na capela mortuária da Lapa- Porto.

O funeral será na segunda-feira, dia 17 de junho, pelas 16h, também na capela mortuária da Lapa- Porto.

A missa de 7.º dia, será anunciada brevemente.

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::


Professor Agostinho Ribeiro

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Pessoa de grande saber, rigor, perspicácia e assertividade, era também das emoções, dos afetos e das amizades para sempre.

No meu caso, era o meu eterno orientador, como gosto de dizer (por ser verdade) aos meus alunos e às minhas alunas. Aprendi tudo com ele, tudo do mundo académico e de como ser pessoa nele. O Agostinho (era assim que ele queria que lhe chamássemos) foi um grande estudioso da Imaginação, da Psicologia da Educação, da Educação de Infância, da Comunicação e Relação Humana e da Criatividade (O Mistério da Criatividade, último livro publicado na Afrontamento em 2018). Em todas estas áreas deixou uma mensagem clara: a importância da imaginação no bem-estar e no desenvolvimento; a especificidade da Psicologia da Educação para educadores; a importância da educação de infância para os níveis de educação seguintes, que se devem transformar em função dela e não o contrário; a comunicação não é apanágio da publicidade, da política, da autoapresentação ou do marketing, é antes uma racionalidade e uma ética a ser desenvolvida como forma de vida e de qualidade no trabalho e nas relações sociais em geral; a criatividade, como o subtítulo do seu livro informa, não é uma inspiração genial só de alguns, é uma prática necessária às ciências, às artes, à vida quotidiana e à educação.

Não havia estudante, colega ou funcionário que não gostasse dele. Suave, sem camadas desnecessárias, estava sempre disponível para ajudar, orientar, explicar ou aconselhar. Perdemos, todos nós e o mundo académico em especial, um dos nossos melhores, um exemplo de retidão, de inteligência e elegância de ser. Não vamos perder-te de vista.

Testemunho da Profª. Amélia Lopes

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Perdermos a oportunidade de conviver com uma pessoa de quem se gosta e que se admira, é sempre motivo de grande tristeza.  No caso do Agostinho perde-se também a oportunidade de alegrar os olhos com o charme que sempre o caracterizou. Até o boné era charmoso. Apesar disso, ficam as boas memórias. Conheci o Agostinho como Professor, como Colega e como Amigo. Como Professor, recordo as aulas no Mestrado (anos 80), profundamente preparadas. Os textos que construía tinham uma rigorosa revisão da literatura e estimulavam um debate riquíssimo, que o grupo sabia bem aproveitar. Como colega, recordo o cuidado e a amabilidade, associados a um grande rigor. Como amigo, recordo os excelentes jantares, servidos com uma louça lindíssima e uns copos primorosos que a gata nunca partiu, mesmo quando por perto deles passava.

Creio que o Agostinho sabia como dele gostávamos e como ficámos contentes pela felicidade e grande parceria que encontrou na Conceição. À Conceição também um forte abraço nosso,

Carlinda Leite e Rafael

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Com o Professor Agostinho Ribeiro a educação de infância ganhou visibilidade na formação inicial e contínua, nas Ciências da Educação e nas práticas educativas. Ainda, hoje, as reflexões no livro “A escola pode esperar” fazem justiça ao trabalho desenvolvido no Jardim de Infância, defendendo um percurso educativo sequencial e articulado na vida da criança.

Muito obrigada, Professor Agostinho Ribeiro pelos seus contributos humanos e científicos.

Margarida Marta

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Nome incontornável para a compreensão de ser-se pessoa em educação

Com o Professor Agostinho Ribeiro aprendi sobre a intimidade das ‘expressões’ livres e abertas, acreditando em transgressões criadoras. O compromisso de quem segue, consciente do outro, desafia as suspeitas de descrédito e silêncio que recaem sobre o ‘atelier’ que temos em nós. Em educação, e na escola, esta liberdade ética manifesta-se como princípio para a sua reinvenção, necessária e constante, cultivando o sonho. O professor Agostinho investiu na construção de uma pedagogia do imaginário. É nosso desígnio defendê-la.

André Freitas  

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Agostinho Ribeiro: discretamente próximo

Recordo aqui dois episódios breves da minha relação com o Agostinho Ribeiro na qualidade de seu estudante (mas não exclusivamente), marcas que me fazem recordar este professor com uma grande saudade e respeito.

Na disciplina de Psicologia do Corpo e Comunicação Corporal atrevi-me a contar uma história, uma vivência muito pessoal e privada até porque entendi que a mesma retratava as grandes dimensões trabalhadas na disciplina. Mas fi-lo consciente de privilegiar uma interpretação muito mais experiencial do que académica, aquilo que era o trabalho pedido pelo Agostinho.

