Correr para não chegar tarde a uma aula, ao autocarro que está prestes a passar, ou a um jantar com amigos. A vida é feita de correrias, mas na FEUP, ninguém corre melhor que a estudante do 2.º ano da licenciatura em Bioengenharia, Rita Barbosa.
Aos 19 anos, a atleta natural do Porto já conta com quase uma dezena de medalhas de ouro conquistadas em Campeonatos Nacionais de sub-18, sub-20, sub-23 e Universitários nas últimas oito temporadas.
A atual campeã nacional sub-23 nos 200 metros em pista coberta é uma das jovens mais promissoras do atletismo nacional, e representa uma equipa que tem ombreado com as maiores potências nacionais da modalidade.
Como é que o atletismo surgiu na tua vida?
Pratiquei desporto toda a minha vida, mas quando tinha 11 anos participei numa competição de atletismo de desporto escolar que uma professora recomendou, depois de me ter dito para experimentar esta modalidade de uma forma mais “séria”. Quando comecei, apaixonei-me imediatamente e soube que tinha encontrado o desporto que me fazia feliz. E nunca mais o larguei.
O que é gostas mais na prática do atletismo?
Adoro as sensações que este desporto me proporciona, a competição, a forma como me permite traçar objetivos dos quais dependo apenas de mim para alcançar. Tem vindo a proporcionar-me muitas experiências incríveis, bem como a ensinar-me muitas lições e valores que se aplicam a qualquer situação, dentro e fora do desporto. Além disso, também trouxe várias pessoas importantes para a minha vida.

Rita Barbosa nos Campeonatos Nacionais Universitários em pista coberta, em 2025.
Fazes parte da ACD Jardim da Serra, a equipa que tem ombreado com as duas grandes potencias do atletismo em Portugal, Sporting CP e SL Benfica. O que é que te fez escolher a AJS e o que é que a torna tão especial?
Eu conhecia pessoas que representavam a AJS e, quando subi para o escalão sub-20, o clube manifestou interesse em contratar-me. Como era um dos clubes em ascensão no atletismo, já a participar na primeira divisão, e com muitas caras conhecidas, decidi aceitar a proposta. Agora que já o represento há três anos, posso dizer que o clube se preocupa com os seus atletas e trabalha sempre no sentido de elevar o seu nível, razão pela qual acredito que esteja a ter este sucesso.
Como é que é representar uma equipa cuja dimensão, apesar de ser inferior, bate-se com os gigantes?
Acho que o facto de a equipa ser menor em termos de dimensão é precisamente aquilo que a torna mais impressionante. É emocionante competir contra os clubes que mais atletas têm, estar presente nas competições importantes a representar um clube que talvez não seja tão visível, e provar que isso não impossibilita a obtenção de grandes resultados.

A equipa feminina da ACD Jardim da Serra, depois da conquista do 3.º lugar no Campeonato Nacional de Clubes de pista curta, em 2025. FOTO: Facebook ACD Jardim da Serra
Apesar de jovem, já tens um currículo competitivo muito interessante, com a conquista de vários títulos nacionais. Qual é o momento mais alto da tua carreira até agora?
Diria que os momentos mais marcantes são sempre as primeiras experiências. Não sei se consigo escolher um só, mas posso dizer que a primeira medalha nacional, o primeiro título nacional e a primeira vez a representar a seleção numa prova de estafetas são definitivamente as memórias que mais se destacam.
Esperavas ter este tipo de desempenho quando começaste a carreira de atleta?
Acredito que quando começamos a prática de um desporto, ainda em criança, nunca pensamos seriamente no que poderemos vir a alcançar. Sempre fui competitiva, sempre tive sonhos e aspirações, mas comecei pelo amor à prática de desporto, pela felicidade que me traz, e o desempenho veio como consequência disso.
Até onde esperas chegar na tua carreira desportiva?
O sonho que predomina desde pequena é, claro, participar nuns Jogos Olímpicos. No entanto, representar o país em palcos cada vez maiores é sempre o objetivo, pelo que espero vir a participar em competições europeias, mundiais e, no culminar de tudo isso, nos Jogos.

Rita Barbosa no Encontro Ibérico de Estafetas, em maio de 2024.
Que ídolos é que tens nesta modalidade?
A nível internacional, gosto muito da Shelly-Ann Fraser-Pryce, uma sprinter jamaicana altamente galardoada, bem como da Gabby Thomas, que concilia o atletismo com os estudos em Harvard, e, claro, o único Usain Bolt. Olhando para Portugal, admiro a Lorene Bazolo, que com 41 anos continua a estar ao seu mais alto nível e retém recordes nacionais de 60m, 100m e 200m.
Estás a frequentar a Licenciatura em Bioengenharia. Estás a gostar do curso?
Sim, é um curso desafiante e bastante versátil com as cadeiras que engloba, o que me tem ajudado a perceber melhor aquilo de que gosto realmente.

Campeonatos Nacionais de Clubes, em fevereiro de 2025. FOTO: Marcelino Almeida
O que é que te fez escolher a FEUP e a área da Bioengenharia? Sempre foi um objetivo para ti entrar aqui na FEUP?
Sempre fui uma pessoa um pouco indecisa e que gostava de muitas áreas, mas quando soube da existência deste curso foi difícil imaginar-me a escolher outro, uma vez que a Bioengenharia permite precisamente conciliar as diferentes áreas e viabiliza vastas opções profissionais. Quando me decidi pela engenharia não houve quaisquer dúvidas na escolha da FEUP. Primeiro, por ser conhecida pela sua excelência, conotada como a melhor faculdade de engenharia do país. Segundo, porque cresci a ouvir falar dela, através de familiares cuja história de vida está a ela ligada.
Como é que é concilias os trabalhos diários com os estudos na FEUP?
Parte tudo da vontade, do gosto por aquilo que faço e por uma questão de organização. É preciso saber criar prioridades, assim como estar disposto a fazer sacrifícios. Tenho também a sorte de ter uma rede grande de suporte por parte de família, amigos e do meu treinador.
O que é que mudarias para poder facilitar esta conciliação?
Talvez maior flexibilidade por parte dos professores para quem tem o estatuto de estudante-atleta, nomeadamente com alargamento de prazos, permissão da mudança de datas de frequências em dias pós-competições e também a disponibilização de aulas gravadas.
Quais é que são os grandes objetivos para a tua vida enquanto atleta e engenheira?
Gostaria de continuar a conciliar ambos durante o tempo que me for possível, e trilhar um percurso único e uma carreira da qual me orgulhe. Espero continuar a ser positivamente desafiada e a evoluir para nunca me sentir presa ou estagnada, quer como atleta, quer como engenheira.

Rita Barbosa no Campeonato Nacional Universitário de Atletismo Pista Curta, Estafeta feminina, em 2025. FOTO: FADU