O amor NÃO é foi o mote da campanha que, ao longo das últimas semanas, mobilizou a comunidade estudantil do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) em torno do debate sobre a violência nas relações. Uma iniciativa conjunta, entre o Gabinete de Apoio ao Estudante (GAE) e o Gabinete de Comunicação e Imagem (GCI) do ICBAS, que procurou alertar os estudantes para esta temática.

Partindo do pressuposto que “não sabemos o que é o amor, mas sabemos exatamente o que não é”, esta ação procurou transpor vários problemas reais, transversais a jovens de várias faixas etárias, para plataformas que lhes são familiares. O objetivo: lutar contra a normalização de comportamentos de violência, alertar para a sua existência e perpetuação, promovendo a denúncia.

Das paredes do ICBAS, para os feeds das redes sociais

A campanha o amor NÃO é arrancou no passado dia 14 de fevereiro, com uma ação que juntou cerca de duas dezenas de estudantes, para pintarem as frases da campanha na entrada do complexo partilhado pelo ICBAS e pela Faculdade de Farmácia (FFUP). Foi desta forma que GAE e GCI, em conjunto com a Associação de Estudantes do ICBAS (AEICBAS), lançaram o mote desta iniciativa que continuou nas redes sociais, com os alertas e comentários de vários especialistas na área.

A vice-presidente da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Renata Benavente, destacou na sua participação a predominância da violência psicológica e emocional nas relações de intimidade. “A violência no namoro assume várias formas, sendo a violência psicológica e emocional a mais difícil de identificar, isto porque, este tipo de violência inclui comportamentos associados a manifestações de amor”, refere a responsável.

Uma ideia reforçada também pelo psicólogo e professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Ricardo Barroso: “33% dos casais de namorados assumiu já ter sofrido de violência no namoro, maioritariamente psicológica. O objetivo é sempre obter poder sobre o outro, controlar o/a parceiro/a, tudo isto de uma forma muito subtil, mas que tendem a aumentar ao longo do tempo”.

Estar atento a comportamentos abusivos e saber identificá-los é fundamental para que os mais jovens possam denunciar este tipo de ocorrências. “É essencial que se desenvolvam ações de prevenção, alertando as vítimas para que possam reconhecer que estão envolvidas em situações de violência e incentivando-as a atuar e a partilhar com os mais próximos qualquer comportamento abusivo”, salienta Renata Benavente.

A Campanha pintou as paredes do complexo do ICBAS/FFUP. Foto: ICBAS)

A violência doméstica e a pandemia

A violência doméstica e, em particular, o agravamento deste grave problema de saúde pública durante a a pandemia de COVID-19, foi outro dos temas abordados na campanha, pela voz da psiquiatra e professora do ICBAS, Mariana Pinto da Costa. “As políticas de isolamento e distanciamento social surgem como potenciais fatores precipitantes de episódios de violência doméstica. Para além disso, durante este período, o acesso a serviços de saúde especializado ficou comprometido o que dificultou o trabalho dos profissionais de saúde na gestão destes casos”, explicou a docente.

De facto, o papel dos médicos de saúde geral e familiar é crucial na gestão de casos de violência, sendo por isso a aposta na formação essencial, como defende Diana Nadine Moreira, estudante de Mestrado em Medicina Legal do ICBAS e médica interna de Medicina Geral e Familiar. E deixou o alerta: “Os médicos de família apresentam algumas dificuldades na gestão deste género de casos, nomeadamente a aparente contradição entre o sigilo profissional e a obrigatoriedade de denúncia, bem com o medo pela segurança das vítimas. A falta de formação e a inexistência de planos estruturados são fatores que dificultam esta gestão.”

Dos murais do ICBAS, ao feed das redes sociais, a campanha o amor NÃO é procurou assim prevenir, alertar e promover a denúncia de casos de violência entre a comunidade académica.