Pedro Alexandrino Fernandes, 52 anos, trabalha com a ciência a 3D em projetos que vão desde a produção de medicamentos através do veneno das serpentes à biodegradação do plástico. É atualmente Diretor do Departamento de Química e Bioquímica, função à qual se juntam o ensino e a investigação. 

A rubrica “Meet the Staff” dá a conhecer quem são e o que fazem os membros da nossa Faculdade. 

Departamento

Química e Bioquímica

Há quanto tempo trabalha na FCUP?

Desde dezembro de 1999. Entrei como aluno da licenciatura em Química em 1989. Quando terminei o doutoramento, fiquei cá contratado como professor.  

Como é o seu dia-a-dia na FCUP?

Sou diretor de departamento e, por isso, a minha rotina é diferente do normal. Quando chego à FCUP, a primeira coisa que faço é dar aulas, que, por norma, são de manhã cedo. Depois, vejo o meu e-mail e tento responder a todos, bem como tratar de todos os assuntos administrativos que tenho pendentes. Depois, ao fim do dia, se tiver tempo, dedico-me à investigação e às reuniões com os estudantes que estou a orientar, que são cerca de 8. 

Na investigação, estou em dois grandes projetos ligados à bioquímica computacional: um sobre a química do veneno das serpentes e outro sobre a química dos plásticos. Tenho também trabalhos de investigação, em paralelo, focados na bioquímica de enzimas: que podem ser usadas, por exemplo, em processos industriais como a dessulfurização do petróleo ou para produzir componentes de química fina (moléculas muito complexas e muito caras, que podem ser aplicadas, por exemplo, à indústria farmacêutica). O meu trabalho passa por otimizar estas enzimas que existem em microrganismos (ou componentes dele) ou outros organismos vivos para produzir compostos químicos muito complexos. 

Quais são os maiores desafios no seu trabalho?

Do ponto de vista administrativo, o volume de trabalho é um problema. Outro desafio grande é o de conseguir mais alunos para o Departamento de Química e Bioquímica, que tem vindo a perder muitos estudantes da licenciatura em química. Arranjar formas de angariar estudantes para a licenciatura e para os mestrados é algo que ocupa muito do meu tempo. É um grande desafio! Quanto à ciência, o desafio maior é ter tempo para a fazer. A investigação não pode ser abandonada porque tenho responsabilidades para com os estudantes. 

O que gosta mais na nossa faculdade?

Em geral gosto das pessoas. Acho que a faculdade tem pessoas muito inteligentes, muito capazes, muito dedicadas, responsáveis, interessantes e com muito espírito de missão. 

Pedro Alexandrino trabalha na área da bioquímica computacional, por exemplo na otimização de enzimas e moléculas que é feita através de computador. Foto: SICC.FCUP

O que a inspira no seu dia-a-dia?

Inspira-me arranjar solução para problemas que geralmente são ignorados: como as doenças negligenciadas (como as dos países em vias de desenvolvimento) e os problemas ecológicos que são muito preocupantes. Para estes últimos, acho que, muitas vezes, se não forem os químicos a arranjar soluções ninguém vai arranjar. Também me inspira a curiosidade natural para entender como é que a vida funciona, olhar para os fenómenos e pensar como é que tudo funciona ao nível molecular.  

Uma mensagem para a comunidade FCUP:

Dirijo-me aos estudantes que são o futuro: os nossos são excelentes e fico muito contente quando os vejo a irem para o estrangeiro e a destacarem-se entre os melhores do mundo. É raro um estudante ir para o estrangeiro e não recebermos um feedback do quão realmente extraordinários eles são. Têm um enorme potencial! Podem às vezes estar desmotivados, por não terem encontrado ainda um sentido para o que estão a fazer, mas quando se empenham não ficam atrás dos melhores estudantes de nenhum local do mundo. 

A molécula da sua vida:

A sua pergunta é muito difícil porque tenho muitos amores entre as moléculas. Por exemplo, as moléculas que atuam no cérebro e provocam emoções tais como a dopamina ou serotonina, as endorfinas ou a oxitocina, fascinam-me especialmente, porque me fazem questionar sobre a natureza humana. Por exemplo, a felicidade e o bem-estar é fundamentado na consciência, ou é mero produto maquinal de reações químicas no cérebro? Ou uma mistura de ambos?