A queda do império - 6ª Conversa do Ciclo Comemorativo dos 50 Anos do 25 de abril
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Na sua obra “Labirinto da Saudade”, Eduardo Lourenço confronta o leitor com os vários momentos históricos, políticos e culturais em que os portugueses foram incapazes de enquadrar a imagem que
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Na sua obra “Labirinto da Saudade”, Eduardo Lourenço confronta o leitor com os vários momentos históricos, políticos e culturais em que os portugueses foram incapazes de enquadrar a imagem que idealizam do país real. O filósofo frisa que esse tem sido um dos entraves à compreensão plena do que os portugueses são e para onde podem ir. A respeito do 25 de Abril, diz-nos: “Foi a imagem ideológica do povo português como idílico, passivo, amorfo, humilde, e respeitador da ordem estabelecida, que o 25 de Abril impugnou, enfim, em plena luz do dia. A verdade que através dela irrompia era de molde a reajustar finalmente a nossa realidade autêntica de portugueses a si mesma, como reflexo e resposta a uma desfiguração tão sistemática como aquela que caracterizara o idealismo hipócrita e, sob a cor do realismo, o absurdo irrealismo da imagem salazarista de Portugal”. Este idealismo hipócrita de que nos fala Eduardo Lourenço prende-se com a imagem construída e vendida pelo regime. Interessava o império, que nada veio a ser porque já nada era. Um império que nunca existiu senão como ideal de vanglória. Os portugueses tinham sido capazes de descobrir mundo sem se descobrirem a si próprios e isso, de facto, era a maior vantagem discursiva de Salazar e das oligarquias que giravam à sua volta, perante um povo submisso e conformista.
Foi precisamente no cansaço popular que militares intermédios, descontentes com a guerra colonial e com a miséria moral e social vigente, fizeram irromper o 25 de Abril, a data em que começou “o primeiro dia do resto das nossas vidas”. Das vidas dos que então já existiam e das vidas que estavam por vir. Não se pode dizer que se tenha esgotado este virar de página, mas tem sido evidente que Portugal tem vindo, no seu todo, a ceder à incapacidade de se descobrir a si próprio e de recentrar a sua realidade ao ideal que concebe para si.
Para esta sexta sessão do ciclo de conversas, intitulada “A queda do império”, o Comissariado Cultural convida: Amélia Polónia, Professora catedrática no Departamento de História, Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora integrada do CITCEM (Centro Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória); Ana Cristina Pereira, crítica cultural e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho; Joaquim Furtado, jornalista, repórter e realizador de documentários sobre a guerra colonial portuguesa e as ex-colónias, para uma reflexão e debate sobre o passado colonial português e a sua memória histórica e social que prevalece até aos dias de hoje.