Entrou como estudante na FCUP em 1973 e ainda hoje mantém a curiosidade e a motivação para a ciência que tinha no início da sua carreira. João Lopes dos Santos, que recentemente tomou posse como Presidente do Conselho Científico da FCUP, falou-nos sobre os seus desafios e dia-a-dia. 

Departamento 

Física e Astronomia

Há quanto tempo trabalha na FCUP?

Há mais de 40 anos. Comecei a lecionar na FCUP como Monitor em 1977.

Como é o seu dia-a-dia na FCUP?

O meu dia-a-dia é muito ocupado com um tempo significativo a responder a e-mails relacionados com gestão, burocracia e direção de curso. Neste momento, estou apenas a orientar uma estudante de doutoramento na área da computação quântica. Dedico a maior parte do tempo a dar aulas e a prepará-las.

Estou também envolvido num projeto financiado pela FCT na área de ótica não-linear para materiais bidimensionais, como é o caso do grafeno e também da dupla camada de grafeno. É um projeto teórico que tem uma componente de trabalho experimental liderada pelo Professor Helder Crespo. O grafeno foi o primeiro exemplo a surgir destes materiais bidimensionais e, desde que foi descoberta a possibilidade de isolar uma única folha de grafeno e de estudar as respetivas propriedades, que tenho estado mais ligado a esta área. Estamos interessados em estudar a resposta à luz. Este material tem a vantagem de se poder tornar uma fonte de luz com características novas. Por exemplo, têm sido feitos estudos experimentais para fazer incidir radiação de uma determinada frequência numa folha de grafeno e de lá sai radiação com o triplo da frequência, o que é especialmente útil para o desenvolvimento de lasers ultra-rápidos.

Ter um material novo é como se tivéssemos uma ferramenta nova. Para além do grafeno ter sido o primeiro a surgir, tem características quer mecânicas quer elétricas bastante invulgares e com potencial de aplicação. Serve, por exemplo, para fazer sensores, pode ser utilizado para filtragem ou usado no fabrico de ecrãs desdobráveis.

Quais são os maiores desafios no seu trabalho?

Tenho agora o desafio de ser Presidente do Conselho Científico, um órgão muito importante para a faculdade e que garante, por exemplo, a aprovação de novos cursos e planos de estudos e também a contratação do corpo docente e investigadores.

Recentemente fui também desafiado a coordenar a criação de um mestrado conjunto com a Universidade de Roma, Paris-Saclay e Toronto. O QUAntum Research Master-Level Education Network, QUARMEN, terá início no próximo ano letivo. Tivemos quase 200 candidatos e estamos neste momento em fase de seleção. Os estudantes têm de se deslocar entre universidades e isso é muito interessante. O Porto revelou-se atrativo para muitos candidatos que já selecionaram a FCUP como preferência para frequentar as aulas do 2º semestre. Foi um desafio fazer um curso que esteja à altura das exigências e da responsabilidade de um mestrado desta natureza, financiado pela Comissão Europeia, e com estudantes de alta qualidade.

O que gosta mais na nossa faculdade? 

Dos estudantes e da oportunidade de os ajudar a adaptar-se e colocar-lhes alguns desafios. Dá-me também muita satisfação em aprender para ensinar e perceber qual é a melhor maneira de os motivar.

O que o inspira no seu dia-a-dia?

Não escolhi uma carreira, escolhi um assunto: a Física. Quando aparecem novidades, eu continuo a ter a mesma curiosidade que tinha aos 20 anos. Além da satisfação de trabalhar com os estudantes, gosto de me sentir desafiado a aprender coisas novas e ter oportunidade de passar este conhecimento que vou adquirindo a estudantes de mestrado, por exemplo, é algo que me motiva bastante. Também gosto muito de escrever e, sempre que tenho oportunidade, vou escrevendo sobre os cursos que leciono. Tenho milhares de páginas escritas relacionadas com cursos que dei e com trabalhos que fiz com professores do Ensino Secundário. São reflexões e, no fundo, uma tradução daquilo que foi a minha aprendizagem.

Uma mensagem para a comunidade FCUP: 

Nós, como comunidade FCUP, temos de olhar com muita atenção para o ambiente que está à nossa volta, para os estudantes que estamos a formar, para as suas carreiras e para a grande quantidade de investigadores que nos ajudam e que não estão a ter o reconhecimento devido pelo esforço e pelo trabalho que fazem em prol da Faculdade de Ciências. Temos de tentar pensar em maneiras de alterar os procedimentos de forma a que estas pessoas possam ser reconhecidas.

Considero que a existência de um número muito elevado de pessoas que têm situações de trabalho muito precárias é um dos maiores desafios das faculdades. Refiro-me a um grande número de investigadores que têm contratos de trabalho precários e estão em idades que já não são compatíveis com essa situação. É um desafio muito grande para a Universidade conseguir proporcionar-lhes um sentido de pertença e sinto que a Universidade tem falhado redondamente nesta área. A meu ver, é o problema mais sério que a UP enfrenta.

 

Entrevista originalmente publicada a 10 de maio de 2022.