Uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) diz que é preciso prevenir surtos de infeção por Acinetobacter baumannii em hospitais, em particular nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).

No contexto da pandemia de COVID-19, o grupo avaliou o risco atual de rápida transmissão desta bactéria em ambiente hospitalar e concluiu que estão criadas as condições para uma “tempestade perfeita”.

Num artigo científico publicado no Journal of Pathology, Microbiology and Immunology Diogo Duarte e Acácio Rodrigues avisam que “é preciso aumentar a sensibilização para a relevância deste agente patogénico” e “encorajar a implementação de medidas preventivas para mitigar os efeitos de possíveis surtos”.

Os autores temem que o redirecionamento dos recursos, materiais e humanos, para os doentes com COVID-19 possa levar à “deterioração das medidas destinadas a prevenir a A. baumanii e facilitar a sua transmissão e proliferação dentro das instituições prestadoras de cuidados de saúde.

“A situação atual pode promover a expansão da bactéria devido à completa lotação das Unidades de Cuidados Intensivos, à falta de tempo e ao burnout dos profissionais de saúde, à inevitável desorganização dos serviços hospitalares e ao atraso na deteção de A. baumanii. Podemos assistir ao aparecimento de uma ameaça grave”, alertam os cientistas da FMUP e CINTESIS/RISE.

Bactéria associada a elevada mortalidade

A transmissão de A. baumanii ocorre diretamente pelo contacto entre doentes infetados e pelo contacto dos doentes com profissionais de saúde ou com superfícies e equipamentos hospitalares, como aparelhos de ventilação, colonizados. Sabe-se que a bactéria pode persistir durante largos meses nestes locais.

A infeção pode manifestar-se de diferentes formas, desde pneumonias a infeções urinárias, podendo ser de difícil diagnóstico e tratamento e estando associada a elevadas taxas de mortalidade (até 43% em doentes internados em UCI).

Além de ser altamente transmissível, esta bactéria tem-se tornado cada vez mais resistente a um grande número de antibióticos utilizados no tratamento de infeções bacterianas, bem como aos desinfetantes comummente usados na limpeza das superfícies e equipamentos hospitalares, em parte devido à sua capacidade para formar biofilmes.

O que fazer para travar a A. baumannii

Para os investigadores, uma das medidas para fazer face a esta “ameaça emergente” é a triagem e a vigilância ativa de doentes de alto risco, especialmente de doentes críticos internados em Cuidados Intensivos, “despistando precocemente a possível colonização”.

Adicionalmente, “é preciso desenvolver estratégias de prevenção da transmissão da bactéria, o que pode incluir checklists, educação dos profissionais e uma boa comunicação”, afirmam os especialistas.

De modo a evitar a resistência da bactéria aos desinfetantes, os autores do estudo recomendam a rotatividade desse tipo de dos compostos a cada três meses, existindo também evidência de que alguns podem prevenir tal resistência sem comprometer a eficácia da desinfeção, como é o caso de peróxido de hidrogénio, usado em nebulização/névoa seca.