2025 marca uma era em que o andebol português está nas bocas do mundo, graças à melhor prestação de sempre de uma Seleção Nacional no Campeonato do Mundo da modalidade. O quarto lugar alcançado na maior competição de Seleções demonstra o nível de qualidade, competência e talento do andebol português, e eleva a fasquia de um futuro que se afigura brilhante.
No epicentro desta autêntica reviravolta na modalidade está o talento de toda uma geração de jovens jogadores. Um deles é Hugo Costa, andebolista da Artística de Avanca, equipa da Primeira Divisão de Andebol, e estudante do Mestrado em Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
O pivôt de 23 anos é um dos melhores marcadores da equipa de Estarreja, com 43 golos em onze jogos no principal campeonato português, e conta com um currículo pautado por um percurso nas Seleções Jovens, onde faturou já 44 golos em 24 internacionalizações.
Nesta conversa com o andebolista natural do Porto, ficámos a conhecer as suas origens, como concilia a vida de estudante com a de desportista, e os principais objetivos em ambas as áreas.
Como é que o andebol surgiu na tua vida?
O andebol surgiu na minha vida de uma forma muito natural, até porque parte da minha família sempre teve esse contacto com a modalidade, porque praticaram-na desde muito cedo. O meu pai foi o grande impulsionador desta minha aventura no andebol, depois de uma grande desilusão que tive aos dez anos, por não ter dado seguimento ao meu sonho do momento que era, como na maior parte dos jovens, ser jogador de futebol. Foi, então, aí que surgiu a possibilidade de ir para o Boavista, que treinava na escola Fontes Pereira de Melo, escola essa que frequentei no meu 2º e 3º ciclos. E assim foi, num sábado de manhã, fui experimentar pela primeira vez a modalidade e o bichinho que, outrora, foi destruído pela desilusão de não poder ser jogador de futebol, voltou a ganhar uma nova vida e aí tive a certeza: queria ser jogador de andebol!
Estás a jogar na Primeira Liga de andebol, e estreaste-te com 17 anos a marcar o teu primeiro golo no campeonato. Era algo que esperavas conseguir alcançar tão rapidamente?
O meu percurso no andebol sempre se pautou por uma grande ambição em poder ser melhor e estar ao melhor nível. Na altura, poder estrear-me com 17 anos no Águas Santas, na Primeira Liga, foi uma grande alegria, porque estava a conquistar mais um objetivo. Eu nunca coloquei metas etárias para o meu percurso no andebol, porque sempre quis que elas acontecessem o mais rapidamente possível pelo meu mérito. O meu primeiro golo acabou por surgir no dia da minha estreia e tentei tornar isso o mais natural possível, porque foi só mais um objetivo cumprido.

Hugo Costa, camisola 17 da Artística de Avanca.
O que é que esperas alcançar na tua carreira de jogador de andebol?
O meu principal objetivo na minha carreira é alcançar o máximo rendimento possível, sempre pautando o meu percurso pelo trabalho árduo e pela dedicação. Defini metas bem claras, nas quais trabalho ininterruptamente para as concretizar. Pretendo, assim, atingir o expoente máximo das minhas capacidades, de forma a sentir, no final, que realizei plenamente o meu potencial.
Que ídolos é que tens nesta modalidade?
Não tenho um ídolo em específico, mas aprecio e procuro aprender com vários jogadores, especialmente aqueles que atuam na mesma posição que eu. Entre eles, destaco a admiração pelo percurso do Luís Frade, que considero uma referência pelo caminho que traçou.
Estás a frequentar o Mestrado em Engenharia Mecânica. Estás a gostar do curso?
Em relação à vertente académica, estou a gostar do curso, tem sido desafiador, mas é muito gratificante aprender sobre conceitos tão aplicáveis à prática e à indústria.
O que é que te fez escolher a FEUP e Engenharia Mecânica? Sempre foi um objetivo para ti entrar aqui na FEUP?
Escolher a FEUP passou a ser um objetivo académico quando estava no secundário, e estava indeciso entre o curso de Engenharia e Gestão Industrial e Engenharia Mecânica. As minhas internacionalizações pela seleção nacional nos escalões jovens permitiram que pudesse estar um bocadinho mais relaxado com a minha entrada na faculdade, e não passar pelo stress normal dos jovens estudantes que anseiam entrar na faculdade.

Hugo Costa com Ricardo Brandão (dir.) e Francisco Costa (esq.) no Portugal – Dinamarca, no U19 EHF Euro 2021. FOTO: Sasa Pahic Szabo / kolektiff
Como é que é concilias os trabalhos no Artística de Avanca com os estudos na FEUP?
Acaba por não ser fácil, porque perdemos uma hora na viagem para Avanca, e muitas vezes preciso de faltar às aulas que começam a partir das 16:00 por causa dos treinos.
O que é que mudarias para poder facilitar esta conciliação?
Eu acho que o desporto de alta competição não é visto ainda de uma forma tão séria pelas unidades de ensino. É claro que já há mais mecanismos de proteção do estudante-atleta, para que, por exemplo, possa organizar outra data de um teste que, por motivos profissionais, teve de faltar. Mas devia haver um trabalho em conjunto das duas entidades para que um bom atleta seja também um bom estudante.
Quais é que são os grandes objetivos para a tua vida enquanto andebolista e enquanto engenheiro?
Enquanto andebolista reitero aquilo que disse acima, e enquanto Engenheiro que possa ter um trabalho que me realize profissionalmente, e que me dê o mesmo gozo como tenho em ir para o treino.

Hugo Costa no Artística de Avanca – Águas Santas.