Provas de Doutoramento em Ciências da Educação - Elsa Maria Moreira Alves
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Apreciação da tese intitulada “Um outro lado dos recreios escolares: dos conflitos entre crianças à construção de competências sociomorais e políticas”. Prova de doutoramento no ramo de Ciências da Educação,
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Apreciação da tese intitulada “Um outro lado dos recreios escolares: dos conflitos entre crianças à construção de competências sociomorais e políticas”.
Prova de doutoramento no ramo de Ciências da Educação, requeridas pela Mestre Elsa Maria Moreira Alves.
Equipa de orientação:
Doutora Maria Manuela Martinho Ferreira, Professora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Júri:
Doutora Isabel Maria Alves e Menezes Figueiredo, Professora Catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Vogais:
Doutora Natália Fernandes, Professora Associado com Agregação do Instituto de Educação da Universidade do Minho.
Doutora Catarina Almeida Tomás, Professora Coordenadora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa.
Doutora Juliana Prates Santana, Professora Adjunta da Universidade Federal da Bahia, Brasil.
Doutora Maria Cristina Tavares Teles da Rocha, Professora Associada com Agregação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Doutor Rui Eduardo Trindade Fernandes, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Doutora Maria Manuela Martinho Ferreira, Professora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto – orientadora.
A sessão é pública e de acesso livre a todas as pessoas interessadas.
RESUMO
A partir de uma pesquisa com 16 crianças, raparigas e rapazes com 9/10 anos de idade que frequentavam o 4º ano numa escola privada do 1º Ciclo do Ensino Básico da cidade do Porto, pretende-se mostrá-las como atores sociais envolvidos em situações conflituais no recreio, nos modos como lidaram com elas e as resolveram e também acerca das suas opiniões sobre conflito e violência. O argumento principal é que só através da observação e escuta das ações sociais que as crianças entre crianças levam a cabo nos recreios escolares é possível compreender os conflitos enquanto conflitualidades dinâmicas e processos relacionais densos de significações porque inseparáveis das culturas de pares, do grupo social e suas sociabilidades, durante os quais elas também constroem competências sociais, morais e políticas essenciais à participação na vida social e ao exercício da cidadania. Referenciada aos contributos teóricos dos Estudos Sociais da Infância, dos Estudos de Género e Infância, Estudos das Violências e do Conflito, e das Ciências da Educação, este argumento é sustentado através de uma pesquisa com crianças em que se recorreu à observação participante, a inquéritos por questionário e à técnica de role-play para descrever, analisar e compreender os conflitos no recreio, desde a sua frequência, à sua diversidade e respetivas configurações de género-idades, aos modos como eclodiram, desdobraram e fecharam. Nesta trajetória, e nas sucessivas aproximações ao objeto de estudo, salienta-se que a ocorrência de conflitos se mostrou menos expressiva que situações não conflituais; que estes se deveram a (in)justiças, provocações, disputas pela posse de objetos, investida física e conflitos cognitivos e que foram solucionados entre as próprias crianças. Na desconstrução da negatividade social que pesa sobre os conflitos no recreio escolar, constatou-se que na conflitualidade as crianças mobilizam valores e regras das suas culturas, discursos genderizados, estatutos de idade, mas também afinidades eletivas; que as retaliações são de natureza verbal e não física, aí se evidenciando a construção de competências sociomorais e políticas em prol da salvaguarda dos valores das culturas de pares e da ordem social infantil, com recurso à argumentação, diálogo, negociação e compromissos. Constatou-se ainda que, distanciadas de situações conflituais concretas, estas crianças reproduzem as conceções dominantes de violência assente na violência física e agressão.
