Heliobolus bivari e Heliobolus crawfordi. Assim se chamam as duas novas espécies de lagarto descobertas no sul de Angola e recentemente apresentadas ao mundo num estudo publicado na revista Vertebrate Zoology, por uma equipa de investigação internacional, liderada por Mariana Marques, estudante de doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), colaboradora do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP) e investigadora do CIBIO-InBIO/BIOPOLIS – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da U.Porto, e por Luis Ceríaco, curador-chefe do MHNC-UP e também colaborador do CIBIO-InBIO.
As duas novas espécies foram batizadas em homenagem aos biólogos António Bívar-de-Sousa, especialista no estudo das borboletas de Angola, e João Crawford-Cabral (recentemente falecido), especialista em mamíferos de Angola e um dos responsáveis por uma das maiores e mais importantes coleções zoológicas em Angola – a de mamíferos do Lubango, na província da Huíla.
Quem, como e onde?
As duas novas espécies pertencem ao género Heliobolus, um grupo de lagartos endémicos da África subsaariana, característicos pelo padrão em forma de Y na região da nuca, com três visíveis e contínuas bandas amarelas, que contrastam, na coloração castanho-clara a alaranjada do dorso.
Ambas as espécies são endémicas do sul de Angola mas surgem em zonas distintas. A Heliobolus bivari verifica-se apenas no sul da província do Namibe, em partes das províncias da Huíla e Cunene, enquanto a espécie Heliobolous crawfordi aparece nas zonas mais montanhosas a norte das províncias do Namibe, Benguela, e Kwanza Sul.
Um dos locais onde esta última foi observada foi na Serra da Neve, uma das áreas mais remotas e inexploradas de Angola, local também escolhido por Luís Ceríaco, para o projeto de exploração financiado pela National Geographic Society.
Estratégias de sobrevivência
Segundo o estudo agora conhecido, os juvenis da espécie Heliobolus crawfordi apresentam uma coloração muito diferente da dos adultos – um dorso negro com algumas listas brancas – que imitam na perfeição a coloração de escaravelhos-bombardeiros do género Anthia. Estes escaravelhos são conhecidos por pulverizarem ácido fórmico contra os predadores como mecanismo de defesa.
Para confundirem os predadores, os juvenis deslocam-se com o dorso arqueado, para imitar ainda mais a aparência geral dos escaravelhos, tornando-se, assim, pouco apetecíveis a quem os vê como refeição.
Os investigadores assumem que a Helibolus bivari assumirá o mesmo tipo de comportamento.
As duas espécies foram descritas com base em métodos morfológicos, de coloração e filogenéticos. Diferem uma da outra pelo número e contacto entre escamas, pela presença ou ausência de marcas na margem posterior do olho; ou pela presença ou ausência de manchas amarelas na zona ventro-lateral.
Geneticamente, segundo informam os genes mitocondriais e nucleares analisados, as duas espécies apresentam uma consistente diferença genética.
Este trabalho foi realizado no âmbito das colaborações existentes entre o CIBIO-InBIO, universidades norte-americanas, parceiros angolanos e outras instituições internacionais.
Esta é, de resto, mais uma da já extensa lista de espécies novas para a ciência encontrada na última década em Angola. Entre elas inclui-se o Acanthocercus ceriacoie, uma espécie de lagarto angolano revelada em março passado por uma equipa liderada por Mariana Marques, e batizada em homenagem a Luís Ceríaco, como forma de reconhecimento pelo trabalho que o Curador-Chefe do MHNC-UP tem vindo a desenvolver com a biodiversidade africana.
Os investigadores acreditam, contudo, que há mais espécies prestes a ser reveladas. Há mais descobertas em fase de estudo e publicação.