Naquela que é uma “sala histórica para a cidade portuense”, como afirmou o historiador Joel Cleto, a Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) encheu-se de estudantes, docentes, técnicos e investigadores para assinalar o 198.º aniversário do ensino médico no Porto.

Com o objetivo de dar início a uma “oportuna e certamente muito necessária reflexão acerca da evolução e do futuro da FMUP como escola médica de referência”, a palestra arrancou com as palavras de boas-vindas de Altamiro da Costa Pereira.

O diretor da FMUP afirmou que “estamos a viver um momento em que a Faculdade, refletindo e procurando honrar o seu passado, não se esquece também de planear e de construir o seu futuro”.

Recuando aos primórdios

Intitulada «Breve História da Assistência Médica na Cidade do Porto e o Papel das suas Escolas Médicas», a ‘viagem’ proporcionada pelo historiador Joel Cleto começou por recordar os primeiros portuenses que habitaram a cidade há mais de seis mil anos.

Embora naquele tempo ainda não se conhecesse a figura de médico como mais tarde veio a suceder, o historiador sublinhou que vários documentos comprovam a existência de pessoas na comunidade que tinham como ‘missão’ prestar assistência aos mais necessitados.

“Os conhecimentos empíricos resultantes de dezenas de milhares de anos de contacto com a natureza constituíam um saber das propriedades ‘farmacêuticas’ de determinadas ervas e produtos que seriam manipulados nesse sentido”.

O historiador portuense Joel Cleto foi o orador convidado da sessão. (Foto: FMUP)

Saltando uns anos na História, o domínio dos romanos que se fez sentir na região há dois mil anos trouxe uma medicina mais próxima da que conhecemos atualmente, ou seja, baseada na Ciência, começou por explicar Joel Cleto.

“Por outro lado, não deixa de ser verdade que a cientificidade em torno do tratamento e da procura de curas ‘caminhou’ sempre ao lado de crenças e algumas superstições”. O arqueólogo e historiador desafiou a plateia a passear pela cidade e a descobrir os monumentos e marcas que na sua origem estão ligados a questões da saúde, ora na sua vertente científica, ora na base da superstição.

Perante um autêntico roteiro por locais emblemáticos, ruas, edifícios e locais de culto da Invicta, Joel Cleto cativou a audiência com histórias referentes a períodos marcantes na assistência médica, como o combate à peste e a outras doenças infeciosas que assolaram a região.

Da Régia Escola de Cirurgia até hoje

A ´viagem’ pela história dos cuidados médicos na cidade não terminaria sem uma assinável passagem pela história da própria Faculdade de Medicina da U.Porto.

“Em meados do século XVIII, passa a existir um maior interesse da cidade nas questões da formação, o que irá conduzir ao aparecimento dos estudos médicos no Porto, surgindo, num período de alguma instabilidade, aquela que é a antecessora da Faculdade de Medicina”.

Segundo o historiador, a burguesia portuense daquela época, “que manteve uma forte influência numa série de movimentos e que marcava a agenda política, para além de ter estado muito empenhada nas questões da formação”, terá então contribuído para que D. João VI decida criar a Régia Escola de Cirurgia.

Como já é sabido, anos mais tarde, em 1883, a Escola passou a denominar-se Escola Médico-Cirúrgica do Porto, e em 1911, com a criação da Universidade do Porto, a escola foi nela integrada como Faculdade de Medicina, sendo esta a mais antiga – juntamente com Ciências – das 14 faculdades que integram atualmente a U.Porto.

Mais recentemente, em 1959, a Faculdade de Medicina mudou-se para a sua atual ‘casa’, passando a partilhar o espaço com o Hospital de São João, cujo propósito foi sempre o de ser um Hospital-Escola.