O consórcio europeu EuroSea, que tem como parceiro o Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática (LSTS) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP),  apresentou recentemente um documento com estratégias a adotar para um uso mais sustentável dos oceanos.

O oceano cobre 70% da superfície da Terra e fornece muitos serviços ecossistémicos sem os quais não podemos viver. Estima-se que a Economia Azul tenha o potencial de duplicar ainda mais até 2030, mas as consequências globais da intensificação das atividades humanas nos ecossistemas marinhos estão ainda mal quantificadas. Os dados marinhos, por se encontrarem fragmentados e de difícil acesso, acabam por limitar a capacidade de gerir de forma sustentável o oceano e todos os seus recursos.

Foi a pensar nisso que, no início de 2020, nove projetos inovadores da União Europeia (UE) no âmbito de sistemas de informação e observação oceânica uniram forças para enfrentar os principais desafios marinhos globais, criando um consórcio capaz de aumentar o conhecimento científico de forma integrada e padronizada entre os diferentes parceiros europeus. O desenvolvimento de estratégias para um uso mais sustentável dos oceanos é um dos focos da iniciativa, apresentadas agora aos representantes da UE numa listagem conjunta de recomendações políticas centradas na Economia Azul.

Sob o mote “Nourishing Blue Economy and Sharing Ocean Knowledge”, o projeto EuroSea, que conta com cerca de 12,6 milhões de euros de financiamento europeu, traduziu as suas preocupações em inputs baseados em dados que permitam, no futuro, aumentar a sustentabilidade dos oceanos da Europa e do Atlântico.

A criação de um quadro político europeu para observações científicas oceânicas com financiamento a longo prazo, o apoio à profissionalização da próxima geração de “blue staff”, a transformação de dados em conhecimento investindo em observações de Tecnologias de Informação, a definição de normas globais e práticas de interoperabilidade e o reforço da ciência cidadã para políticas, acesso equitativo, democratização e contribuições de dados cruciais são as principais recomendações apontadas.

Toste Tanhua, coordenador do EuroSea, invoca os progressos que podem ser alcançados a partir das sinergias criadas: “Foi ótimo poder colaborar com outros projetos inovadores e fazer recomendações conjuntas com base em diferentes perspetivas e conhecimentos. Juntos pretendemos concretizar o valor das nossas atividades científicas e inovadoras para que possam alcançar um elevado impacto social”.

O intuito é, a partir das orientações definidas pelo grupo de trabalho, avançar para a construção de sistemas de informação interdisciplinares, reativos e sustentáveis sobre os oceanos centrados no utilizador. Que estes sistemas possam fornecer serviços e produtos sobre o oceano, o clima oceânico e os ecossistemas marinhos para um desenvolvimento sustentável, protegendo a vulnerabilidade marinha contra os impactos humanos e apoiando a Economia Azul.

O papel da FEUP na sustentabilidade marinha

João Borges de Sousa, diretor do LSTS/FEUP, elenca as etapas do projeto necessárias para se atingir a sustentabilidade oceânica. “Esta união de forças a nível internacional pretende reforçar e melhorar o sistema europeu de observação e previsão dos oceanos, aumentando a sua prontidão, assim como fornecer e promover a integração de dados FAIR (Findable, Acessable, Interoperable, Re-usable) e a sua incorporação nos portefólios Copernicus Marine Service, EMODnet e SeaDataNet.”

“É ainda importante desafiarmo-nos no desenvolvimento de novos produtos, na melhoria das previsões efetuadas por modelos e no apoio a um sistema de observação oceânico integrado, sustentável e adequado aos objetivos europeus, envolvendo variados utilizadores finais e stakeholders interessados.”, avança o investigador e professor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP.

O diretor do LSTS/FEUP encara a participação no EuroSea como “o reconhecimento da capacidade de liderança” do laboratório.

O papel do LSTS no consórcio EuroSea passa pelas contribuições tecnológicas, em particular dos veículos robóticos, no contexto de observação do oceano, em escalas temporais e espaciais nunca atingidas até agora. Para uma efetiva interação das novas ferramentas tecnológicas, como os sistemas autónomos desenvolvidos no laboratório da FEUP, é necessário que os dados oceânicos por elas recolhidos estejam padronizados e sejam o mais adequados possível aos requisitos dos utilizadores finais, “sem negligenciar a sua qualidade ou limitar a sua interoperacionalização e reutilização.”

“Num momento em que se assiste a uma explosão na utilização de tecnologia na observação do oceano, torna-se necessário uma sistematização conjunta na aquisição deste tipo de dados no espaço europeu alinhada com outros parceiros globais. A FEUP, através do LSTS, irá desempenhar um papel importante na definição destas necessidades relacionadas com sistemas autónomos, em particular os veículos autónomos de superfície e submarinos.”, conclui João Borges de Sousa.