Seminário Aberto de Filosofia, Arquitectura e Inter-Artes | Sessão 1 (2025)
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Sessão 1 12 de fevereiro 2025 | 10h30 Fundação Marques da Silva Filosofia e Arquitetura Diz-me (uma vez que és tão sensível aos efeitos da arquitectura), não reparaste, passeando-te nesta cidade, que
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Sessão 1
12 de fevereiro 2025 | 10h30
Fundação Marques da Silva
Filosofia e Arquitetura
Diz-me (uma vez que és tão sensível aos efeitos da arquitectura), não reparaste, passeando-te nesta cidade, que entre os edifícios de que ela está povoada, uns são mudos; outros falam; e outros, enfim, que são os mais raros, cantam?
Paul Valéry, Eupalino, ou o Arquiteto (1921)
Na sequência de uma parceria científica e de investigação entre o grupo “Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal” (Instituto de Filosofia, UP) e a Fundação Marques da Silva, na qual se iniciou um ciclo de seminários abertos sobre Filosofia, Arquitetura e Inter-Artes, que decorreu nestas instituições ao longo do ano de 2024, chegou-se à compreensão da importância de consolidar o debate filosófico sobre a arquitetura. Neste sentido, propomos um novo ciclo de seminários abertos cujo objetivo seria juntar os esforços dos investigadores em filosofia e em arquitetura para refletir a arquitetura nas suas vertentes ontológica, estética e ética, tendo como ponto de partida textos filosóficos sobre o tema, que permitam lançar uma frutuosa discussão interdisciplinar, bem como textos de arquitetos com reflexões filosóficas explícitas ou implícitas.
Nos ciclos anteriores, discutiram-se temas como a noção de habitar, a relação entre casa e mundo, a noção e experiência do terreno (topos), a relação entre arquitetura e felicidade, e o modo como a arquitetura lida com a espácio-temporalidade. Retomaremos, certamente, estes assuntos, e tentaremos seguir alguns caminhos já abertos, como as diversas referências de Fernando Távora a Ortega y Gasset (a questão da “barbárie do especialismo”) e, em especial, a Fernando Pessoa, numa busca anunciada de um “supra-Camões da arquitetura”, de uma superação de dualismos e de uma assunção de uma pluralidade em vista de uma harmonia: “Mas se é fatal a participação de todos os homens na organização do espaço, tal participação só conduzirá à harmonia na medida em que ela se transforme em colaboração e colaborar significa agir em comum, com uma mesma intenção, com um mesmo sonho” (TÁVORA, 1962).
Neste novo ciclo que propomos inaugurar no início deste ano, procuraremos partir de ideias filosóficas relevantes acerca da arquitetura presentes em textos fundamentais. Propomos uma revisitação de algumas obras clássicas, como De architectura de Vitrúvio (a tríade firmitas, utilitas, venustas, por exemplo), mas também a discussão da arquitetura como obra de arte nas Lições de Estética de Hegel e no terceiro livro de O mundo como Vontade e Representação de Schopenhauer. Retomaremos o diálogo imaginário entre Fedro e Sócrates de Eupalino, ou o Arquiteto de Paul Valéry, diálogo marcado pela tensão entre teoria e prática no processo criativo em arquitetura e pela comunicação que as obras arquitetónicas estabelecem com a cidade e a sociedade. Propomos igualmente debruçar-nos sobre algumas obras de filósofos contemporâneos que se ocuparam da arquitetura, em especial o fenomenólogo Roman Ingarden, que dedicou uma parte da sua obra A ontologia da obra de arte (Untersuchungen zur Ontologie der Kunst: Musikwerk. Bild. Architektur. Film) à arquitetura; o filósofo Vilém Flusser, que em The Freedom of the Migrant dedica vários ensaios à permeabilidade e maleabilidade do habitar numa sociedade em fluxo, numa rede global de circulação, o que supõe repensar a mudança de terreno, de casa, de país (cap. 4 – To be unsettled one first has to be settled), o planeamento (cap. 5 – Planning the unplannable) e a casa (cap. 9 – Building houses); e o filósofo Roger Scruton, conhecido pela sua teoria estética da arquitetura em The Aesthetics of Architecture e pela sua crítica mordaz ao modernismo em The Classical Vernacular: Architectural Principles in an Age of Nihilism. Os textos aqui propostos são apenas pontos de partida, portas abertas, para uma reflexão crítica conjunta a fazer.
Organização
Celeste Natário – Mário João Correia
RG Raízes e Horizontes da Filosofia e da Cultura em Portugal
Instituto de Filosofia da Universidade do Porto – UID/00502
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)
Fundação Marques da Silva