A Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) é uma das entidades parceiras do PRIORITY, um projeto europeu que tem como objetivo o desenvolvimento e avaliação de eficácia de um programa de intervenção psicológica direcionado para a prevenção do abuso sexual infantil.

Resultado de um consórcio entre instituições de três países – U.Porto (Portugal), Universidade de Hamburgo (Alemanha) e Instituto Karolinska (Suécia) – o Prevent It visa avaliar um método de intervenção psicológica para ajudar as pessoas com impulsos sexuais sobre crianças a adquirirem uma maior compreensão e controlo sobre os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos de forma a reduzir o risco de cometerem abusos sexuais.

“Pode ser bastante difícil para pessoas com impulsos sexuais que envolvem crianças obterem tratamento, pelo que se desenhou um programa de intervenção fácil de aceder, e que os ajuda a lidar com estes impulsos. A prevalência de abuso sexual infantil, inclusive a partir dos meios digitais e da internet, é um grave problema social, para o qual a ciência tem procurado respostas, nomeadamente ao nível da prevenção e redução do risco junto de potenciais abusadores sexuais”, refere Joana Carvalho, coordenadora da equipa portuguesa e investigadora do Laboratório de Investigação em Sexualidade Humana (SexLab), sediado na FPCEUP.

A prevenção do abuso sexual infantil através da implementação de abordagens psicoterapêuticas é já uma realidade no contexto europeu e mundial, e faz-se agora por intermédio de plataformas online, que permitem a confidencialidade e o acompanhamento de pessoas que procurem ajuda para o seu interesse sexual por crianças.

Este é o caso do PREVENT IT, um programa de intervenção cognitivo-comportamental criado no Instituto Karolinska (Suécia) por um grupo de psicólogos e psiquiatras, e cuja versão mais atual foi lançada para os contextos português e alemão.

De acordo com Christoffer Rahm, coordenador da equipa sueca, a primeira versão do programa, que decorreu exclusivamente em língua inglesa, demonstrou que a aplicação do programa resultou na redução, significativa, do consumo de pornografia infantil. Trata-se de atuar ao nível da prevenção, em pessoas que sabem ou sentem ter algum “interesse” por crianças, e que não encontram resposta especializada ou têm vergonha de solicitar ajuda nos serviços comuns de saúde.

Para Vanessa Azevedo, investigadora do projeto em Portugal, “as pessoas portuguesas que sintam estar em risco de abusar sexualmente de uma criança, podem agora encontrar uma resposta terapêutica de acesso simples, na sua língua, e acompanhadas por psicólogas da especialidade; a intervenção decorre ao longo de nove semanas, por intermédio da internet e sob anonimato”.

Espera-se que o programa de intervenção PREVEN IT possa estar, em breve, validado para os três países, fazendo parte da estratégia nacional e europeia de prevenção do abuso sexual de crianças. O PREVENT IT conta, ainda, com a monitorização externa do Instituto de Investigação em Saúde Mental da Universidade de Ottawa (Canadá) e da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (EUA).

Sobre o consórcio

A eficácia das três versões linguísticas do PREVENT IT será avaliada no âmbito do projeto PRIORITY (Prevention to Reduce Incidence Of Sexual Abuse by Reaching Individuals Concerned About Their Risk to Young People), financiado pela UE.

Este projeto resulta da colaboração entre investigadores e clínicos do Instituto Karolinska (Suécia), da Universidade do Porto (Portugal) da Universidade de Hamburgo (Alemanha), do Instituto de Investigação em Saúde Mental da Universidade de Ottawa (Canadá) e da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (EUA).

Através do PRIORITY pretende-se contribuir para a implementação da legislação europeia, através da redução de barreiras de acesso a medidas preventivas para indivíduos preocupados com o seu risco de cometer abuso sexual de menores, incluindo barreiras culturais e linguísticas, barreiras estruturais e técnicas, barreiras jurídico-legais e barreiras nacionais/ específicas de cada país.