Uma equipa constituída por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e do Centro Hospitalar Universitário de S. João (CHUSJ) está a testar novos alvos terapêuticos para a endometriose, uma doença ginecológica que afeta cerca de 10% das mulheres em idade fértil e que é uma das principais causas de infertilidade feminina.

Recentemente distinguido com o Prémio de Investigação da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (edição de 2020), no valor de 10 mil euros, o projeto “Endometriosis – unravelling the intricate crosstalk among endometrium and adipose tissue in the search of novel therapeutic targets” pretende desvendar os mecanismos moleculares da endometriose e testar, pela primeira vez, um novo tratamento para esta doença altamente incapacitante.

“A endometriose caracteriza-se por um crescimento ectópico [fora do lugar] do endométrio [tecido que reveste o útero]. Os sintomas principais são dor pélvica, recorrente e incapacitante, e infertilidade, condições que diminuem muito a qualidade de vida das mulheres e o seu bem-estar. Há dificuldade em controlar a dor e necessidade de interromper tratamentos quando há intenção de engravidar”, explica Delminda Neves, professora da FMUP e coordenadora da componente laboratorial do projeto.

Um estudo pioneiro

Para saber mais sobre a doença, os cientistas irão colher, analisar e caracterizar as células do endométrio e o tecido adiposo de mulheres com endometriose submetidas a cirurgia, através do estudo molecular, observações microscópicas e culturas de células.

No âmbito deste projeto, com duração prevista de dois anos, o grupo irá também desenvolver um estudo pioneiro sobre o tratamento da endometriose com metformina, “um fármaco seguro, vastamente utilizado no tratamento da diabetes, incluindo a diabetes gestacional”.

Além de baixar os níveis de açúcar no sangue (glicemia), a metformina intervém na secreção de estrogénio, na mitigação da inflamação e da oxidação e na redução do crescimento ectópico do endométrio. Esta substância também previne a “resposta hipermetabólica do tecido adiposo” característica da endometriose.

A expectativa é que este fármaco possa constituir-se como uma alternativa às escassas terapêuticas médicas existentes para a endometriose, que são exclusivamente de natureza hormonal.

O tratamento hormonal está associado a efeitos secundários relevantes, como o descontrolo do ciclo menstrual, a retenção de líquidos (inchaços) e dores de cabeça, além de estar contraindicado em várias mulheres, nomeadamente nas que sofrem de cancros hormodependentes ou com maior risco de tromboembolismo.

“Esperamos demonstrar o impacto da metformina no tratamento da endometriose, nomeadamente da dor crónica, sem interferir com a fertilidade e com o desejo de engravidar”, conclui Delminda Neves.

A equipa deste projeto é constituída Delminda Neves, Henrique de Almeida, Alexandra Gouveia e Ana Catarina Neto (FMUP/i3S), Adriana Rodrigues (i3S), Margarida Martinho (CHUSJ) e, como investigadora principal, Ana Sofia da Silva Fernandes (CHUSJ).