Catarina Dias, 32 anos, investigadora, está na Faculdade de Ciências desde os 17, quando escolheu estudar Engenharia Física. Não queria fazer investigação, mas ainda assim experimentou o programa de estágios PEEC. Conheceu a área da nanotecnologia e foi amor à primeira vista. Desde então trabalha no Instituto de Física de Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica (IFIMUP) com dispositivos à nanoescala capazes de reproduzir o comportamento de aprendizagem e memória no cérebro humano. No futuro, podem ser usados para tratar doenças neurodegenerativas, como Parkinson, Alzheimer e Epilepsia. 

A rubrica “Meet the Staff” dá a conhecer quem são e o que fazem os membros da nossa Faculdade. 

Departamento/Unidade de Investigação

Física e Astronomia | IFIMUP

Há quanto tempo trabalha na FCUP?

Estou na Faculdade de Ciências desde os meus 17 anos, quando vim estudar Engenharia Física, e, foi ainda durante o Mestrado Integrado que comecei a trabalhar em investigação através do PEEC (Programa de Estágios Extra Curricular). Segui para o doutoramento em Física e  o meu primeiro contrato de investigação surge em 2019. Como investigadora, assinei recentemente contrato a propósito do Programa Estímulo da Fundação para a Ciência e Tecnologia. 

Como é o seu dia-a-dia na FCUP?

O meu dia de trabalho pode variar muito. O que mais gosto de fazer é ir para o laboratório e para a Sala Limpa [sala com um ambiente controlado e livre de partículas para permitir a fabricação de dispositivos ultra­pequenos com elevada performance] fazer medições, por exemplo. Mas, parte do meu tempo é também ao computador: a analisar e perceber os resultados desse trabalho ou a escrever artigos e de propostas de projetos para conseguir financiamento. Em paralelo, é muito frequente haver troca de contactos com a equipa, investigadores, estudantes, quer em reuniões formais quer em modo mais informal, o que também é muito enriquecedor. 

Semanalmente, tento acompanhar a literatura [trabalhos de investigação realizados e publicados] porque é uma área muito dinâmica e nós temos de estar a par para garantir que estamos a fazer algo diferente. Além disso, uma vez por semana dou aulas no DFA na Unidade Curricular de Laboratório de Física III. 

De vez em quando, ausento-me da Faculdade, para participar em conferências científicas ou para fazer trabalho experimental. 

A investigadora da FCUP e IFIMUP trabalha com dispositivos à nanoescala capazes de reproduzir o comportamento de aprendizagem e memória no cérebro humano. Foto: SICC.FCUP

Quais são os maiores desafios no seu trabalho?

Gostava de dizer que o meu maior desafio é desenvolver dispositivos à nanoescala, que não é de todo trivial, mas, infelizmente, muitas vezes, os nossos maiores desafios são conseguir financiamento. E é ele que assegura o nosso salário e os recursos para fazermos a nossa investigação. Envolve muito tempo a escrever propostas, muitas incertezas, para saber se podemos ou não contratar estudantes, e muita burocracia. Temos de lidar com o “não” diariamente e essa é a parte mais desafiante. Porque o “sim” não é garantido, não podemos esperar até ao último ano de um projeto para apresentar novas candidaturas. Cada “Call” de propostas que há, nós concorremos. 

O que gosta mais na nossa faculdade?

Da diversidade que a Faculdade de Ciências proporciona e das pessoas. Há a oportunidade de estar em contacto com pessoas de outras áreas e ouvir falar de outras assuntos que não os da nossa área. O que valorizo muito, neste caso no DFA, é a existência de técnicos muito especializados que facilitam o nosso trabalho. Graças a eles, a nossa criatividade científica não tem limites. Por exemplo, posso querer desenvolver um protótipo ou um sistema de medidas e tenho a ajuda das oficinas quer de Mecânica, quer de Eletrónica, que nos dão essa possibilidade e nos ajudam. São indispensáveis para o nosso trabalho e aprendo imenso com eles. 

Catarina Dias trabalha com dispositivos microfabricados em cima de silício. Os quadrados visíveis são os pontos de contacto metálico para as medidas elétricas. Foto: Catarina Dias

O que a inspira no seu dia-a-dia?

Aprender! Com a investigação, passo os meus dias a aprender sobre uma área que me fascina. Desmontar algo desde a mecânica à computação e perceber como funciona e de que é feito. Fascina-me como o ser humano pôde criar coisas que não existiam na natureza: juntar componentes e fazer com que tudo funcione. 

Uma mensagem para a comunidade FCUP:

Não nos esqueçamos disso mesmo: que somos uma comunidade. As pessoas são o bem mais importante para uma instituição. É a cooperação e sinergia de trabalho entre estudantes, funcionários, professores e investigadores que gera valor e inovação. Não são só os investigadores ou professores. E uma equipa satisfeita e motivada consegue coisas incríveis!

Viagem de sonho:

Todas! Não digo que não a viagens, porque aprendemos imenso! Gostava de ir à América do Sul e à Patagónia. Mas na verdade não tenho nenhum sítio onde não queira ir. Felizmente, no nosso trabalho viajamos imenso. Mas mesmo a nível pessoal, o meu dinheiro é investido em viagens e comida porque são experiências e isso é o que nós levamos da vida.