Três projetos a ser desenvolvidos na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estão entre os vencedores da 7ª edição do programa BIP PROOF, iniciativa da U.Porto Inovação, que distribui uma verba de 60 mil euros para financiar seis projetos inovadores.
O principal objetivo do BIP PROOF é premiar projetos de provas de conceito (proof of concept) que visam estimular a concretização de etapas de valor conducentes à valorização socioeconómica de resultados de investigação promissores.
A iniciativa é da U.Porto Inovação e, à semelhança de anos anteriores, conta com o apoio da Fundação Amadeu Dias e da Caixa Geral de Depósitos.
DMD4PD: o caminho para um novo fármaco com potencial “antiparkinsoniano”
O projeto DMD4PD, proposta pela docente da FCUP Fernanda Borges, em conjunto com os investigadores Daniel Chavarria e Sofia Benfeito, apresenta, segundo os investigadores, “uma estratégia inovadora que visa superar as limitações dos tratamentos atuais, tanto em termos de segurança como de eficácia clínica”.
“Em 2023, foram registados um total de 139 ensaios clínicos relacionados com a DP, com milhares de milhões de euros investidos para tentar, sem êxito, suprir este desafio societal. O último medicamento aprovado para o tratamento da DP pela EMA e FDA foi em 2016 e 2020, respetivamente, um inibidor da catecol-O-metiltransferase (COMT), usado para alívio sintomático, mas tal como todos ‘antiparkinsonianos’ não interfere na evolução da doença”, referem os investigadores.
Assim, o principal objetivo do DPD4PD é “validar um novo inibidor da COMT e quelante de metais divalentes, desenvolvido, validado e patenteado pelas equipas, como um fármaco modificador da doença de Parkinson”, referem.

A equipa FCUP do DMD4PD integra a docente da FCUP, Fernanda Borges (ao centro), e os investigadores Daniel Chavarria e Sofia Benfeito.
Os 10 mil euros angariados no programa BIP Proof serão aplicados em ensaios pré-clínicos in vitro e in vivo, para validação do conceito e permitir, numa segunda fase, efetuar ensaios clínicos piloto deste novo potencial “antiparkinsoniano”. Com uma abordagem promissora, o DMD4PD poderá “representar um avanço significativo no tratamento de doença de Parkinson, oferecendo uma nova esperança aos pacientes que ainda aguardam por soluções terapêuticas de abrandar ou parar a progressão da doença”, conclui a equipa que integra também Patrício Soares-da-Silva, Bárbara Albuquerque e Paula Serrão da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
PepTRAP: uma nova abordagem terapêutica
Também desenvolvido no Departamento de Química e Bioquímica da FCUP, o PepTRAP é outro dos projetos premiados pelo programa BIP Proof, apresentado pelos investigadores do LAQV/REQUIMTE na FCUP, Ivo Dias e Sara Reis, que é também estudante de doutoramento em Química Sustentável.
“A levodopa, um precursor de dopamina, é o fármaco de eleição no tratamento da doença de Parkinson. Contudo, a terapia com levodopa vai perdendo efeito ao longo do tempo, necessitando de doses terapêuticas cada vez maiores e, consequentemente, surgem efeitos secundários graves que podem mesmo exacerbar os sintomas da doença”, explica o investigador Ivo Dias. Contrariando isso, o projeto PepTRAP tem como objetivo explorar uma nova abordagem terapêutica através do desenvolvimento de moléculas capazes de modular a atividade dos recetores de dopamina, tornando-os mais sensíveis a este neurotransmissor”. Desta forma, estes recetores podem ser ativados “em níveis subótimos de dopamina, aliviando os sintomas da doença de Parkinson”, acrescenta.
Os moduladores da PepTRAP são apenas farmacologicamente ativos na presença de dopamina. Na ausência de dopamina “não possuem efeito nas vias dopaminérgicas sendo, por isso, mais seguros que outras opções terapêuticas atuais”, referem os investigadores. A tecnologia pode ser usada em estágios iniciais da doença de Parkinson (quando ainda existe dopamina no sistema nervoso central) de forma a atrasar a terapia com levodopa.
