Estávamos no início dos anos 2000, quando a bióloga e docente da Faculdade de Ciências da U.Porto, Maria João Santos, decidiu aprender a ilustrar. Viajou do Porto a Aveiro para ter formação com os ilustradores Fernando Correia e Nuno Farinha. Foi aí que nasceu uma paixão que viria a dar origem ao Curso de Especialização em Ilustração Científica – Ilustração em Ciências Naturais da Universidade do Porto, cujas candidaturas estão abertas para uma nova edição em 2025-2026.
Começou por trazer ao Porto pequenos cursos de ilustração científica realizados no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), onde é investigadora. Em 2016, ao lado de Francisca Cavaleiro, alumna e colaboradora da FCUP, aceitou o convite da Biblioteca da Faculdade de Ciências para, neste local, organizar uma exposição de ilustração científica. Pensada para durar apenas alguns meses e acabou por estar patente durante dois anos.

Maria João Santos, bióloga e docente da FCUP, foi uma das fundadoras do curso de ilustração científica na U.Porto. Foto: SIC.FCUP
“E porque não criar um curso no Porto?”, pensaram. O curso de especialização, com duração de um ano e em colaboração com a Faculdade de Belas Artes, teve a sua primeira edição em 2018-2019.
Atualmente, são duas das melhores alunas desta edição que passam esta paixão aos novos estudantes. Helena Baptista, formou-se em Biologia na FCUP, mas sempre gostou de artes. Assim que soube do curso, percebeu que ali surgia a “oportunidade perfeita” para aliar arte e ciência.
Teve como professor Pedro Salgado, considerado o pai da ilustração científica atual em Portugal e no qual o curso muito se inspira. Conta que esta formação lhe abriu as portas de “um novo mundo”. “Além de adquirir competências técnicas fundamentais, pude dedicar tempo a aperfeiçoar as minhas habilidades artísticas e a explorar diferentes métodos de representação científica”, partilha a alumna da FCUP.
Não é preciso escolher entre arte e ciência
A trabalhar como formadora e consultora em I&D e inovação, revela que nesta área consegue aplicar muitas competências adquiridas na ilustração científica, sobretudo na “comunicação clara e eficaz de conceitos técnicos”.
Ensinar neste curso depois de ter sido aluna tem sido “gratificante” e tem agora como missão mostrar às gerações mais novas que, quem tem paixão pela ciência e arte, não precisa de escolher: “as duas podem coexistir de forma muito harmoniosa”.
A par de Helena, também Isabel Leal — formada em Arquitetura Paisagista na FCUP — integra a equipa de formadores do curso.
Já Luísa Jorge é a prova de que esta formação faz nascer ilustradores profissionais. Mestre em Ecologia e Ambiente pela FCUP, Luísa trabalha no Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e soube do curso através de uma pesquisa no Google. Candidatou-se e foi uma das formandas da edição 2023-2024. Desde então a ilustração passou a fazer parte do seu dia a dia e já tem realizado várias exposições em nome próprio. No futuro, quer “dedicar mais tempo à ilustração como trabalho profissional e continuar a comunicar – através de palestras e na academia”.
A riqueza de poder desenhar “ao vivo” plantas e animais
João Oliveira, aluno da edição de 2022-2023 está agora a frequentar o mestrado em Bioquímica na FCUP, e recorda a “experiência valiosa” do curso, sobretudo as saídas de campo.
“Ir a parques e vários outros locais ajuda a diversificar as nossas competências porque há muito dinamismo ao ver se os animais a mexer-se e constitui um desafio extra”, conta. As aulas do curso dividem-se entre a FCUP e diversas saídas de campo a locais como o Jardim Botânico do Porto, Sealife, Parque Biológico de Gaia, entre outros.
João sempre gostou de desenhar e construiu um portfólio de propósito para se poder candidatar. De uma partida sem muita experiência, destaca a aprendizagem de várias técnicas de ilustração científica, pois há muitas formas diferentes de desenhar: desde do uso do lápis à tinta-da-china, até a uma técnica – o scratchboard – que recorre a um chisato ou agulha para fazer surgir o desenho. Esta última é uma das suas preferidas e também uma das que Maria João Santos mais aprecia.
Candidaturas abertas para a próxima edição
No seu gabinete, a professora já reúne os trabalhos da última edição prontos para integrar a exposição ILUSTRA UP III, que decorrerá na Galeria da Biodiversidade, e que será inaugurada a 19 de julho. Fala do curso com um brilho nos olhos e fala das três edições do curso com orgulho, pois delas resultaram “trabalhos de muita qualidade”.
No final de cada edição, a professora da FCUP procura sempre expor os trabalhos, por norma na Casa Comum, da Reitoria da Universidade do Porto, na FCUP, no CMIA de Matosinhos, no CMIA de Vila do Conde e em escolas secundárias.
As inscrições para a próxima edição, que arranca em setembro de 2025, estarão abertas de 11 de junho até 14 de julho. Será a segunda fase de inscrições, havendo ainda uma terceira oportunidade para concorrer.
O curso, criado com o apoio dos docentes da Faculdade de Belas Artes, Mário Bismark e Paulo Almeida, e de José Luís Santos — à data vice-diretor da FCUP e diretor da Biblioteca —, é aberto a todas as áreas e níveis de formação de qualquer faculdade. Entre os formadores estão jovens ilustradores, com diversas formações de base, desde a Biologia à Arquitetura Paisagista, passando também pelas Belas Artes e o Design, e que têm formação na área da ilustração científica.
Tem atraído estudantes das Ciências às Belas Artes, conta com mais de 30 alunos formados e dezenas de trabalhos expostos. Maria João Santos quer continuar a partilhar a sua paixão pela divulgação e ilustração científica — e sonha com a transformação deste curso no primeiro mestrado em Ilustração científica no país.