Renata Costa, 40 anos, é eletroquímica e investigadora no Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto (CIQUP). Com um percurso todo ele na FCUP, do seu trabalho poderão sair avanços para as baterias e supercondensadores do futuro, que se pretendem mais amigos do ambiente. Porque gosta de sair da zona de conforto, hoje em dia alia o entusiasmo da química à biologia molecular e também…à Economia e divide o seu tempo entre duas aplicações bem diferentes da eletroquímica: o desenvolvimento de baterias e supercondensadores com relevância para a Transição Energética e de biosensores para quantificar alergénios alimentares.
A rubrica “Meet the Staff” dá a conhecer quem são e o que fazem os membros da nossa Faculdade.
Departamento/Unidade de Investigação
Química e Bioquímica | CIQUP
Há quanto tempo trabalha na FCUP?
Vim para a FCUP estudar Química no ano letivo de 2001/2002 e depois fiz a monografia de licenciatura com o Professor António Fernando como orientador e o Professor Carlos Melo Pereira como coorientador, dois professores que sempre me deram independência científica e motivação para poder batalhar e encontrar uma área que me entusiasmasse. Nessa altura comecei a trabalhar nas interfaces eletroquímicas envolvendo líquidos iónicos. Continuei para o mestrado e depois para o doutoramento em química. Iniciei em 2009 a tese de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia sobre estudos de dupla camada elétrica, estrutura interfacial muito importante no funcionamento de um supercondensador/bateria.
Depois de aprofundar o meu conhecimento pela interface elétrodo/eletrólito com maior ênfase no eletrólito, durante o pós-doutoramento, foquei-me no desenvolvimento de materiais de elétrodo com elevada área específica. Desde 2019, sou investigadora contratada FCUP/CIQUP.
Qual a sua área de investigação?
Trabalho com interfaces eletroquímicas que envolvem eletrólitos não aquosos – líquidos iónicos. Os líquidos iónicos são um dos componentes fundamentais para o funcionamento de um dispositivo de armazenamento de energia, como uma bateria ou um supercondensador. São sais fundidos à temperatura ambiente constituídos por catiões e aniões e muito versáteis pois, através da combinação apropriada catião-anião, podem também ser aplicados em sistemas diferenciados para extração de diferentes compostos bioativos com relevante interesse na indústria farmacêutica.
Tenho vindo a propor modelos de dupla camada elétrica de líquidos iónicos, relevantes na validação das simulações teóricas destes sistemas, que proporcionarão avanços na compreensão da estrutura e dinâmica das propriedades interfaciais.

Componentes de uma coincell: um eletrólito (neste caso sólido) à direita com o elétrodo (à esquerda). Foto: SICC FCUP
Como é o seu dia-a-dia na FCUP?
Uma das coisas que mais me satisfaz é nunca saber como é que vai ser o meu dia. Diariamente oriento estudantes de mestrado e doutoramento. Também recebo estudantes de outras universidades, dos quais sou orientadora na FCUP e tenho também apostado na internacionalização, através de mobilidades Erasmus+ e IACOBUS. No meu dia, tenho de fazer o ponto de situação com os estudantes que estou a orientar, certificando-me que os resultados que estão a sair do laboratório são consistentes e que foram repetidos as vezes que são necessárias. Além disso, dou aulas em quatro Unidades Curriculares diferentes.
Tudo isto em paralelo com uma nova linha de investigação que iniciei e que é completamente independente do que tenho vindo a trabalhar: (bio)eletroquímica. Para isso, juntei todo este conhecimento adquirido ao longo dos anos a técnicas de biologia molecular com o objetivo de desenvolver interfaces eletroquímicas para aplicação em biosensores. Em conjunto com a Faculdade de Farmácia, tenho estado a trabalhar na elaboração de dispositivos analíticos importantes para pessoas que sofrem de alergias alimentares, com aplicações clínicas ao nível da e na indústria.
Neste momento também sou estudante…estou a frequentar um mestrado (pós-laboral) em Economia e Gestão do Ambiente na Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
Quais são os maiores desafios no seu trabalho?
Além de trabalhar com poucos recursos associados à precariedade do ecossistema científico português, é ainda lidar com uma grande multiplicidade de tópicos. Tenho de ter elasticidade de pensamento devido aos trabalhos a decorrer em simultâneo em duas áreas diferentes: quando estou a trabalhar no armazenamento de energia várias vezes tenho de fazer switch para a resolução de problemas associados ao desenvolvimento dos biosensores, por exemplo. É ter de ir do polo norte ao polo sul para poder dar uma resposta rápida e para isso é determinante a Ciência Fundamental como base da minha formação.

Renata Costa divide os seus dias em duas aplicações diferentes da eletroquímica: no desenvolvimento de baterias e supercondensadores e no desenvolvimento de biosensores para quantificar alergénios alimentares. Foto: SICC.FCUP
O que gosta mais na nossa faculdade?
É precisamente a multiplicidade de áreas. Espero que, no futuro, isso seja preservado porque é muito bom trabalhar num departamento em que temos uma grande diversidade de áreas com aplicações distintas. É muito enriquecedor, a nível profissional e pessoal, poder trabalhar com pessoas com competências diferentes das minhas e assim preencher lacunas da minha área de conhecimento. E, sobretudo, o que mais me agrada são as pessoas. Eu sou apenas uma peça nesta área que é a eletroquímica: as áreas fazem-se de um conjunto de peças e é também por isso que é preciso dar condições de trabalho digno às pessoas que trabalham em ciência diariamente.
O que a inspira no seu dia-a-dia?
O que me move é que hoje ainda não sei o que deveria saber. É poder no dia seguinte saber mais do que sabia no dia anterior. É também mover-me para fora do meu conforto científico. Por exemplo, quando faço mobilidade noutras universidades, nunca vou para a área da Química. No meu percurso académico também o fiz: tirei uma pós-graduação em Gestão e Políticas de Ciência e Tecnologia e mais recentemente, com o mestrado, dei um salto para fora de pé: tenho aulas de Economia do Ambiente, de Direito ambiental, Economia da regulação…áreas completamente diferentes e que exigem de mim. Esse é o meu combustível.
Uma mensagem para a comunidade FCUP:
Lutem sempre pelo que aquilo em que vocês acreditam!