Jaime Gabriel Silva é um exemplo inspirador de como a ligação à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) pode ser duradoura, dinâmica e profundamente transformadora. O engenheiro, nascido no Porto, é licenciado em Engenharia Civil (1986). Voltou anos mais tarde à Faculdade de Engenharia para um mestrado em Construção de Edifícios (1997), que conciliou sempre com a sua atividade profissional no mercado de trabalho. Regressou há dois anos à faculdade, desta vez para um doutoramento em Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambiente com foco na gestão de ativos. “Com sucessivas passagens pela FEUP como estudante, seria estranho não concluir que a experiência tem sido boa”, afirma com humor e orgulho, o alumnus.
A sua ligação à FEUP começou nos anos 80, num tempo exigente e desafiante, em que a formação de engenharia era marcada por um rigor académico intenso. Mas foi precisamente essa exigência que moldou as bases do seu pensamento crítico, a sua capacidade de resolver problemas e de enfrentar desafios complexos — competências que considera fundamentais para o seu percurso profissional.
A exigência, por um lado, e a necessidade de estudar de que forma devia estudar, por outro, trouxeram competências que se revelaram muito úteis para a atividade profissional e confiança para enfrentar os problemas que se colocam aos engenheiros. A FEUP preparou-me muito bem para o mercado de trabalho, mesmo quando segui caminhos diferentes do que inicialmente esperava, afirma.
Na transição para o mundo do trabalho, surgiram opções inesperadas e oportunidades que desafiaram as suas previsões iniciais. “Fui trabalhar em áreas diferentes daquilo que esperava e consegui encontrar caminhos para me desenvolver profissionalmente.” Essa adaptabilidade foi determinante para uma carreira multifacetada, que passou pela Comissão de Coordenação da Região Norte, pela IBM, pelo Laboratório do CICCOPN e pela Fase – Estudos e Projetos S.A., antes de se fixar no setor das águas, onde se destacou como líder técnico e gestor.
É quadro da Águas do Douro e Paiva (AdDP) desde 1998, empresa do Grupo Águas de Portugal, onde foi Diretor de Engenharia, tendo mais tarde sido requisitado para desempenhar funções de administrador em várias empresas do Grupo. Atualmente, é Assessor da Administração da AdDP e lidera a área de Inovação, cargo que abraçou com entusiasmo e espírito de missão.
A importância do Programa FEUP PRIME
Foi neste contexto que nasceu a parceria entre a AdDP e o programa FEUP PRIME, uma colaboração que Jaime reconhece como essencial para promover a ligação entre a academia e as empresas e que ajudou a concretizar: “como assumi o desafio de criar uma área de inovação, na AdDP, comecei a dialogar com diferentes entidades e, naturalmente, a FEUP foi uma delas. Em conversa com a professora Ana Camanho, fiquei a conhecer o Programa FEUP Prime”, relembra o engenheiro. A adesão ao PRIME foi aprovada e, desde então, a parceria tem crescido em diversos aspetos e tem-se traduzido em múltiplas iniciativas. Um exemplo é o Company’s Day da empresa, um evento anual realizado com o apoio da FEUP, que promove a partilha de conhecimento, possibilita o networking e o contacto com os estudantes. A parceria trouxe, segundo Jaime, “benefícios muito concretos e visíveis para ambas as partes”, contribuindo para a aproximação entre a investigação e aa necessidades que o mercado enfrenta neste setor.
Para Jaime Gabriel Silva, a ligação entre universidades e empresas é vital. “A colaboração é o cerne da sobrevivência das organizações. Sem essa partilha de conhecimento e alinhamento de objetivos, tanto empresas como instituições académicas correm o risco de se tornarem irrelevantes”, sublinha. No seu entender, o programa FEUP Prime é um excelente exemplo de como essa ponte pode ser bem construída e sustentada.
Mas o contributo do alumnus vai além da ponte entre setores. Em 2021, coordenou a criação do Water Co-Re CoLAB, um Laboratório Colaborativo focado na água, com o envolvimento de 15 entidades empresariais e académicas. “Foi um trabalho de alguns meses, muito assoberbante, mas também muito compensador – um desafio ganho” e “um dos desafios profissionais mais gratificantes em que tive oportunidade de estar envolvido”, assegura o engenheiro.
Acredita firmemente que a colaboração entre universidades e empresas será cada vez mais essencial. “A capacidade colaborativa entre instituições vai ser (já é) a única forma das organizações não definharem.” Para Jaime Gabriel Silva, essa colaboração deve assentar numa relação de confiança, partilha e visão comum: “A academia precisa de ir ao encontro das necessidades das empresas, e estas devem reconhecer o valor do conhecimento gerado nas universidades.”
O engenheiro civil destaca ainda a crescente valorização das soft skills como uma mudança positiva no ensino da engenharia. “Enquanto as capacidades técnicas adquiridas foram indubitavelmente muito robustas, na minha época a transmissão de soft skills era limitada. Hoje, esse equilíbrio é melhor conseguido e muito necessário”, comenta.
Além do papel de engenheiro e gestor, Jaime é também docente. Leciona no ISEP, desde 1990, e mantém um compromisso contínuo com a formação das novas gerações, reforçando a importância de manter a aprendizagem contínua. Desafia os jovens a não seguirem cegamente os modelos do passado, dizendo que “não vale a pena valorizar demasiado as carreiras de colegas mais velhos. O futuro vai ser muito diferente. Vale a pena combinar a profissão com a possibilidade de evoluir em diferentes áreas de conhecimento.”
Os conselhos de Jaime Gabriel Silva
Aos jovens engenheiros que agora entram no mercado de trabalho, deixa um conselho claro: “Não copiem carreiras do passado. Preparem-se para um futuro em constante mudança, onde o conhecimento técnico, a capacidade de aprender continuamente e a aptidão para colaborar serão os principais trunfos.”