Palavras-chave: Infância; conflito e violência escolar; conceções e práticas sobre conflito e violência; competências sociais, morais e políticas
ABSTRAT
The research involves 16 children, both girls and boys, aged 9/10, attending the 4th grade at a private primary school in Porto. The aim is to portray them as social actors engaged in conflict situations during their playground time, detailing how they dealt with these situations, their resolutions, and their opinions on conflict and violence. The main argument is that understanding conflicts as dynamic issues and dense relational processes involving lots of meaning can only be achieved through observing and listening to the children’s social actions during the school playgrounds. These actions are inseparable from peer cultures, social groups, and their social interactions, during which children also develop essential social, moral, and political competencies for participating in social life and exercising citizenship. The argument draws on theoretical contributions from Childhood Social Studies, Gender and Childhood Studies, Violence and Conflict Studies, and Educational Sciences and supports it with ethnographic research involving children. The methods include participant observation, questionnaire surveys, and role-play techniques to describe, analyze, and comprehend conflicts during playgrounds, covering their frequency, diversity, gender-age configurations, and the forms they unfold and resolve. Throughout this journey and successive approaches to the research object, the highlighted observation is that non-conflict situations are more significant than conflict occurrences. Conflicts arise from (in)justices, provocations, disputes over object possession, physical aggression, and cognitive conflicts, often resolved by the children and among themselves. The deconstruction of the social negativity surrounding conflicts in school playgrounds reveals that, in these types of conflict, children mobilize values and rules from their cultures, gendered discourses, age statuses, and elective affinities. Retaliations are mainly verbal rather than physical, showcasing the construction of socio-moral and political skills to safeguard peer culture values and child social order through argumentation, dialogue, negotiation, and compromises. Furthermore, when distanced from specific conflict situations, these children tend to reproduce prevailing conceptions of violence based on physical violence and aggression.
Keywords: Childhood; school conflict and violence; conceptions and practices regarding conflict and violence; social, moral, and political skills
RESUMÉE
À partir d’une étude avec 16 enfants, filles et garçons âgés de 9/10 ans, fréquentant la 4ème année dans une école privée du premier cycle de l’enseignement de base dans la ville de Porto, il est montré comment ils se comportent en tant qu’acteurs sociaux engagés dans des situations de conflit pendant la récréation, comment ils les gèrent et les résolvent, ainsi que leurs opinions sur le conflit et la violence. L’argument principal est que seule l’observation et l’écoute des actions sociales que les enfants mènent entre eux pendant la récréation permettent de comprendre les conflits en tant que dynamiques conflictuelles et processus relationnels pleins de significations, intrinsèquement liés aux cultures associatives, groupes sociaux et sociabilités, pendant lesquels ils développent également des compétences sociales, morales et politiques essentielles à la participation à la vie sociale et à l’exercice de la citoyenneté. Basé sur les apports théoriques des études sociales de l’enfance, des études de genre et de l’enfance, des études sur la violence et le conflit, et des sciences de l’éducation, cet argument est soutenu par une étude auprès des enfants qui a utilisé l’observation participante, des questionnaires et la technique du jeu de rôle pour décrire, analyser et comprendre les conflits pendant la récréation, depuis leur fréquence, leur diversité et leurs configurations en termes d’âge et de genre, jusqu’à leur émergence, leur développement et leur résolution. Au cours de cette démarche et des différentes approches de l’objet d’étude, il a été constaté que les conflits étaient moins fréquents que les situations non conflictuelles; qu’ils étaient causés par (in)justices, provocations, disputes pour la possession d’objets, agressions physiques et conflits cognitifs, et qu’ils étaient résolus par les enfants eux-mêmes. En déconstruisant la négativité sociale qui pèse sur les conflits pendant la récréation scolaire, il a été constaté que les enfants mobilisent les valeurs et les règles de leurs cultures, les discours genrés, les statuts d’âge, mais aussi des affinités électives; que les représailles sont principalement verbales et non physiques, et mettent en évidence la construction de compétences socio-morales et politiques au service de la préservation des valeurs des cultures associatives et de l’ordre social des enfants, grâce à l’utilisation de l’argumentation, du dialogue, de la négociation et des compromis. Il a également été constaté que, en dehors de situations conflictuelles spécifiques, ces enfants reproduisent les conceptions dominantes de la violence basée sur la violence physique et l’agression.
Mots-clés: Enfance, conflit et violence scolaire, conceptions et pratiques du conflit et de la violence, compétences sociales, morales et politiques.