Quando pensamos em Geologia é fácil imaginarmos, rochas, botas e martelos geológicos. Mas há uma outra dimensão — menos visível, mas essencial — que também ajuda a revelar os segredos da Terra: o trabalho de laboratório. É aí que os geólogos passam muitas horas, em processos fundamentais e em análises para compreender o passado do nosso planeta. É o caso da geocronologia, que permite conhecer a idade e a história das rochas. Para isso, há muita dedicação no percurso da rocha até ao mineral.

Esse é o mote do Programa de Estágios Extracurriculares (PEEC) da FCUP dos estudantes Marco Lopes e Raquel Guimarães, no último ano do curso de Geologia. Todas as quartas de tarde, vão até ao Laboratório de Separação de Minerais do Instituto de Ciências da Terra (ICT). Vestem as batas, colocam as luvas e as máscaras e lançam-se à procura do zircão, um mineral que se encontra em rochas ígneas e metamórficas, como é o caso dos migmatitos

É com estas rochas que Joana Ferreira, investigadora do ICT e orientadora dos estudantes, tem trabalhado desde o mestrado. O zircão é a chave para se descobrir a idade destas rochas. 

“Estes migmatitos e granitos são de uma cadeia montanhosa muito mais antiga — de 360-370 milhões de anos no início da sua formação: a orogenia Varisca, que tem uma extensão de 3 mil quilómetros”, descreve Joana. “Não está oficialmente documentada na cartografia geológica nacional a ocorrência das rochas migmatíticas associadas a granitos e têm sido alvo de estudo nos últimos anos por várias equipas”, acrescenta. 

“O meu objetivo é estudar como e quando é que estas rochas se formaram e como se instalaram”, conta a também docente do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território. Começou por recolher, num afloramento em Fânzeres, Gondomar, cerca de 10 kgs destas rochas. 

Da rocha ao zircão

Após a recolha das amostras, Joana Ferreira moeu e peneirou as rochas, no Laboratório de Preparação de Amostras. O pó fino que resultou deste processo foi o ponto de partida para o trabalho PEEC de Marco e Raquel. 

Quando entramos no Laboratório de Separação de Minerais, vizinho do de corte e preparação de amostras, vemos filtros de café e máscaras. Para quê as máscaras? Uma questão de segurança e também de conforto. “O bromofórmio cheira muito mal”, dizem os estudantes. Esta é a primeira etapa: “Colocamos os balões nos braços metálicos com o bromofórmio e a rocha. O líquido vai ajudar a separar os minerais pesados dos leves, colocando os pesados no fundo do filtro. Depois deste procedimento, Marco e Raquel têm de deixar a substância química atuar. Separados os minerais, é altura de os passar para o Separador Magnético de Frantz. 

É ao mostrar como funciona este equipamento – que separa os que são magnéticos dos que não são – que concluem: “É muito trabalho para chegar a pequenos minerais. A parte dos não magnéticos, onde está o zircão, é mais reduzida e temos de repetir este procedimento muitas vezes”. 

A última fase do PEEC centra-se no Laboratório de Microscopia Ótica. A missão: separar o zircão manualmente com a ajuda de uma lupa binocular e de uma agulha. 

O zircão segue depois para análise externa fora de Portugal para fazer a datação através de isótopos de urânio e chumbo. Com estes isótopos é possível calcular a idade exata destas rochas. Um conhecimento científico para o qual Marco e Raquel contribuíram, ao mesmo tempo que enriqueceram o seu CV. 

Um PEEC para preparar o futuro

“O PEEC permite-nos conhecer a faculdade para além das aulas”, destaca Marco. O estudante de 21 anos, que sempre foi um apaixonado por Geologia e minerais, sabe bem o que quer para o seu futuro: “mestrado, investigação, de preferência fora de Portugal para ganhar mais contactos nesta área e depois doutoramento para ser professor universitário”. O seu objetivo é, antes de dar aulas, ter experiência em investigação e na área empresarial para depois poder ser melhor como docente. 

Os dois estudantes na reta final do curso estão a conciliar o PEEC com o estágio curricular. Marco está a fazer investigação nas minas de Regoufe e Raquel, na FCUP na área dos hidrocarbonetos (compostos orgânicos que se encontram no petróleo, por exemplo). 

Raquel diz que não é fácil conciliar os dois estágios, mas que tudo se consegue: “É preciso querer e ter força de vontade!”. O seu objetivo é também fazer mestrado e seguir o ramo empresarial ou de investigação. Ambos concordam com a importância de mostrar e aprender o lado prático da Geologia: “sabemos que existem vários tipos de argila, mas para que é isso importante numa frente de obra?”, exemplifica. 

Este é um dos mais de 100 estágios PEEC propostos para o ano letivo 2024/2025. Termina em junho deste ano. 

Sobre o PEEC 

O Programa de Estágios ExtraCurriculares (PEEC) fortalece a ligação dos estudantes à comunidade FCUP, através da participação ativa em projetos extracurriculares propostos por Docentes e Investigadores da FCUP e de Unidades de Investigação ou Unidades Orgânicas U.Porto suas parceiras.

Este programa é dirigido a estudantes que frequentam cursos de licenciatura, de mestrado ou de formação contínua e pode ser incluído como atividade complementar no Suplemento ao Diploma, aquando do requerimento de certidão de conclusão de curso.

Os projetos PEEC decorrem durante o segundo semestre, em período letivo, e envolvem um máximo de 6h de trabalho semanais.