Para alcançar este resultado, a equipa de investigação, que integra também os investigadores e docentes na Faculdade de Farmácia da Universidade de Santiago de Compostela, Xerardo Mera e Eddy Sotelo, está focada “no desenvolvimento de derivados de um neuropéptido com capacidade moduladora dos recetores de dopamina, a melanostatina, de forma a aumentar a sua potência e melhorar as propriedades biológicas compatíveis com a sua translação clínica”, explicam.

A equipa FCUP do PepTRAP inclui Ivo Dias e Sara Reis.
Já há vários anos que este grupo de cientistas tem vindo a dedicar-se a explorar alternativas farmacológicas para o tratamento da doença de Parkinson. Para o grupo, a distinção no BIP Proof é um reconhecimento do trabalho efetuado, e “terá um impacto muito significativo na progressão do projeto, permitindo a valorização e o desenvolvimento da tecnologia, reunindo mais evidências acerca do seu potencial terapêutico”, dizem.
O financiamento agora angariado permitirá, então, aumentar a maturidade da tecnologia e também atrair potenciais parceiros industriais para uma aproximação ao mercado. Numa primeira fase os 10 mil euros serão aplicados na aquisição de consumíveis e reagentes. Depois, será realizada “uma bateria de estudos in vitro, os quais são essenciais para caracterizar o perfil biológico destes moduladores e identificar os melhores candidatos para futuros estudos pré-clínicos em modelos animais da doença de Parkinson”, conclui Ivo Dias.
PEPILSKIN: um gel para aplicação direta nas feridas
Já o projeto PEPILSKIN, desenvolvido pela docente da FCUP, Paula Gomes e Ana Gomes, ambas investigadoras no LAQV-REQUIMTE na FCUP, e pelo investigador Ricardo Ferraz, do LAQV-REQUINTE e da Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto, pretende apresentar uma alternativa para as feridas crónicas, como as úlceras do pé diabético, úlceras varicosas ou escaras de doentes acamados, um problema grave e em rápido crescimento.
“As feridas crónicas são mais prevalentes em pessoas idosas e/ou com outras patologias associadas e, por isso, infetam facilmente, o que dificulta ainda mais a sua resolução. Isso é agravado pelo aumento alarmante de micróbios resistentes aos antibióticos”, explica Ricardo Ferraz. Acrescenta ainda que estas feridas provocam grande mal-estar físico e mental aos pacientes, obrigando a contínuas intervenções dolorosas, bem como a utilização frequente de antibióticos “cuja eficácia é cada vez menos garantida”.
Com o bem-estar desses doentes em mente, nasce o projeto PEPILSKIN, um produto inovador de aplicação tópica para a prevenção e tratamento de feridas crónicas. Falamos de um gel para aplicação direta nas feridas, baseado numa tecnologia recentemente desenvolvida por esta equipa de investigadores. “Através da tecnologia que desenvolvemos conseguimos suprimir a necessidade de usar antibióticos convencionais, substituindo-os por péptidos de origem natural que nós modificamos de forma a apresentarem, simultaneamente, ação antimicrobiana de largo espetro e efeitos cicatrizantes.”, explicam.
A principal mais-valia do PEPILSKIN é o “produto-base da formulação tópica e também as características da própria formulação para que seja aplicada de forma autónoma e indolor”, explicam os cientistas. O facto de estar baseado em péptidos e, por isso, isento de antibióticos convencionais, faz com que seja “menos provável o desenvolvimento de resistência microbiana”.
Para a equipa, o valor angariado no BIP Proof será fundamental para fazer avançar a tecnologia, aproximando-a ao mercado. “Tendo já sido demonstradas as ações antimicrobiana, cicatrizante, anti-inflamatória e antioxidante do nosso produto-base em feridas de ratinhos diabéticos, poderemos agora avançar para a criação de uma formulação (gel) adequada para aplicação precisa e indolor em feridas e que não cause reação adversa (dermatite de contacto) na pele saudável do paciente”, referem. Assim, os 10 mil euros serão aplicados na “otimização da formulação tópica, bem como na avaliação do seu potencial de indução de dermatite de contacto em pele humana”, concluem.