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Projeto pioneiro vai seguir um grupo de estudantes desde o 1.º ano do curso até aos primeiros anos de vida profissional.

Ser estudante do Ensino Superior não é fácil. Sair de casa, criar uma nova rede de amigos e dar resposta a um nível de exigência académica elevado pode ser difícil de gerir. Ser estudante de Medicina pode ser ainda mais complicado, quer pelo esforço que permitiu ao estudante ter notas para ingressar neste curso, quer pelos desafios que se lhe vão apresentar nos anos subsequentes. A pensar em tudo isto, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a desenvolver um estudo que pretende avaliar o perfil psicológico dos estudantes de Medicina.

Intitulado “To be a doctor” (Medical education: a longitudinal study of students’ satisfaction, performance and psychosocial profile), este projeto pioneiro vai seguir um grupo de estudantes desde o 1.º ano do curso até aos primeiros anos de vida profissional. De acordo com Margarida Braga, professora da FMUP e investigadora responsável pelo estudo, “o objetivo é avaliar a experiência que o curso de Medicina vai representar para os estudantes em função de características pessoais (género, personalidade, experiência pessoal, capacidade de comunicação, forma de lidar com o stress) e do contexto (exigências curriculares, atividades de lazer, relacionamentos afetivos e suporte social), a performance académica e a satisfação”.

Para isso, a equipa vai avaliar os estudantes através de entrevistas e resposta a questionários, de modo regular, ao longo dos seis anos de curso e nos três primeiros anos de prática clínica. A avaliação incluirá um estudo laboratorial com doseamento de substâncias que se sabe serem marcadores de níveis elevados de stresse e sinalizará o risco para algumas doenças.

Neste momento, estão a ser seguidos os estudantes que transitaram para o 2.º e o 3.º anos do Mestrado Integrado em Medicina da FMUP. Entre os dias 8 e 12 de setembro, serão recrutados os “caloiros” da Faculdade que agora iniciam a sua experiência no Ensino Superior.

Sabe-se que uma percentagem elevada de estudantes do Ensino Superior tem, por exemplo, níveis de ansiedade altos. Os investigadores do Departamento de Neurociências Clínicas e Saúde Mental da FMUP querem saber porquê, em que medida essa ansiedade está relacionada com as características pessoais de cada um e com a vida académica, e se há algum risco importante para a saúde dos estudantes. Pretendem ainda conhecer quais os fatores que protegem os estudantes e contribuem para manter o seu bem-estar. Vai ser pedido aos estudantes que indiquem o seu grau de satisfação com o curso e com a sua vida pessoal e social ao longo dos anos.

Os resultados do  trabalho vão “contribuir para o conhecimento científico de modo a melhorar a compreensão da experiência académica e profissional dos estudantes de medicina, do impacto pessoal e profissional dessa experiência”. Em última análise, as conclusões deste estudo vão permitir intervir, minimizando o stress dos estudantes de Medicina e melhorando a sua qualidade de vida. “O bem-estar físico e psicológico dos estudantes é a nossa maior preocupação”, frisa a investigadora, “por isso contamos com a sua adesão maciça”.

Neste momento, o “To be a doctor” está a analisar apenas os estudantes da FMUP. Mas, em breve, os investigadores vão incluir estudantes de outras faculdades. De resto, a equipa de investigação já colabora com estudos que estão a ser desenvolvidos noutras universidades do país, do Reino Unido e do Brasil. Em preparação está também a avaliação dos padrões do sono dos futuros médicos, que deverá ser realizada com a colaboração de uma equipa de investigação da Universidade de Aveiro e de Braga.