2025 marca uma era em que o andebol português está nas bocas do mundo, graças à melhor prestação de sempre de uma Seleção Nacional no Campeonato do Mundo da modalidade. O quarto lugar na maior competição de Seleções demonstra o nível de qualidade, competência e talento do andebol português, e eleva a fasquia de um futuro que se avizinha brilhante.

Um dos responsáveis por essa prestação inédita é estudante do Mestrado em Bioengenharia (M.BIO) da FEUP.

João Gomes é andebolista do Sporting Clube de Portugal e da Seleção Nacional, e aos 22 anos, o atleta natural de Águas Santas é, mais do que uma promessa, uma certeza de que o futuro da modalidade está em boas mãos.

João Gomes

João Gomes no Portugal – Chile, jogo do 29.º Campeonato do Mundo de Andebol 2025, em Baerum Oslo, Noruega. FOTO: Sasa Pahic Szabo / kolektiff

Como é que o andebol surgiu na tua vida?
O andebol surgiu na minha vida quando o meu tio, que foi jogador de andebol, na posição de pivô, me introduziu ao desporto ao convidar-me para ir assistir a um jogo dele. Como gostei muito e queria experimentar, pouco depois ele levou-me ao Águas Santas, onde fiz grande parte da minha carreira até agora.

Com 17 anos, estreaste-te ao mais alto nível pelo Águas Santas, e logo com uma exibição de encher o olho, onde marcaste cinco golos na Supertaça 2019. O que é que sentiste nesse momento?
Eu sabia que a Supertaça ia ser um jogo de alto nível e que, como era estreante em sénior, ia ser o primeiro jogo em que ia ser convocado, e que possivelmente não ia jogar ou então jogaria muito pouco tempo, mas o treinador José António lançou-me logo na primeira parte e o jogo correu-me muito bem, marquei cinco golos, e isso levou a que sentisse que conseguia estar e jogar a este nível, e poderia ter algum futuro na modalidade.

A tua qualidade levou-te à Seleção Nacional, onde és uma das caras da nova geração. Era algo que esperavas conseguir alcançar tão rapidamente?
A chegada tão rápida à Seleção Nacional, claro que não é um caminho fácil, porque estamos a falar de jogar contra, e com, os melhores jogadores do mundo. Mas penso que com o trabalho que faço todos os dias, não diria ser uma surpresa a minha convocatória, porque tento sempre colocar os meus objetivos o mais alto possível, sempre no próximo patamar. Acredito que isso também faz com que eu consiga crescer e atingir estes resultados.

João Gomes

João Gomes após o triunfo de Portugal sobre a Espanha, encontro da Main Round do Campeonato do Mundo de Andebol 2025. FOTO: Sasa Pahic Szabo / kolektiff

Passadas algumas semanas da prestação histórica da Seleção no Mundial de Andebol, é possível colocar em palavras aquilo que alcançaram?
Penso que a palavra é mesmo essa: histórico. Nestes últimos anos, a nossa seleção tem vindo a alcançar muitos bons resultados que são fruto, não só do nosso trabalho individual, mas também da coesão do grupo, do trabalho que fazemos nos clubes e também de quando nos reunimos na seleção. Acho que não é uma grande surpresa conseguir combater de frente contra estas grandes seleções do mundo, como a Alemanha, a França, mas penso que temos ainda mais caminho por fazer.

O que é que esperas alcançar na tua carreira de jogador de andebol?
Espero continuar a fazer aquilo que tenho feito até agora, que é poder viver da modalidade, continuar a ser profissional, e alcançar grandes conquistas. Ganhar campeonatos e ganhar taças, coisas que são o objetivo de qualquer jogador.

Estás a frequentar o Mestrado em Bioengenharia. Estás a gostar do curso?
Sim, Bioengenharia engloba áreas que eu sempre gostei, como a biologia, a matemática, a química e a física, mas também gosto do curso, particularmente, pela parte laboratorial. Gosto muito de fazer as experiências e de ter essa parte prática.

O que é que te fez escolher a FEUP? Sempre foi um objetivo para ti entrar aqui?
A FEUP é uma faculdade de renome nacional e internacional, e penso que qualquer aluno que queira ingressar em engenharia tem a FEUP como ponto de referência.

João Gomes Andebol 6 Sporting

João Gomes ao serviço do Sporting Clube de Portugal. FOTO: Facebook Sporting CP – Modalidades

Como é que é concilias os trabalhos de atleta profissional no Sporting CP com os estudos na FEUP?
Conciliar a carreira estudantil e desportiva não é fácil, até pela distância existente atualmente. Estar em Lisboa e ter sempre muitas viagens para fazer com o clube, faz com que seja impossível estar presente nas aulas e na parte prática laboratorial, por isso tento sempre estudar alguma coisa para também não perder o rumo, mas é complicado.

O que é que mudarias para poder facilitar esta conciliação?
Penso que deveria ser possível mudar as datas de exames, para não serem só em época especial, porque, por exemplo, nesta época de exames de janeiro, estive presente no Campeonato do Mundo, e foi-me impossível estar presente, e mais tarde, na época especial, também por estar em competição, ao serviço do clube com competições na Taça, no Campeonato e na Liga dos Campeões. É quase impossível ir às fases normais de exames, mas penso que ter, por exemplo um tutor para poder conciliar com os professores, poder estar presente nas partes laboratoriais, nas aulas online também, poderia ser interessante. Há vários pontos onde é possível acrescentar ferramentas que permitam ajudar a conciliar a carreira desportiva e a estudantil, mesmo a uma longa distância.

Quais são os grandes objetivos para a tua vida enquanto andebolista e enquanto engenheiro?
Enquanto andebolista, espero conseguir viver da modalidade, mas sabendo que a carreira de um desportista nunca é assim tão longa, é importante estar preparado nesta área da engenharia para quando acabar a carreira desportiva. Acabar o curso, a esta distância física, fica complicado, sendo que também há a possibilidade de ir jogar para o estrangeiro, o que impossibilitaria ainda mais.

João Gomes Andebol

João Gomes no Portugal – Estados Unidos, jogo do 29.º Campeonato do Mundo de Andebol 2025, em Baerum Oslo, Noruega. FOTO: Sasa Pahic Szabo / kolektiff