Com apenas 18 anos, Diogo Castro é já uma certeza no panorama mundial do Boccia.

Depois da conquista da medalha de ouro no Campeonato do Mundo jovem da modalidade, em março deste ano no Brasil, o estudante do 1.º ano da licenciatura em Engenharia Informática e Computação já olha para as próximas competições com ambição, com especial enfoque nos jogos Paralímpicos.

Para já, o atleta do FC Porto vai participar no Campeonato da Europa, a disputar em Zagreb, na Croácia, entre 8 a 16 de julho, onde, como já tem sido habitual, quer ouvir “A Portuguesa” no final da prova.

Como é que o Boccia surgiu na tua vida?
Experimentei o Boccia bastante cedo, quando tinha oito anos, mas os horários não eram compatíveis com a escola, então só aos 10 anos é que surgiu a oportunidade de jogar no FC Porto, mas principalmente com o objetivo de socializar e fazer algo diferente.

Fala-me um pouco sobre o teu percurso desportivo no Boccia.
No início era mesmo por diversão, mas com o tempo percebi que a modalidade era muito mais do que apenas “lançar bolas”. À medida que os anos foram passando, e com a conquista de algumas medalhas, a maneira como olhava para a modalidade foi mudando e tornando mais competitiva. Com várias conquistas nos campeonatos jovens, percebi que podia evoluir cada vez mais. Contudo fui adquirindo novos equipamentos, nomeadamente a rampa/calha e bolas, para me manter competitivo, numa modalidade em constante crescimento.
Diogo Castro 3O que gostas mais na prática do Boccia?
De ser um jogo tático, onde o atleta que pense melhor o jogo supera as dificuldades que vão sendo criadas pelo adversário.

Jogas numa classe de Boccia chamada Bc3. Em que é que consiste e em que é que se diferencia das outras?
Os atletas são distribuídos pelas várias classes, tendo em conta a sua condição física. No meu caso por não ter força para lançar a bola, utilizo uma calha. Bc3 é a única classe que utiliza calha e a ajuda de um operador de calha, que não vê o jogo e apenas faz aquilo que eu lhe peço, no sentido de colocar a rampa na direção do jogo, e a bola na altura certa.

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Diogo Castro na final do World Boccia Challenger em Pajulahti (Finlândia).

Como é que funciona essa ligação entre ti e o operador de calha?
No meu caso o operador de calha é o meu pai, que funciona como os meus braços e pernas. É importante estar em sintonia com o operador de calha, pois a informação que lhe dou tem de ser percetível e de fácil entendimento pois temos de jogar dentro do tempo limite (seis minutos individual e sete minutos em pares).
Estás quase a representar Portugal no Europeu de Boccia, agora em julho. Como é que perspetivas esta competição? Confiante num bom resultado?
Vai ser uma competição importante que me poderá dar muitos pontos para o ranking mundial, dependendo sempre dos resultados. Nesta competição vão estar presentes os melhores da Europa, que por sua vez se encontram no top mundial. Tenho a noção que o grau de dificuldade é superior a qualquer competição em que já entrei, mas estou confiante na minha capacidade de enfrentar os melhores. Eu gosto de pensar passo a passo e o primeiro objetivo é passar a fase de grupos, tentando sempre chegar o mais longe possível, com o sonho de trazer uma medalha.

Venceste, no mês passado, a medalha de ouro no Pajulahti 2025 World Boccia Challenger, na Finlândia, tendo derrotado três adversários do top-20 mundial. Como é que foi saborear esse momento?
Para mim foi a primeira medalha individual internacional pela seleção principal, o que significa muito nos meus objetivos. Sentir o meu esforço recompensado ao mais alto nível na conquista da medalha de ouro foi, sem dúvida, um sentimento único. Terminar a noite a ouvir “A Portuguesa” tornou o momento inesquecível.

Estavas à espera de conseguir esta medalha, naquela que foi a apenas a tua segunda prova internacional? O que mais te marcou nesta competição?
Para ser sincero, o principal objetivo era mesmo passar a fase de grupos e depois sonhar em conquistar uma medalha. Foi importante ouvir elogios dos adversários ao meu desempenho uma vez que era o atleta mais jovem na competição.

