É mais um projeto que surge no seio da Universidade do Porto para o combate à pandemia. Desta vez trata-se de um concentrador de oxigénio de baixo custo que tem como objetivo adiar a necessidade de os doentes recorrerem ao ventilador. O seu desenvolvimento está a cargo de uma equipa liderada pelo investigador Adélio Mendes, do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP).

Os concentradores de oxigénio são dispositivos que purificam oxigénio a partir do ar atmosférico, fornecendo oxigénio com uma pureza até 95 %. São dispositivos que podem assumir um papel importante em locais onde não existe acesso à rede de gases hospitalar (como o caso de hospitais de campanha) ou ainda em pacientes que necessitem de cuidados respiratórios domiciliários.

O protótipo desenvolvido pela equipa de Adélio Mendes – em parceria com a empresa Paralab e com o apoio de Lígia Lopes, investigadora do Design Studio da FEUP, na componente de design industrial – está já em fase de testes e seguirá depois para certificação e validação por especialistas. A ideia será produzir estes concentradores localmente, sempre que for solicitado, numa versão low cost.

Rui Soares, CEO da Paralab, assume que o compromisso de chegar a uma versão low-cost do concentrador esteve sempre em cima da mesa, desde o início: “Uma unidade comercial de 5 L/min custa em média 1200 euros, mas um dos nossos objetivos é também fazer uma versão low cost, cujo projeto ficará disponível numa plataforma online para poder ser replicado em outros países.”

Apoio aos ventiladores

Adélio Mendes tem trabalhado de perto com Frederico Relvas, estudante de doutoramento em Engenharia Química na FEUP, neste projeto. Assume que a viabilidade deste concentrador de oxigénio é grande, uma vez que a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a sua utilização como alternativa aos ventiladores, numa primeira fase.

“Um concentrador de oxigénio purifica oxigénio a partir do ar atmosférico até 95 % e pode ser usado em oxigenoterapia, que é aplicada em tratamentos de doenças respiratórias para manter os níveis de oxigénio no sangue. No caso da Covid-19, a oxigenoterapia é recomendada para todos os doentes severos e em estado critico, sendo administrado através de cânula nasal ou de uma máscara de venturi. Ou seja, um concentrador pode ser usado tanto numa fase “pre-ventilador” como pode também estar acoplado a um ventilador”, admite o investigador, que é também especialista em purificação de gases.

Professor Catedrático da FEUP, Adélio Mendes lidera a linha de investigação em Processos, Produtos e Energia do LEPABE. (Foto: DR)

A equipa tem estado em permanente contacto com vários anestesiologistas do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO) e um médico do Hospital de Santo António que foi quem motivou a reunião deste grupo multidisciplinar, numa primeira fase. “No caso de um hospital, à partida, o oxigénio está garantido através da rede de gases. No entanto, no caso de hospitais de campanha pode não existir essa possibilidade”, alerta Adélio Mendes.

Ainda segundo o investigador da FEUP, “um concentrador tanto pode ser dimensionado para uso individual (há doentes crónicos que têm concentradores em casa), como para administrar oxigénio a vários pacientes em simultâneo”, o que reforça a importa deste equipamento em contexto de pandemia como o que estamos a viver.