No Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, a FEP dá voz a três das suas investigadoras de referência, destacando as suas trajetórias, desafios e visões sobre o papel das mulheres na academia. Aurora Teixeira, Cristina Fernandes e Teresa Fernandes, recentemente destacadas na World’s Top 2% Scientists List 2024, falam sobre as dificuldades que enfrentaram, as mudanças necessárias na ciência em Portugal e os conselhos que dariam às jovens que desejam seguir uma carreira científica.
Desafios e oportunidades
Aurora Teixeira destaca que, embora os tempos tenham mudado e hoje seja mais fácil para as mulheres estarem na ciência, ainda existem barreiras a superar. “Apesar do número crescente de mulheres na ciência, em geral, e na economia, em particular, as mulheres continuam sub-representadas em cargos académicos de topo, têm menor probabilidade de serem promovidas ao topo da carreira (professor catedrático), de liderar grandes projetos de investigação ou de serem reconhecidas como vozes proeminentes no discurso económico.” No entanto, enfatiza que a sua experiência tem sido “desafiante e muito gratificante”.
Cristina Fernandes partilha uma visão semelhante: “Ser mulher na ciência hoje continua ainda a ser um caminho repleto de desafios, mas também de oportunidades.” O grande desafio, segundo a investigadora, foi conciliar a vida profissional com a vida pessoal. “Quando iniciei a minha carreira académica, tinha a minha filha muito pequenina e deixá-la aos cuidados dos meus pais foi algo que me custou visceralmente.” Para a professora da FEP, “o apoio e a compreensão familiar são muito importantes”, pois a profissão de investigadora exige um trabalho contínuo, muitas vezes para além do horário convencional.
Por outro lado, Teresa Fernandes considera-se privilegiada por ser mulher na academia. “Ao contrário do que acontece noutras áreas, a academia é um lugar inclusivo onde não sinto qualquer tipo de discriminação, mas sim total liberdade de espírito e respeito entre pares.” Para a investigadora, os desafios que enfrentou não foram por ser mulher, mas sim inerentes à sua inexperiência inicial no meio académico.
O que ainda precisa mudar
No que toca à ciência em Portugal, as investigadoras apontam diferentes aspetos que ainda precisam de ser melhorados. Para Aurora Teixeira, é necessário “aumentar a valorização pública da investigação e do conhecimento científico”, bem como “combater o subfinanciamento da investigação e do ensino superior”. Cristina Fernandes concorda e acrescenta que “é crucial aumentar o orçamento destinado à ciência, promovendo também uma maior ligação entre as universidades e a indústria”. Já Teresa Fernandes considera que ainda existe “regionalismo e um certo status quo instalado”, sendo necessário melhorar os processos de progressão na carreira.
Inspirar as próximas gerações
Quando questionadas sobre como incentivar mais mulheres a seguir carreiras científicas, as investigadoras destacam o poder do exemplo. “Mostrar que é possível conciliar uma vida profissional bem-sucedida com uma vida familiar equilibrada e feliz é fundamental”, afirma Aurora Teixeira. Cristina Fernandes realça que a ciência oferece “um poder que não é coercivo, nem político, nem financeiro, mas sim o poder da produção de conhecimento”. Já Teresa Fernandes defende que os incentivos à carreira científica devem focar-se “na conciliação profissional, financiamento, empregabilidade e progressão na carreira”.
Conselhos às jovens investigadoras
Aurora Teixeira, Cristina Fernandes e Teresa Fernandes deixam ainda conselhos às jovens que sonham seguir este percurso. Aurora Teixeira incentiva a resiliência: “sigam os vossos sonhos e ambições com confiança nas vossas competências.” Cristina Fernandes reforça a importância da persistência: “desistir nunca, porque ‘dos fracos não reza a História’.” Teresa Fernandes sublinha que “dedicação, vocação, voluntarismo, resiliência e talento são essenciais para uma carreira científica bem-sucedida”.
Inspiradas por figuras como Marie Curie, Elinor Ostrom e Maria Manuel Mota, as três investigadoras da FEP são hoje modelos para as futuras gerações. O conselho que deixam é claro: a carreira científica é exigente, mas gratificante e deve ser abraçada com paixão, dedicação e resiliência.