Apesar dessa juventude, já tens um currículo competitivo muito interessante, com a conquista de vários títulos nacionais…
Sinceramente, sinto que estou no ponto mais alto da minha curta carreira, a nível nacional e, principalmente, internacional ao serviço da seleção nacional. Atualmente, encontro-me nos melhores quadros do Boccia em Portugal, graças a essa evolução do material, e de uma maior entrega da minha parte em termos de treino e competição, o que me permitiu várias conquistas nacionais e internacionais.

Aos 18 anos, Diogo Castro já conta com uma carreira recheada de conquistas, entre elas o terceiro lugar no World Boccia Youth Championship, Campeonato Nacional Jovem, ambos em 2023, o Bicampeonato Nacional Jovem, Campeão de pares no World Boccia Challenger (no Cairo, Egito), Vice-Campeão Nacional Absoluto, tudo em 2024, e já neste ano, a conquista do Campeonato Regional Zona Norte, a medalha de ouro no challenger do World Boccia Youth Championship em Curitiba (Brasil), primeiro lugar no World Boccia Challenger em Pajulahti (Finlândia), o terceiro lugar em pares, também neste challenger finlandês, e a medalha de prata no Campeonato Nacional Individual masculino.

Qual é o momento mais alto da tua carreira até agora?
Posso afirmar que os títulos mais importantes conquistados foram precisamente esta época, desde a conquista do campeonato regional, ao título de campeão do mundo jovem no Brasil, terminando na conquista da medalha de ouro no Challenger na Finlândia.

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Diogo Castro (esq.), Carla Oliveira e David Araújo vão representar a seleção nacional no Campeonato da Europa.

Esperavas ter este tipo de desempenho quando começaste a carreira no Boccia?
Quando comecei a carreira estava bem longe de pensar que poderia estar onde estou atualmente. Só em 2023 é que fui convocado para o campeonato de mundo jovem para representar a seleção nacional, e foi aí que me apercebi daquilo que poderia alcançar com o Boccia.
Até onde esperas chegar na tua carreira desportiva?
Atualmente o sonho de poder representar a seleção nacional nos Paralímpicos é um objetivo claro no meu crescimento como atleta.

Que ídolos é que tens nesta modalidade?
Eu identifico-me muito com dois atletas: o Adam Peška e Daniel Michel, muito em parte pelas superações físicas bastante semelhantes às minhas.

Estás a frequentar o 1.º ano da Licenciatura em Engenharia Informática e Computação. Estás a gostar?
Sim, vai de acordo com as minhas expectativas.

O que é que te fez escolher a FEUP e a área da Engenharia Informática? Sempre foi um objetivo para ti entrar aqui na FEUP?
Sempre tive interesse nas novas tecnologias, pelo que a área da engenharia informática sempre esteve entre as minhas opções. Para além da FEUP ser uma Faculdade próxima da minha residência, é uma Faculdade de Engenharia de renome a nível nacional e internacional principalmente na área da informática. Desde que tomei a decisão de seguir esta área que a FEUP estava nos meus planos.
Diogo Castro 4A mudança da escola secundária para o ensino superior pode ser desafiante. Como foi a adaptação?
Nas primeiras semanas senti uma clara mudança entre a realidade do secundário e da Faculdade, mas julgo que me adaptei bem e atualmente sinto-me bem integrado.

O processo de adaptação pode ser visto como algo com duas vias. Como é que a própria FEUP se adapta a alguém com as tuas particularidades? Há algo que possa ser feito para melhorar?
Penso que a FEUP se adaptou bem às minhas necessidades, e tinha todas as condições para o fazer, o que facilitou claramente a minha integração. A única situação negativa a apontar é mesmo a falta de um/a assistente pessoal que foi pedido no início do ano letivo e até a presente data não foi atribuído/a.

Como é que concilias os treinos no Boccia com os estudos na FEUP?
Os treinos são normalmente ao fim do dia, o que permite a minha presença nas aulas, sendo por isso fácil conciliar com os treinos. As maiores dificuldades acontecem nos períodos das competições e estágios da seleção nacional, nessas alturas torna-se mais difícil poder acompanhar a matéria.

O que é que mudarias para poder facilitar esta conciliação?
Não vejo como poderia mudar, uma vez que as datas não são flexíveis e temos sempre de nos adaptar.

Quais é que são os grandes objetivos para a tua vida enquanto atleta e engenheiro?
O ideal será sempre poder conciliar a vida desportiva com a profissional, ou seja, tendo sempre disponibilidade para poder treinar e competir, sem abdicar do tempo profissional.