Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) estão a implementar um protocolo que visa tornar mais segura e eficiente a ventilação não invasiva em doentes com COVID-19, através da sua monitorização real e contínua, de modo a reduzir os casos de insucesso do tratamento e o recurso à ventilação invasiva.

O projeto “Accurate tidal volume monitoring to optimize safe non-invasive ventilation settings in patients with SARS-CoV-2”, coordenado por Miguel Gonçalves, foi contemplado com um financiamento de 30 mil euros pela iniciativa RESEARCH 4 COVID19, promovida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

De acordo com o professor e investigador da FMUP, o objetivo principal do projeto é criar “um protocolo de ajuste individualizado da ventilação não invasiva em doentes admitidos em cuidados intensivos com síndrome respiratória aguda grave devido ao novo coronavírus (SARS-CoV-2)”.

“Este novo protocolo irá permitir uma deteção precoce de problemas na ventilação não invasiva e uma resposta atempada, nomeadamente a implementação de parâmetros protetores e o ajustamento da sedação contínua”, afirma Miguel Gonçalves.

Espera-se que, desta forma, “seja possível reduzir a necessidade de intubação e de suporte de ventilação mecânica invasiva”, bem como “minimizar as complicações que lhe estão associadas e, consequentemente, otimizar os recursos utilizados no serviço de Medicina Intensiva”.

Evitar a ventilação invasiva

Também José Artur Paiva, professor da FMUP e diretor do serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João, considera que a estratégia proposta neste estudo constitui “um contributo para a medicina de precisão em suporte ventilatório”.

“Nos doentes COVID-19 com insuficiência respiratória hipoxémica, o esforço inspiratório intenso pode agravar a lesão pulmonar. A ventilação não invasiva é habitualmente considerada deletéria (perniciosa) nestes doentes, sobretudo se realizada prolongadamente”, explica o especialista.

No entanto, “é possível que uma melhor monitorização clínica durante a ventilação permita maiores taxas de sucesso e uma melhor seleção de doentes”.

Esforço conjunto

Este projeto é promovido pela Unidade de Investigação Cardiovascular (UNiC) da FMUP, e tem como parceiros institucionais o Serviço de Medicina Intensiva (onde os doentes serão estudados) e o Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Universitário de São João.

Além de Miguel Gonçalves, fazem parte da equipa de investigadores Alysson Roncally Carvalho, Roberto Roncon-Albuquerque Jr., Venceslau Hespanhol, Adelino Leite Moreira e José Artur Paiva.

O projeto “Accurate tidal volume monitoring to optimize safe non-invasive ventilation settings in patients with SARS-CoV-2” integra então o leque de 17 projetos liderados por investigadores da Universidade do Porto que serão apoiados no âmbito da primeira edição da “RESEARCH 4 COVID-19”. Esta iniciativa da FCT tem como objetivo melhorar a resposta do Serviço Nacional de Saúde no combate à pandemia por COVID-19.