São os primeiros licenciados em Inteligência Artificial e Ciência de Dados do país, daquele que é um curso pioneiro lançado pelas Faculdades de Ciências (FCUP) e de Engenharia (FEUP) da Universidade do Porto. São mais de 40 finalistas e terminam agora a licenciatura que estreou no ano letivo de 2021-22.
“É mais um resultado da cooperação entre a FCUP e a FEUP e conseguiu atrair, desde o primeiro ano, um conjunto de excelentes estudantes motivados para os novos desafios da computação e da sociedade”. Rita Ribeiro, atual diretora desta licenciatura e Alípio Jorge, que esteve à frente do curso até abril deste ano, não têm dúvidas: o balanço é muito positivo.
“A sociedade precisa de especialistas em Inteligência Artificial e Ciência de Dados”. Palavras ditas por Alípio Jorge, em janeiro deste ano, em entrevista à Antena 1. Prova dessa necessidade foi a resposta das empresas e instituições de investigação ao repto lançado pelo curso com a possibilidade de apresentarem propostas de estágio ou projeto. Surgiram ideias e os estudantes responderam com entusiasmo ao desafio.
Bárbara Lisboa Santos faz parte deste primeiro grupo de diplomados da Licenciatura em Inteligência Artificial e Ciência de Dados (L:IACD). Durante o curso, que conheceu através da Sunset Summer School & Hackathon, um evento conjunto da FCUP e da FEUP, apaixonou-se por duas áreas diferentes dentro da Inteligência Artificial e Ciência de Dados.
“Ambas têm aplicações bastante importantes, embora um pouco distintas”, começa por descrever. “A primeira são as técnicas de aprendizagem por reforço, um tipo de IA que pode ser facilmente aplicado tanto a jogos, como à condução autónoma ou à aprendizagem em robótica em geral”, conta. Foi nesta área que decidiu fazer o seu estágio no LIACC – Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores, a treinar robôs para “realizar um passe, no contexto de um jogo de futebol”. “A segunda é a visão por computador e aplica-se mais, por exemplo, à deteção de falhas em imagens ou à sua classificação.” É nesta segunda área que agora está a fazer um estágio de verão no INESC TEC, enquanto aguarda pelo arranque da primeira edição do novo Mestrado em Inteligência Artificial, também uma parceria entre a FCUP e a FEUP.

Bárbara Lisboa Santos. Foto: DR
A IA para um bem comum
É um curso que também António Cardoso quer seguir. Ficou fascinado pelo mundo da IA e pelos conceitos base que aprendeu ao longo dos três anos e quer continuar a explorar esta área. “A licenciatura superou as expectativas que eu tinha em relação ao efeito que iria ter em mim”, confessa. “Espantou-me pelos métodos e aplicações possíveis da IA e CD, assim como a qualidade do conhecimento que adquiri ao frequentar o curso”, acrescenta.
Tem estado a trabalhar numa das muitas aplicações da IA, neste caso a saúde. Acredita que é possível usar esta tecnologia para um “bem comum”. No seu estágio final, no INESC TEC, dedicou-se, por isso, ao desenvolvimento de “modelos generativos que sintetizam imagens artificiais de TACs na região pulmonar”, uma das áreas pelas quais se sente mais atraído. “O objetivo é criar uma coleção de dados adicional com alta fidelidade/realismo para uso no treino de outros modelos de IA que permitem a identificação, a segmentação e a classificação de doenças ou tumores dentro da região pulmonar, adicionalmente mantendo a anonimização dos dados (uma vez que são artificiais)”, explica. Com este trabalho é então possível refinar e melhorar soluções de IA que podem vir a ser aplicadas diretamente na medicina.

António Cardoso. Foto: DR
A visão computacional é uma área na qual pretende trabalhar. “É possível usar algoritmos de IA para poder classificar tumores (maligno/benigno) e/ou para delimitar o contorno e área destas massas. Quero, sem dúvida, poder aprofundar os meus conhecimentos e capacidades nestas áreas no futuro!”, conta, entusiasmado.
Muito voltada para a investigação, Antónia Brito partilha a mesma paixão pelas aplicações da IA na área da saúde. Depois de um trabalho em parceira com a Fraunhofer Portugal, dedica-se agora à investigação na FEUP no âmbito do projeto europeu AIsym4MED, em parceria com esta empresa. Trata-se de um projeto pioneiro da inteligência artificial para melhorar o sistema de dados de saúde na Europa.
Em jeito de balanço, Antónia não se arrepende da sua escolha: “Queria acima de tudo escolher um curso com futuro, e sinto que não poderia ter feito uma escolha melhor”. A jovem recém diplomada destaca a importância das metodologias e técnicas “fulcrais para qualquer Cientista de Dados ou Engenheiro de IA” e que aprendeu ao longo do curso. “Sinto-me preparada para o mercado e motivada para usar Inteligência Artificial para melhorar o processo de decisão das mais diversas empresas”, remata.

Antónia Brito. Foto: DR
A curiosidade por um tema tão “popularizado” foi o que levou David Scarin a frequentar esta licenciatura. O jovem estudante, que estagiou na empresa portuense 3Decide, destaca a forte componente prática do curso. “Participamos em vários trabalhos práticos/projetos, sobre como aplicar algoritmos de aprendizagem em grandes bases de dados ou treinar agentes com aprendizagem por reforço e que também contribuem para o desenvolvimento do nosso currículo e da nossa experiência prática”, salienta. Durante o estágio, David ajudou a desenvolver um Large Language Model (um tipo de IA criado para entender e gerar textos) como assistente numa aplicação web.

David Scarin. Foto: DR
Para além da 3Decide, várias empresas de renome já estão de olho na licenciatura e inscreveram-se para receber estagiários do curso. A experiência das empresas nos estágios, segundo reforça a diretora da licenciatura Rita Ribeiro, foi no geral muito positiva, o que se reflete nas notas atribuídas aos alunos, havendo exemplos entre os 18 e os 20 valores. É o caso da Yazaki Saltano, em Ovar, que manifestou interesse numa parceria para o futuro.
Em velocidade de cruzeiro
Na L:IACD, que tem também como codiretor Luís Paulo Reis, docente da FEUP, estão inscritos cerca de 200 estudantes, tendo a nota do último colocado no ano letivo 2023/2024 sido de 179,5 valores. Esta licenciatura é uma das que, desde 2022, beneficia também do Programa «Impulso Jovens STEAM» da U.Porto, que inclui “Bolsas de incentivo”, destinadas a novos estudantes que ingressam pela primeira vez no Ensino Superior e que se matriculem no 1.º ano das licenciaturas por ele abrangidas e “Bolsas de Distinção Académica”, entregues aos estudantes com melhor desempenha académico.
O curso tem crescido e, ao longo dos anos, preenchido todas as vagas de acesso ao Ensino Superior. A tecnologia do futuro é um verdadeiro íman de talento. Assim dizem os números.