Rolando Martins, 46 anos, estreou-se na docência no Departamento de Ciência de Computadores em 2016, depois de vários anos a trabalhar na indústria e na área de investigação entre Portugal e Estados Unidos. Na FCUP, está envolvido na coordenação de projetos na área da cibersegurança, é vice-presidente do C3P – Centro de Competências em Cibersegurança e Privacidade e conduz a sua investigação motivado para tornar o mundo da informática e tecnologia mais seguro e merecedor da confiança das pessoas. 

Departamento

Ciência de Computadores

Há quanto tempo trabalha na FCUP?

Desde 2016. Está a fazer 9 anos.

Qual a sua área de investigação?

Trabalho em cibersegurança. Dou um exemplo: na faculdade temos sistemas de bases de dados e a minha função é perceber como é que eles se interligam e fazê-lo de uma maneira segura. E agora tenho o desafio adicional de manter seguro, respeitando a privacidade dos dados. Esta área tem aplicações em tudo: podem ser em sistemas sofisticados de condução autónoma, em telemóveis, entre outros. Outro exemplo é uma patente que ajudei a registar, pela Universidade do Porto, com uma tecnologia para ajudar os telemóveis a trabalharem de forma cooperativa, evitando a sobrecarga do servidor. Pode ser usada num grande evento, num estádio de futebol, onde está a ser transmitido um vídeo de um replay que todos estão a ver ao mesmo tempo. Conseguimos que os telemóveis cooperem entre si e todos fiquem com a informação de forma mais descentralizada e segura. 

Como é o seu dia-a-dia na FCUP?

Geralmente tenho aquela primeira fase da manhã que é de resposta a e-mails, seguida de aulas (depende dos dias) e depois tipicamente reuniões com os alunos. Também tenho reuniões de projeto, sendo que o meu dia varia muito. Posso ter um dia mais dedicado a avaliações ou à escrita de projetos e artigos científicos e a seguir ter um dia com reuniões sucessivas. 

Neste momento tenho um projeto em mãos, de copromoção com a Bosch, que é o Atlas, que teve de ser reajustado, por vicissitudes do mercado. É um projeto mais abrangente do que o THEIA, que coordenei pela U.Porto, recentemente, sobre a condução autónoma. Na condução autónoma, há situações limite a serem previstas com necessidade de optar pelo menor de dois males e isso não devem ser os investigadores a decidir. Por isso, neste caso, o Atlas vai contar com investigadores da U.Porto das áreas da ética e do direito. Queremos melhorar a parte técnica ao nível da fiabilidade das soluções e da segurança, mas queremos também uma maior aproximação à parte legal e à parte ética. O objetivo é conseguir uma maior abertura à sociedade e ganhar a confiança das pessoas. 

Para além disso, tenho dedicado mais o meu tempo a preparar candidaturas de projetos sobre clouds descentralizadas e a soberania digital na Europa com parceiros internacionais, como um EIC Pathfinder, com a Universidade do Ártico, na Noruega, com a Universidade de Maryland nos Estados Unidos e outras universidades europeias. Estamos a ver como conseguimos, na parte dos dados, projetar, neste contexto, com uma arquitetura mais descentralizada, os princípios base europeus de respeito pela liberdade e privacidade, o que é difícil e desafiante. O objetivo é tornarmo-nos soberanos, face aos EUA, sobre os nossos dados e sobre as nossas atividades. 

Quais são os maiores desafios no seu trabalho?

A burocracia. Sem dúvida. Cria sobrecarga aos docentes e aos serviços. E também a falta de financiamento – as faculdades não têm dinheiro suficiente para fazer face às despesas e a meu ver isso não está a ser resolvido pelo atual Governo, nem o foi pelos anteriores. Procurar fontes de financiamento alternativas é um desafio e é importante este investimento para podermos dar melhor as aulas e para podermos fazer melhor investigação. Sem o financiamento de grandes projetos como o THEIA, com a Bosch, muita da reconversão tecnológica que nós fizemos não seria possível, por exemplo. 

O que gosta mais na nossa faculdade?

Da diversidade de áreas e da abertura e liberdade que me é dada para seguir o que acho que é o melhor caminho de investigação.

O que o inspira no seu dia-a-dia?

A investigação, os desafios intelectuais e a resolução de problemas. Se não conseguirmos resolver um problema, formulamos novas hipóteses para podermos ver as coisas de forma diferente.

Uma mensagem para a comunidade FCUP

Às vezes, para os estudantes, os trabalhos que damos podem parecer demasiado complicados e, quando há dúvidas, o apelo que deixo é que falem com os docentes e investigadores. É importante que tenham a perceção de que, quando dou um trabalho mais denso ou mais teórico, é porque estou a prepara-los para o futuro. Peço que confiem no processo porque esse trabalho pode dar a base para mais à frente poderem fazer aquilo que é mais prático, atrativo e interessante.

Aos docentes, diria para haver uma maior abertura e cooperação interdisciplinar para projetarmos o nosso conhecimento nas várias áreas e podermos comunica-lo para a sociedade e para a indústria. Ainda não nos mobilizamos o suficiente. Temos muito valor e devemos projeta-lo.