Se Diogo Craveiro fosse definido pela competência e destreza que demonstra em cima de um par de patins, então estaríamos a falar de um talento geracional que tem feito manchetes nos últimos anos. E é disso mesmo que falamos.

Ser Vice-Campeão da Europa e Vice-Campeão do Mundo de Patinagem Livre no ano de 2024 são pergaminhos que, aos 23 anos, enchem qualquer português de orgulho.

A tirar a licenciatura em Engenharia Mecânica (L.EM) na FEUP, o patinador natural do Porto tem um percurso bastante interessante que promete não parar por aqui.

Como é que a patinagem surgiu na tua vida?
Foi mais ou menos como acontece com quase todas as crianças quando começam um desporto: por ideia e incentivo dos pais. Mas no meu caso é diferente, já que comecei a patinar porque os meus pais estavam ligados a esta modalidade desde sempre, e eram treinadores no Rolar Custóias Clube. Aos três anos, andava com uns patins calçados à volta da pista enquanto os treinos decorriam e fui ganhando gosto pela patinagem.

Diogo Craveiro no Campeonato do Mundo de 2023, na Colômbia. FOTO: Federação de Patinagem de Portugal

Sentiste uma pressão acrescida por vires de uma família com um passado tão rico nesta modalidade?
Nunca senti essa pressão em termos de resultados, ou seja, nunca foram exigidos de mim resultados ou medalhas, mas sim esforço e dedicação em cada treino que, ao longo do tempo, aí sim, foram revelando os seus frutos.

És, atualmente, o vice-campeão mundial de patinagem livre. Como é que foi toda a experiência da competição em Rimini?
Para mim competir num dos maiores palcos do mundo, no país que domina atualmente o mundo da patinagem, foi uma experiência incrível, carregada de um sentimento de responsabilidade e muita determinação! Ter um pavilhão cheio, na maior competição do mundo, rodeado dos melhores atletas e profissionais do desporto, é algo inexplicável, ainda para mais sendo os World Roller Games, onde todos os desportos de rodas se juntam numa única região.

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Diogo Craveiro no Campeonato do Mundo de 2024, disputado em Rimini, Itália, onde sagrou-se vice-campeão do Mundo. FOTO: Federação de Patinagem de Portugal

Foste um de seis estudantes da Universidade do Porto a alcançar medalhas em Campeonatos do Mundo e da Europa. O que é que isso significa para ti?
O facto de conseguir conciliar a minha vida desportiva com a académica é motivo de orgulho e felicidade, já que não tenho de atrasar o início da minha vida profissional, mantendo-me sempre ao mais alto nível. Não sabia que era um dos seis medalhados internacionalmente na U.Porto, mas isso só deixa toda esta minha jornada com um maior sentimento de dever cumprido e responsabilidade por conseguir levar o nome do meu país, da minha cidade e da minha universidade a várias partes deste mundo!

Estás a estudar Engenharia Mecânica. O que é que te atraiu mais para esta área?
Desde sempre quis algo relacionado com a robótica, a inovação nessa área e com a automação. Por isso, tanto a engenharia mecânica como a eletrotécnica foram sempre cursos que ambicionei tirar para conseguir seguir esse caminho na minha vida profissional.

Consegues traçar algum paralelismo nesta tua escolha com a paixão pela patinagem?
Já foi algo que esteve presente no meu pensamento, principalmente com equipamento para auxiliar o treino, tanto em patins, como sem patins (off skate). Existem máquinas de rotação e outros dispositivos que auxiliam o treino, tal como a própria composição e desenho do patim, que tem por objetivo ser o mais leve e resistente, dependendo muito dos materiais que o compõem e do seu próprio design. Assim, ao estudar engenharia, comecei a encontrar esse paralelismo que antes não via.

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Diogo Craveiro no World Skate Games, disputados no Paraguai, em 2022. FOTO: World Skate Games

Como é que tens conciliado a vida de desportista de alta competição?
Desde sempre tive de aprender a gerir o meu tempo da melhor forma para conseguir fazer tudo: treinar, estudar e ter algum tempo para mim. O equilíbrio que fui descobrindo e “aperfeiçoando” ao longo da vida permitiu-me prosseguir com os estudos, tal como a vida desportiva. A existência dos estatutos de atleta de alto rendimento ou estudante-atleta foi algo que também me ajudou muito no percurso, e permitiu-me a continuidade da minha prática desportiva.

O que é que mudarias para poder facilitar esta conciliação?
Alteraria algumas das premissas para ter acesso às épocas especiais, já que no estatuto de atleta de alto rendimento apenas consigo fazer as mesmas se tiver competições na data dos exames. Não está comtemplado todo o processo de treino, todas as horas que passamos no pavilhão a treinar, nem o tempo que fica comprometido e que nos é “tirado” para estudar. Penso que é necessário rever este estatuto para permitir que, principalmente os praticantes de alto rendimento – que, por si só, já é algo difícil de alcançar dentro de cada modalidade –, consigam continuar com a prática desportiva ao mais alto nível, e conseguirem que a sua vida académica não saia prejudicada.

Quais é que são os grandes objetivos para a tua vida enquanto patinador e enquanto engenheiro?
Enquanto patinador, almejo fazer história pelo meu país e completar o meu maior objetivo: quero ganhar a medalha de ouro na maior competição de patinagem artística do mundo, o Campeonato do Mundo. Enquanto engenheiro, não tenho algo tão bem traçado nem definido na minha cabeça, mas para já é acabar a licenciatura, fazer o mestrado em engenharia mecânica e entrar no mercado de trabalho. A partir daí, é ir superando os desafios que me forem aparecendo e, quem sabe, trabalhar numa área mais ligada à robótica.

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Diogo Craveiro em Paredes, Portugal.