O Agostinho avaliou (e muito bem) o trabalho e, passados umas semanas tivemos a oportunidade de nos cruzar ao almoço num pequeno restaurante que ambos frequentávamos. A conversa sobre o meu trabalho acabou por vir à baila e o Agostinho não disfarçou algum embaraço, mas simultaneamente, um profundo respeito que me deixou claras marcas, particularmente para essa profissão de docente que, na altura estava longe de imaginar vir a desempenhar.

Num outro momento, entreguei ao Agostinho um trabalho para o qual ele colocava um limite de 20 páginas, o trabalho tinha um pouco mais. O professor íntegro, rigoroso, chamou-me ao gabinete e perguntou-me: “Henrique, indica-me por favor que 20 páginas é que eu tenho de ler?”. Desta vez, o embaraço ficou do meu lado e tive mesmo de ajustar o trabalho às 20 páginas.

Traços de um professor inteiro, de uma pessoa de grande humanidade que deixa uma saudade grande, mas com o qual foi um prazer privar, sobretudo também pela existência de vários momentos fora da academia em que tivemos grandes conversas.

Henrique Vaz

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Tive o privilégio de ser estudante e, posteriormente, colega na FPCE do Professor Agostinho Ribeiro, e de ser marcado indelevelmente pela sua postura pessoal e académica, pela sua prática pedagógica e pelo muito que o seu conhecimento e experiência nos ajudam, ainda e sempre, a equacionar os desafios do campo da educação.  As suas aulas rigorosamente coreografadas, a presença serena, a palavra justa, erudita e envolvente, o inteligente sentido de humor, a relação franca e sensível e o rigor e o desafio à compreensão dos fenómenos faziam-me saber, como a muitos outros colegas da LCE, que estávamos perante um mestre, um professor capaz de ensinar como quem conta uma história, de nos fazer adentrar questões complexas despertando-nos a curiosidade e o desejo para continuarmos o nosso próprio caminho de exploração. O Professor Agostinho, que nessas aulas de Psicologia da Educação nos introduziu ao sentido da educação como “educere”, era o professor que reconhecíamos gostar de vir a ser, pelo que nos ensinava e pela pessoa que o fazia. Já a trabalhar na FPCE, no quotidiano da vida institucional, esta integralidade foi a mesma que continuei a conhecer no Professor Agostinho: uma enorme generosidade para quem chegava de novo, o tempo para sempre ter uma palavra amiga genuinamente interessada, a exploração criativa de novos caminhos e temáticas – a comunicação, o corpo, a criatividade… – que muito enriqueceram a pesquisa e a intervenção em educação, e uma cristalina lucidez perante os desafios estratégicos da instituição e das Ciências da Educação. O legado e o exemplo do Professor Agostinho Ribeiro permanecerão em cada um/a que teve a oportunidade de com ele conviver e trabalhar, e seguramente que uma das melhores formas de o homenagearmos é podermos honrá-los como professores, como investigadores e como pessoas.

João Caramelo

:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Memória Professor Agostinho Ribeiro

A morte é-nos sempre hostil, como referiu Eduardo Lourenço, é sempre do outro, do outro que é tudo para nós, essa é que é a morte autêntica… as outras são ilusórias, até mesmo a nossa, principalmente a nossa… A morte do Professor Agostinho Ribeiro, que é parte importante do meu percurso académico, tive o privilégio de o ter como meu Professor de Psicologia da Educação na Licenciatura em Ciências da Educação, queríamo-la ilusória, mas não é, é autêntica e já é uma ausência que me marca para sempre. É uma ausência que me embrulha com saudade, que na voz perdura e na imaginação procuro eternizá-la…

O Professor Agostinho Ribeiro marcou-me com pegada de humanização e liberdade, tinha sempre muito para dizer e desafiar à reflexão, com marca de identidade distinta, com elegância singular, assinada com o laço que sempre acompanhava o seu traje, acessório que o distinguia no cuidado com a forma de apresentar o corpo que o transportava por todos os caminhos, como dizia, “o corpo é que nos leva, é que nos transporta por todos os caminhos”. Era com serenidade, criatividade e amabilidade que abordava e comunicava todos os assuntos e nos elevava a alma que o corpo transporta, o que me fez acreditar que, no fim da caminhada pelo espaço terreno, o corpo se constitui em alavanca para a libertar e projetar pela eternidade com memória do realizado. Para mim, guardo memória do Professor Agostinho Ribeiro com alegria do impacto criativo transformador do pensar e estar na Educação, do pensar e estar Pessoa. Obrigada, Professor Agostinho Ribeiro.

Fica para mim muito lúcido que, quando a morte se apresenta, há filhos, netos, bisnetos, amigos, estudantes, cânticos, música, fotos, livros, flores, memórias, … Não desaparecemos totalmente, antes passamos a existir de forma viva e efusiva nos detalhes, onde descobrimos horas maiores de vida, como é testemunho o que agora acontece, este registo de memória, elogiar a vida e a eternidade, que será sempre uma referência para mim, com vontade de lhe desejar que descanse em paz, paz à sua alma…

Isabel C. Viana