Aos 21 anos, Filipa Pato concilia os estudos no Mestrado em Bioengenharia na FEUP com a competição desportiva ao serviço da Associação Académica de São Mamede (AASM), a equipa que comanda o campeonato da Segunda Divisão feminina em voleibol, com um registo imaculado de 19 vitórias em outros tantos jogos.
Como se não bastasse, a jovem natural de Oliveira do Bairro lidera o Departamento Desportivo da Associação de Estudantes da FEUP (AEFEUP), cargo que assumiu em junho de 2024.
Seja dentro ou fora de campo, liderar é algo natural para a distribuidora que ambiciona seguir um rumo profissional que relacione o desporto e a Engenharia.

FOTO: Facebook Associação Académica de São Mamede
Como é que o voleibol surgiu na tua vida?
A minha irmã começou a jogar no desporto escolar quando foi para o 5.º ano. Havia um clube federado associado à escola e começou a jogar lá também. O voleibol passou a estar presente nos meus fins de semana quando ia ver os jogos dela com os meus pais. Então quando fui para o 5.º ano quis experimentar também, gostei e nunca mais saí.
Jogas numa equipa com grande história e tradição no voleibol. O que é que te fez escolher a Associação Académica de São Mamede?
Durante toda a minha formação, a Académica sempre foi um clube de referência. A oportunidade de jogar lá surgiu no início da época passada. Ter um projeto competitivo, o facto de ser sedeado perto da faculdade e de ser o clube onde a minha irmã já jogava tornou-o a escolha final. Acabei por gostar muito do ambiente do clube e das pessoas, e quando este ano me propuseram continuar, e elevar ainda mais o nível e as expetativas da equipa, fez sentido para mim.
Estás neste momento a disputar a segunda divisão do campeonato nacional de voleibol. Até onde esperas chegar?
Gostava muito de conseguir jogar na primeira divisão um dia, se alguma vez surgir a oportunidade, mas não faço disso um objetivo. Gosto de jogar voleibol e de aprender mais do desporto, independentemente da competição em questão.

FOTO: Facebook Associação Académica de São Mamede
Como é que vês a evolução da modalidade no panorama desportivo português?
O nível tem aumentado muito. Ambas as Seleções, feminina e masculina, têm chegado a patamares cada vez mais altos, e acho que isso motiva os clubes a investirem mais na modalidade, conseguindo não só atrair atletas de outros países que vêm aumentar o nível, como também melhorar as condições para a nossa formação cá, o que só contribui para ajudar a pôr Portugal no mapa do voleibol. Começamos a ter uma presença cada vez mais forte em competições europeias de clubes também, e isso traz bastante visibilidade e mais gente aos pavilhões. Acho que a relevância da modalidade tem aumentado em Portugal e espero que continue assim.
Que ídolos é que tens nesta modalidade?
Em Portugal, o primeiro de que me lembro é o Miguel Tavares. Se pensar internacionalmente, a Nootsara Tomkom é sempre um nome de referência para mim. Ter 1,69m e ser indicada como uma das melhoras distribuidoras do mundo é um feito impressionante.
Estás a frequentar o Mestrado em Bioengenharia. Estás a gostar do curso?
Estou a gostar bastante, sim.
O que é que te fez escolher a FEUP e a área da Bioengenharia? Sempre foi um objetivo para ti entrar aqui na FEUP?
Sempre foi um objetivo para mim vir estudar para o Porto, não sabia bem o quê. No 12.º ano, o meu professor de física falou-me do curso de Engenharia Biomédica, na altura na Universidade de Aveiro, e quando pesquisei se existia também no Porto, Bioengenharia apareceu-me nos cursos relacionados. Comecei a pesquisar, pareceu-me bastante interessante e acabou por ser a minha primeira opção na candidatura. Quatro anos depois, tenho cada vez mais a certeza que acabou por ser a decisão certa.

FOTO: Facebook Associação Académica de São Mamede
Lideras o Departamento Desportivo da AEFEUP. Como é que é concilias os trabalhos na AASM com os estudos na FEUP, e os trabalhos na AEFEUP?
Tem exigido bastante organização e disciplina, mas também tem sido muito gratificante. Tento priorizar as tarefas mais importantes, aproveitar ao máximo os tempos mortos para adiantar tarefas mais simples ou que dão para fazer no telemóvel, e garantir que não deixo que o stress da quantidade de coisas que tenho para fazer me distraia de as concretizar efetivamente. Também tem sido fundamental delegar tarefas e confiar nas pessoas com quem trabalho, em qualquer um dos três setores. Têm sido uma grande ajuda a conciliar tudo.
O que é que mudarias para poder facilitar esta conciliação?
Acho que os estatutos, nomeadamente o de estudante-atleta, precisam de uma revisão. Se de facto concordo e vejo utilidade nos facilitismos que trazem, nomeadamente facilidade na escolha ou permuta de horários e no acesso a mais uma época de exames, não acho que estejam atualmente a ser atribuídos de forma a facilitar a vida aos estudantes quando, de facto, se veem em situações mais críticas. Para além disso, facilitar o processo burocrático de acesso ao estatuto podia contribuir para ajudar nesta conciliação.

FOTO: Facebook Associação Académica de São Mamede
Que oportunidades de melhoria vês que possam ser implementadas no apoio aos desportistas que conciliam estudos?
Todas as oportunidades que permitam fomentar um ambiente mais inclusivo, e a valorização do desporto como parte integral da formação académica e pessoal dos estudantes universitários parecem-me um excelente ponto de partida.
Quais é que são os grandes objetivos para a tua vida enquanto voleibolista e enquanto engenheira?
Como voleibolista, quero continuar a evoluir tecnicamente e a alcançar os melhores resultados nas competições em que participamos. Acima de tudo, quero contribuir para o sucesso e bom ambiente da minha equipa, e inspirar outras pessoas a envolverem-se no desporto enquanto estudantes, sem acharem que o resto tem de ficar obrigatoriamente de parte. Enquanto engenheira, o meu foco, para já, é acabar o curso enquanto continuo a experienciar ao máximo a vivência académica que a FEUP proporciona. A longo prazo, ainda não tenho uma ideia concreta do que quero fazer, mas integrar uma equipa cujo objeto de trabalho relacione o desporto e a Engenharia é um cenário que ambiciono. Espero conseguir continuar a manter um equilíbrio saudável entre o desporto e a Engenharia, porque ambos fazem parte daquilo que sou e do que me motiva diariamente.